segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Precisamos falar sobre o Kevin

(We need to talk about Kevin, EUA, UK, 2011) Direção: Lynne Ramsay. Com Tilda Swinton, John C. Reilly, Ezra Miller.



Uma das frases clichê proferida a respeito da criação de filhos é aquela que diz que “quem não o faz chorar no presente, chora por ele no futuro”. Esse pensamento martelou minha mente durante boa parte da projeção de Precisamos falar sobre Kevin, novo filme protagonizado por Tilda Swinton. Será mesmo que uma criação calcada na punição através de castigos, palmadas, cintos ou retaliações mais duras ajudaria a manter uma criança mais centrada no bom comportamento? Muitos tenderiam a dizer que não. No entanto, a percepção de um problema de não adaptação social que migra da infância para adolescência requer um cuidado bem maior do que o visto na criação do pequeno Kevin. Algo que a violência não resolveria, como poderemos comprovar no filme.

Eva (Swinton) sempre possuiu o espírito aventureiro. As imagens que abrem o longa com ela na famosa festa espanhola da Tomatina, onde milhares de pessoas guerreiam com tomates até as ruas virarem um mar com a polpa do legume, classificam bem seu comportamento fora das convenções sociais. Quando conhece Franklin (John C. Reilly) e se apaixona, não tarda muito a engravidar. Kevin nasce em um lar feliz. Os pais se mudam para uma bela casa no subúrbio, mas é perceptível que Eva não possui vocação para ser mãe. Esse julgamento pode parecer precipitado, uma vez que é comum algumas mulheres perderem o controle emocional com a depressão pós-parto e as dificuldades para criar um recém nascido. Porém, as falas da mãe para com o bebê confirmam essa teoria. “Se você não tivesse nascido, mamãe estaria na França, agora”.

Eva em sua fase de liberdade antes do casamento
Kevin, apesar de ser um bebê saudável, chora o tempo todo, levando a jovem mãe ao desespero. Em uma cena non sense, ela pára em frente a uma britadeira no intuito de encobrir o barulho da criança com o som da máquina. Não tarda muito a desconfiarem de possíveis problemas auditivos ou de fala no garotinho. Até um possível autismo. Mas nada é diagnosticado. Kevin, excetuando o fato de não responder aos impulsos da mãe e ainda usar fraldas em uma idade já avançada, é uma criança normal. Ocorre que comportamentos maliciosos e provocativos, como o de já possuir controle de suas funções fisiológicas e, ainda assim, usar as fraldas para provocar Eva ou o de usar um momento de raiva de sua mãe (o que gera sequelas físicas no garoto) para chantageá-la emocionalmente, acaba por mostrar que Kevin possui um comportamento social que poderá evoluir para algo bem mais grave no futuro.

Mesmo ausente, Franklin, o pai, se esforça para manter um ambiente harmonioso em sua família. Apesar de ser manipulado por Kevin, que se comporta de maneira diversa na presença dele, Franklin não percebe a crescente psicopatia do filho para com Eva. Aliás, ele nem chega a perceber a segunda gravidez da esposa, algo que denota bem sua ausência. Quando ouve Eva culpar Kevin por certo ato que acaba levando a um acontecimento grave com a caçula do casal, Franklin se nega a cogitar que seu filho tenha alguma culpa no ocorrido.

Apáticos, Eva e Franklin tentam administrar os crescentes problemas domésticos
Utilizando de forma um tanto óbvia (mas eficiente) a cor vermelha como uma representação da trágica vida de Eva, a diretora Lynne Ramsay cria uma rima visual que torna esse simbolismo uma ótima maneira de mostrar como o ato final de Kevin impactou a vida de sua mãe. Desde a cena inicial, quando Eva se encontra imersa nos tomates, até sua obstinada limpeza da fachada de sua casa recentemente vandalizada (numa clara metáfora da necessidade de limpar sua própria vida), o vermelho se faz presente como uma lembrança dolorosa de Kevin. Deste modo, a relação entre mãe e filho é trabalhada de forma a torná-los dependentes um do outro, algo bem revelado pelas cenas onde vemos fusões nos rostos dos dois, por exemplo. E o filme, que mantém como surpresa a ação do adolescente até os seus momentos finais, torna perturbadora a ansiedade por esse desfecho, uma vez que os flashbacks e a narrativa fragmentada mantêm o espectador ciente de que algo muito grave está por vir.

O maior mérito da produção é o de exibir as sequelas que a ação do rapaz trouxe para sua mãe. É através dela que conhecemos a outra face de uma tragédia: a de quem fica. A de quem vai sofrer todas as ações de culpa pelos atos de seu descendente. Hostilizada pelas pessoas nas ruas e excluída socialmente através de uma ação que fugiu ao seu controle, Eva se vê sozinha em um mundo onde não conseguirá se readaptar. Curiosamente, é no abraço daquele que provocou sua desgraça que ela encontrará o único consolo para seus erros. 

sábado, 28 de janeiro de 2012

J. Edgar

(J. Edgar, EUA, 2011) Direção: Clint Eastwood. Com Leonardo DiCaprio, Armie Harmer, Naomi Watts, Judi Dench.



Após visitar a biografia do jazz man Charlie Parker e um dos momentos mais marcantes da trajetória do ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, Clint Eastwood volta sua lente para outra figura que ajudou a compor o século XX. Dessa vez, o veterano diretor investigou a vida de John Edgar Hoover, chefe do FBI durante 48 anos. Na figura envelhecida (e ineficiente) de Leonardo DiCaprio, a produção começa com a imagem do homem revivendo suas memórias. E será através de diversos flashbacks que o filme focará a vida pessoal por trás da (perceptível) falsa fachada de durão que J. Edgar transpareceu durante toda sua vida.

O filme retrata a vida do jovem John Edgar desde o começo de sua carreira profissional, em 1919, no Departamento de Justiça dos Estados Unidos, local onde passou a investigar estrangeiros em solo americano seguindo toda a paranóia comunista que começava a rondar o solo ianque e que culminaria com a ascensão do senador Joseph McCarthy na famosa “caça às bruxa” dos anos 1950. Mostrando a motivação do protagonista contra os partidários bolcheviques de forma maniqueísta, Eastwood foca a origem desta dedicação anticomunista enquadrando-os como terroristas, uma vez que o longa já se inicia com um atentado a bomba na casa de um dos superiores de Edgar. Ou seja, o diretor acaba demonstrando certa preguiça ao exibir somente no lado americano das intenções políticas da época.

A ineficiente maquiagem transforma o jovem DiCaprio na figura idosa de Hoover
A partir das palavras do próprio Edgar, conhecemos sua trajetória profissional na caça aos famosos gangsters queridinhos da mídia, como John Dillinger, Pretty Boy Floyd e Baby Face Nelson. Em um dos melhores momentos do filme, vemos a decepção de Hoover ao perceber que os vilões da história, ou seja, os gângsteres, acabam se tornando os heróis com a ajuda do cinema. Após exibir um discurso de Edgar em uma sessão de cinema (onde foi vaiado, inclusive), Eastwood utiliza cenas de Inimigo Público, filme da Warner, de 1931, no qual James Cagney interpretava criminoso, o que acaba colaborando com a ascensão dos elementos como heróis da mídia. 

Através de eficientes (porém previsíveis) elipses, o filme viaja durante todo o período em que Edgard esteve na direção do Bureau. Eastwood, através do roteiro de Dustin Lance Black (Milk) consegue captar bem toda a insegurança pessoal que havia por trás da fachada rígida e, supostamente, impenetrável de Hoover. Um homem inseguro, que cogita pedir a mão de uma garota em casamento após o primeiro encontro, pois precisa provar para si mesmo que é heterossexual. A garota em questão, Helen Gandy (Namoi Watts) passa a acompanhar o chefe do FBI durante todos os seus 48 anos de gestão.

Em uma atuação que, perceptivelmente, acaba se apoiando na maquiagem deficiente (algo que se estende para todos as versões idosas dos elenco principal), DiCaprio utiliza diferentes entonações na voz para demonstrar toda a fragilidade da personalidade do seu protagonista. E se soa deslocado ouvir a mesma voz jovial do ator em uma imagem plástica e envelhecida, é na versão jovem do chefe do FBI que ele consegue se destacar melhor. Procurando falar sempre rápido para que não percebam sua evidente gagueira quando está nervoso, DiCaprio consegue exibir toda a fragilidade do personagem ao inserir curtas pausas para recomposição antes de continuar seus discursos.

O atormentado Edgar entre conservadorismo materno e sua paixão  
Contando com uma reconstituição de época e de figurino primorosa, J. Edgar apresenta o  período de toda primeira metade do século XX de modo competente, algo que já é esperado nos trabalhos de época que o diretor decide realizar (basta observar o recente A Troca). E é realmente prazeroso vê-lo inserir na trama todos aqueles personagens históricos como o aviador Charles Lindbergh, que teve seu bebê raptado e o seqüestrador encontrado pela equipe chefiada por Edgar. Além dele, o filme trabalha bem figuras como a de Robert Kennedy e Franklin D. Roosevelt.

Claro que muito do mérito e ousadia da produção em trabalhar os conflitos internos do protagonista com suas preferências sexuais se deve ao trabalho de Black, conhecido também pelo seu ativismo na defesa dos direitos dos gays. É justamente a sutileza com que esse incômodo do personagem com sua homossexualidade não assumida é trabalhada que mostra a maturidade perceptível da direção de Eastwood. Ao manter todas as cenas entre Hoover e seu assistente, Clyde Tolson (Armie Hammer, de A Rede Social), com uma palpável tensão sexual, o diretor acerta em algo que, friso, denota o principal desconforto de J. Edgar em sua vida pessoal. Afinal, o que esperar de um homem repleto de problemas com sua personalidade, que devotou à sua mãe conservadora (Judi Dench) toda atenção e apego, uma mulher que afirmou preferir ver o filho morto a homossexual? E nesse ponto, o roteirista acerta novamente ao relacionar a progenitora do protagonista como uma das explicações do folclore por trás dos hábitos de Hoover em se travestir.
E é justamente esse o mérito do filme e do próprio Eastwood. Um diretor conhecido como conservador que soube apresentar de forma sensível o principal ponto a ser discutido da vida de um mito de caráter duvidoso e atitudes hipócritas: suas guerras psicológicas. 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Millennium - Os Homens que não amavam as mulheres

(The Girl with the Dragon Tattoo, EUA, 2011) Direção: David Fincher. Com Daniel Craig, Rooney Mara, Christopher Plummer, Stellan Skarsgard, Robin Wright, Ulf Friberg.


Adaptação americana do best seller The Girl With the Dragon Tattoo, escrito pelo sueco Stieg Larsson, Millennium- Os Homens que não amavam as mulheres é, definitivamente, um trabalho exato para o apuro técnico na direção que os filmes de David Fincher sempre demonstram. A começar pela brilhante introdução dos créditos iniciais que, ao som de Immigrant Song, apresenta um cenário high tech em uma eficaz analogia da podridão humana que o jornalista vivido por Daniel Craig e a hacker interpretada por Rooney Mara irão testemunhar. A versão da canção do Led Zeppelin, executada por Karen O e Trent Reznor (do Nine Inch Nails, em sua segunda parceria com Fincher), confere desde os segundos iniciais da produção, uma identidade soturna que veremos se desenvolver durante todos os 158 minutos do longa.

Ainda não li o livro no qual foi baseado o filme. Ele, inclusive, já teve uma primeira adaptação cinematográfica em 2009, com Noomi Rapace no papel da hacker Lisbeth. Com a versão de David Fincher e o roteiro de Steven Zaillian, houve a criação de uma atmosfera claustrofóbica com um crescente clima de tensão que se mantém até o surpreendente final. Apesar de bastante eficiente, faltou justamente essa ambientação à versão sueca. Enquanto o filme de Fincher investiu em uma fotografia propositalmente escura que, mesmo nas cenas externas onde a neve poderia gerar um cenário menos ameaçador, há um intenso clima de desconforto. Já o filme de Niels Arden Oplev possui diversas cenas em dias ensolarados, o que acaba não colaborando muito com as intenções de suspense que o longa almeja.

A história narra a investigação do jornalista sueco Mikael Blomkvist (Craig) na tentativa de desvendar o desaparecimento de uma adolescente ocorrido na década de 1960. Mikael, um dos sócios da revista Millennium, acaba de perder um processo judicial no qual foi acusado de calúnia e difamação ao investigar os negócios duvidosos do milionário Hans-Erik Wennerstrom (Friberg). Sua carreira como jornalista investigativo acaba sofrendo um impacto no qual suas finanças e reputação serão totalmente abaladas. Para piorar a situação, ele também é afastado do periódico pela sua editora (e amante) Erika Berger (Wright). É quando recebe o convite para sair de Estocolmo e viajar até Hedestead, também na Suécia, onde receberá do bem sucedido empresário Henrik Vanger (Plummer) o trabalho de investigar o desaparecimento de sua sobrinha Harriet, a quem ele procura desde o final dos anos 60. Com a possibilidade de conseguir um aliado no processo legal contra Wennerstrom e ainda ser bem pago pelo seu ofício de jornalista, Mikael aceita a proposta apesar de ter que se mudar para a cidade que, devido ao frio intenso, parece estar localizada no Pólo Norte.      

Henrik Vanger (Plummer) coloca Mikael (Craig) a par do desaparecimento de Hanriet
A investigação de Mikael esbarra na dificuldade de coletar informações das principais fontes envolvidas no processo. Para seus familiares, Vanger inventou o álibi de que o jornalista está escrevendo sua biografia. No entanto, alguns deles sabem do interesse do empresário em desvendar o sumiço de sua sobrinha. Ele, inclusive, desconfia que um dos seus parentes, totalmente anti-sociais e, alguns, anti- semitas, foi o responsável pelo desaparecimento da garota, uma vez que, na ilha onde todos se reuniram para o jantar em família no dia do ocorrido, não havia como nenhum deles sair devido a um acidente que interditou a ponte que liga a propriedade de Vanger ao continente.

Diferente do estilo de diálogos acelerados visto em A Rede Social, dessa vez Fincher preferiu manter a narrativa menos frenética, desenvolvendo cuidadosamente cada um dos pontos da história. O filme, inicialmente, possui duas tramas paralelas. A de Mikael em sua busca e a da hacker Lisbeth Salander (Mara), que já havia sido contratada pelos advogados de Vanger para levantar a vida do jornalista. Intrigante e riquíssimo personagem, Lisbeth chama a atenção do espectador na trama de modo a suplantar até o desenvolvimento do personagem de Daniel Craig. Com uma aparência andrógena e instigante, repleta de tatuagens e piercings faciais, Rooney Mara merece colher os louros da sua indicação ao Oscar pelo papel.

Lisbeth Salander (Mara) :andrógina e ameaçadora
Sempre demonstrando uma segurança no olhar, como um animal acuado que, quando ameaçado, sabe responder na mesma ferocidade de seu predador, a jovem Lisbeth vive sob a tutela do Estado devido a seu violento e conturbado passado familiar. Desse modo, ela não pode ter acesso ao espólio de sua família sem a avaliação de um psicólogo e mediante a aprovação de um assistente social. Após seu tutor sofrer um derrame, ele é substituído por outro guardião legal. Cínico e ameaçador, Nils Bjurman, o novo tutor, chantageia Lisbeth na concessão de dinheiro à garota. Em uma cena ao mesmo tempo chocante e repleta de regozijo, a resposta dela a todo aquele processo humilhante faz valer a descrição de animal acuado respondendo ao abuso de predadores.
Mesmo mantendo os diálogos sem o frenesi já citado de A Rede Social, a montagem de Millennium se destaca. Remetendo ao quebra cabeça narrativo de outro trabalho de Fincher, Zodíaco, seus habituais montadores Angus Wall e Kirk Baxter, vencedores ano passado e novamente indicados ao Oscar esse ano, dão um ritmo ágil ao filme, mas sem apelar para a banalidade gratuita de rápidos e constantes cortes com intuito de causar um pretenso impacto no espectador. Observe, por exemplo, a cena em que Lisbeth é roubada na estação do metrô. Com uma pontual e impressionante velocidade, o trecho, que poderia possuir um decupagem simples, acaba tendo um ritmo ágil, mas não gratuito, onde os poucos cortes conseguem explicar toda a ação ao espectador.
Com a tensão constante mantida até o surpreendente e tocante desfecho da trama, algo digno de Agatha Christie (mas, claro, com pontos muito mais chocantes que qualquer conclusão escrita pela inglesa), a versão de Fincher perde força apenas no final anticlímax. Óbvio que as origens literárias da história exigem certa fidelidade para a trama. No entanto, não há como não perceber certo desequilíbrio no longa quando uma nova mini trama é inserida uma vez que todo o final da história já foi apresentado ao espectador e digerido por este.

Fica a chamada para a continuação, uma vez que na versão literária, a história é contada através de uma trilogia. E que David Fincher volte a encabeçar o projeto, obviamente.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Os Descendentes

(The Descendants, EUA, 2011) Direção: Alexander Payne. Com George Clooney, Shailene Woodley, Amara Miller, Nick Krause, Robert Forster, Beau Brdges.


Há uma reflexão em Os Descendentes, novo filme de Alexander Payne, que é comum na maioria dos seus trabalhos. É aquela ideia de balanço da vida que algumas pessoas se vêem tentadas a fazer quando alcançam uma certa idade (normalmente a faixa pós quarenta anos) e  percebem que não houve algo realmente relevante construído em suas vidas. Não estou falando de coisas materiais (apesar de que muitos dos seus personagens podem levar essa discussão por esse caminho), mas, sim, de relações humanas plenas, sedimentadas através de anos de relacionamento e convívio afetivo.

Basta observar seus dois últimos longas, As Confissões de Schmidt e Sideways, para comprovar uma forte relação do diretor com o incômodo que as pessoas sentem com a sensação de tempo perdido trazida pelo conformismo e pela rotina. Em Os Descendentes, a descoberta de ter sido traído por Elizabeth, sua esposa, que hoje está em coma após um acidente de lancha, causa ao advogado Matt King (Clooney) um sentimento mais intenso. Além de não poder nutrir esperanças de ver sua mulher voltar a vida, ele ainda precisa lutar contra o rancor que sente pela mãe de suas duas filhas justamente pelo fato dessas duas pessoas precisarem de seu total apoio agora. E a sensação de não ter podido ser um bom marido enquanto pôde o torna ainda mais magoado. Vê-lo ensaiar um diálogo de reparação que pretende travar com sua esposa quando ela acordar é algo tocante justamente pela sua condição sem esperanças.

Do mesmo modo que o personagem título de Jack Nicholson em Schmidt, que após a perda da mulher, conhece melhor o passado dela, Matt precisará rever todo o seu sentimento por Elizabeth para que consiga administrar a situação que vida lhe impõe. E do mesmo modo como o Miles de Paul Giamatti, em Sideways, há uma sensação de não adaptação àquela vida que ele é obrigado a encarar. No seu caso, devido à falta de sua esposa. Ausente na criação das filhas Alex, de 17 anos, e Scottie, de 7, Matt assume essa falha em sua postura (“sou um estepe”, afirma em sua narração em off se referindo à sua condição de pai), mas percebe que na atual conjuntura, uma mudança de perfil se faz urgente.

Matt e seus descendentes, Alex e Scottie
Os Descendentes é, então, a história de um homem se adaptando a uma nova condição sem que haja tempo para uma análise criteriosa de todos os pontos. Além da sua situação familiar, há os negócios de Matt, que também envolvem questões de família. Herdeiros de uma quantidade de terra virgem no Havaí, ele e seus primos negociam a venda dos terrenos em uma transação que os tornará milionários. Com tudo isso em mente, Matt ainda precisa lidar com o incômodo que é a pretensão de encarar o amante de Elizabeth, algo que ele vê como uma forma de exorcizar seus fantasmas e seguir adiante. Equilíbrio é a palavra de ordem em sua vida. Equilíbrio que ele parece manter a todo custo e só aparenta (quase) perdê-lo no momento em que arrisca uma postura mais enérgica com Elizabeth. Talvez pelo fato de, claro, ela não poder ouvi-lo.

Com uma atuação contida que, nas mãos de um ator inexperiente, poderia cair no descontrole piegas, George Clooney consegue transmitir muito bem todo esse equilíbrio de Matt King. Sem precisar levantar a voz em momento nenhum, mesmo em situações onde a calma cederia lugar à raiva e ao desespero tranquilamente, King percebe o quão é importante para sua atual situação manter sua plenitude. E não são poucos os momentos em que se percebe essa economia singela na atuação de Clooney. Observe determinada cena em que ele fala para um personagem que este poderia ter tido a decência de mentir sobre certo assunto. Dá para ver nos seus olhos a vontade que ele tem de ser violento, de liberar sua raiva em socos, mas se percebe como um pai e exemplo a ser seguido e não cede àquela tentação.

Não somente a atuação de Clooney se destaca como a de seus coadjuvantes. Robert Forster (de Jackie Brown) no papel do sogro de Matt transparece todo rancor que sente pela ausência do genro no casamento com sua filha. Não há como não se sensibilizar com o pesar que ele, como pai, deve estar sentindo pela situação que passa Elizabeth. Quando ele recrimina Matt dizendo que sua filha sempre foi uma esposa fiel e devotada, dá para perceber no olhar de Matt toda a compreensão da dor que qualquer revelação sobre o comportamento de sua esposa causaria a seu sogro. E ver Forster com toda aquela fragilidade que a idade do seu personagem pede (ele, inclusive, já tem 70 anos) denota ainda mais a tristeza de saber que a sua criança está morrendo. Ou você acha que os filhos crescem e se tornam adultos nos sentimentos dos pais? Ledo engano. Basta observar o modo como ele se refere à filha para com sua já senil esposa.

Robert Forster se destaca em uma tocante atuação em apenas duas cenas

Payne demonstra, mais uma vez, uma direção coesa, centrada no contar da história, sem a necessidade de firulas para impressionar visualmente o espectador. De modo inteligente, ele insere imagens que ajudam a moldar a narração em off feita por George Clooney no começo do longa, como por exemplo a cena em que Matt sobe as escadas do hospital, esperançoso na melhora de sua mulher, enquanto o ouvimos dizer que aquela será uma chance deles vencerem aqueles obstáculos (degraus) dos problemas familiares. Ou quando há uma pertinente observação feita por Matt quando este compara seus familiares a ilhotas em um arquipélago como o Havaí: sempre perto, mas nunca realmente próximos uns dos outros. Algo que é salientado nas representações das viagens de avião feitas por Matt pelo conjunto de ilhas para buscar sua filha mais velha e, também, encontrar com outros parentes.

Apesar de contar com as belíssimas locações do estado do Havaí, Payne não as usa de modo gratuito, com o puro intuito de emoldurar suas cenas. Pelo contrário. Ele mantém boa parte do filme centrado na área urbana de Honolulu e até brinca com a ideia de que o senso comum faz crer que todos na cidade passam seus dias na praia, surfando e se bronzeando. E quando insere qualquer imagem das belezas naturais havaianas, ele faz com um contexto, como quando mostra às filhas toda a imensidão de terras que sua família possui. Uma imagem ainda mais bela por conta da fotografia de Phedon Papamichael (que, após Sideways, repete a parceria com Payne depois de também ter trabalhado com Clooney em Tudo pelo Poder).

 Ainda assim, para manter a identidade do lugar onde sua história se passa, o cineasta não abriu mão da trilha sonora característica das ilhas, algo que ajuda a contrastar com o aspecto emocional da história, prova de que o diretor quis fugir da apelação piegas assim como Clooney em sua  sóbria atuação.

Apesar da resolução um tanto idealizada no que tange à questão da venda e partilha das terras junto aos primos de Matt, o filme termina mantendo uma pertinente mensagem quanto a importância de um núcleo familiar. O balanço citado no começo desse texto é finalmente feito por Matt King.  E isso se dá sem o apelo gratuito e emocional que um diretor menos cuidadoso teria. Por sorte, temos Alexander Payne. 

Crítica: 2 Coelhos

2 Coelhos, de Afonso Poyart





sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Entrevista com diretor e elenco de 2 COELHOS


Salvador foi uma das cidades onde aconteceu a pré estreia do primeiro longa de Alfonso Poyart, 2 Coelhos. Com a presença do diretor e dos atores Caco Ciocler, Marat Descartes e Thogun, o filme foi exibido ontem, dia 19 de janeiro, em duas sessões lotadas. Antes, a equipe pôde bater um breve papo com diversos veículos locais.

Oriundo da publicidade e com diversos comerciais no currículo, Poyart estreou na direção de curtas com o engraçado e sensível Eu te darei o Céu, trabalho de 2005 que tem André Gonçalves como um garoto de programa que traz uma genuína alegria à vida da solitária Taís (Nany di Lima) em seu aniversário. Em 2 Coelhos, o diretor e roteirista preferiu abordar dois temas mais espinhosos: a violência urbana e a corrupção política. Em uma conversa descontraída, Poyart falou um pouco das preferências estéticas em seu modo de filmar e como a música vem a influenciar essa narrativa. 

Além dele, estiveram presentes os atores Marat Descartes, Thogun e Caco Ciocler. Já conhecido do grande público pela sua atuação em mini-séries globais e no chocante Trabalhar Cansa, um dos filmes nacionais exibidos em Cannes ano passado, Marat falou sobre a comicidade de seu personagem, que caminha entre a psicopatia e o total nonsense junto com seus atrapalhados comparsas. Dentre eles, o Bolinha, vivido por Thogun, já conhecido pelo engraçado Cabo Tião, de Tropa de Elite 1 e 2. Sambista nato ("imperiano, graças a Deus"), Thogun falou da sua preocupação em criar um personagem que fugisse do estereótipo de vilão que ele já está habituado a fazer e de como o samba o ajuda a construir suas interpretações. Além deles, Caco Ciocler falou sobre a postura soturna de Walter, seu personagem, e como essa construção singular o torna dissonante de todo o resto do elenco e a verdadeira surpresa do longa.

Confira o papo! (Sem spoilers, eu garanto = ).

Foto: Texto e Cia/Assessoria UCI Orient


Película Virtual  - Seu filme possui uma montagem frenética com as inserções de animação e jogos de videogame, algo que remete bastante a obras como Corra Lola, Corra. A intenção de construir a narrativa nesse frenesi constante começa em que momento?

Afonso Poyart – Ah, sim, claro. Corra Lola, Corra. Esse é um filme que sempre me chamou muito a atenção. Eu sou um cara que começou com publicidade, fazendo animação e pós-produção. Esse é um estilo pessoal que trago desde a época dos meus comerciais. Eu sempre tive um estilo de montagem rápida, sabe? Eu gosto dessa coisa mais frenética e ágil.

Película Virtual – Em seu curta Eu te darei o Céu, isso é bem perceptível.

Afonso Poyart – (risos) Ali já é demais, pelo amor de Deus. Ali eu passei do ponto, mas tá bom (risos)

Película Virtual -  Em 2 Coelhos você mesmo é um dos montadores, diferente do curta Eu te darei o Céu.

Afonso Poyart – É. Eu e mais duas pessoas editamos o 2 Coelhos (Lucas Gonzaga e André Toledo). Esse tipo de filme exige uma visão externa a todo momento. E chega uma hora em um editor não dá mais e tem que entrar o outro. Nós acabamos fazendo um rodízio de editores e eles possuem um ritmo de trabalho incrível. São verdadeiros picotadores!

O diretor Afonso Poyart 

Película Virtual – Como surgiu a ideia de fazer um filme de ficção que mescla imagens fantasiosas com fatos concretos da realidade, como a corrupção no Brasil e a violência urbana em São Paulo, de uma forma tão engenhosa?

Afonso Poyart – O filme é bastante estilizado por que o personagem principal é um nerd, um geek, um cara que gosta de ficar horas e horas jogando videogame, lendo quadrinhos, vendo animações. Então, nos primeiros trinta minutos do filme, quando a gente está explicando os personagens, é quando há muita animação e efeitos visuais em um ambiente estilizado pelo fato de que aquela é a óptica do Edgar (Fernando Alves Pinto). É como ele vê o mundo. Mas o terreno onde ele está transitando é extremamente real. É uma metrópole sul-americana absolutamente louca, um cenário onde você tem corrupção, bandidos e violência. É a realidade do Brasil. É um tema absolutamente real e palpável e ninguém pode negar isso. Mas, conforme a trama que esse cara montou vai se desenrolando, eu fui tirando os efeitos visuais que retratam seu olhar para com o mundo e as coisas vão se tornando reais. É como se ele transformasse em sua realidade o videogame que ele costumava jogar. Toda aquela violência que ele via somente na tela do jogo acaba acontecendo com ele. Toda aquela correria, tiroteios, perseguição de carros, acabam sendo trazidas para a sua vida real.  Logo, logo ele está correndo e tomando tiro. É quando ele transforma o videogame na sua própria vida.



Película Virtual –
Na trilha sonora você trouxe um som bem atual, como a canção do 30 Seconds to Mars e a trilha incidental é do André Abujamra. Como se deu essa mescla de estilos?

Afonso Poyart – O Abujamra fez uma coisa mais clássica, mais cinema incidental, mesmo. Ele usou graves, uma coisa mais percussiva, forte. E ai tem essas músicas que a gente comprou que é uma coisa mais pop, sabe? Radiohead, 30 Seconds to Mars, por exemplo. Eu acho que essa mescla foi interessante. Eu gosto muito de usar músicas que já existem, mesmo, sabe? Músicas que a gente ouve no rádio. Essas músicas já têm um componente de emoção para cada um que escuta. São canções que já existem há cinco, dez anos. Então, quando você pega essas canções e elas já têm essa bagagem de recepção e coloca dentro de uma cena, cria uma outra coisa totalmente diferente. A música se transforma. Eu gosto dessa brincadeira.

*                    *                   *

Película Virtual – Marat, para compor um personagem como o Maicon, um vilão com uma veia um tanto tragicômica, você buscou alguma inspiração em outro personagem?

Marat Descartes – Muito do Maicon, da construção do personagem dele, para não cair em uma caricatura de bandido malvado, aquela coisa caricata, eu busquei na minha memória afetiva de um trabalho que fiz e que foi muito forte para mim no teatro. Foi o Bereco, de Oração para um Pé de Chinelo, do Plínio Marcos. Eu fazia o Bereco, que é o Pé de Chinelo, um bandido que fica confinado dentro de um quarto, fugido da polícia, com um bêbado e com uma prostituta. Foi uma peça muito legal que eu fiz com 22 anos, então eu acho que ficou muito interiorizado em mim. A alma de um bandido (risos), de alguém que pega numa arma e resolve dar tiro para matar, mesmo, sabe? Agora, por outro lado, o que eu acho que o Maicon traz de diferente em relação ao Bereco foi isso que você citou. Esse lado do humor.

Marat Descartes interpreta o vilão Maicon

Película Virtual – E, inclusive, o comportamento brutal dele não é algo tão pesado.

Marat Descartes – Exato. Não é algo tão pesado. Principalmente porque não é a proposta do filme. Ele trata de violência, mas de uma forma leve, bem videogame, algo mais estilizado, com grafismo. Nesse sentido a gente teve liberdade de criar com verdade, no meu caso um bandido, mas também com humor, com toques cômicos.

Película Virtual. – Dez anos depois, aparece uma montagem no cinema nacional que é tão impactante quanto foi a de Cidade de Deus, no entanto a carga dramática do vilão não é tão pesada quanto foi a do Zé Pequeno. Ele não assusta tanto a platéia quanto a presença do Leandro Firmino da Hora (ator que viveu Zé Pequeno). É algo proposital? Não é uma questão da atuação ser menos impactante. Ou seja, você compôs um personagem cuja comicidade sobrepõe a violência em alguns pontos.

Marat Descartes – É, eu busquei justamente isso. Até mesmo porque o bando tinha personagens muito engraçados. O cara que enfia a espada em determinado personagem é hilário. “Não, eu vou enfiar no baço, porque aí sangra mais, mas ele não morre tão rápido” (risos). A gente tinha diversos personagens, cada um com sua personalidade. E acabou se tornando um bando de trapalhões.


Película Virtual – Se chamar o Maicon de “filadaputa” ele, realmente, se transforma...

Marat Descartes  – (risos) Pois é. Ele sai do sério. São mil tiradas como essa que não deixam de tornar a coisa realista, violenta, mas tratada de uma forma um pouco mais leve.

Película Virtual – Uma das cenas chave filme acontece na Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu. É mais um desses detalhes surreais do filme, porque, em pleno bairro nobre paulistano acontece uma negociação de sequestro onde um cara leva um tiro a queima roupa...

Marat Descartes – Realmente, tem mil coisas engraçadas assim no filme. Quando se assiste a um longa de ação que tem mil explosões e tiroteio, você fica imaginando: “Mas, gente, onde que acontece isso?” (risos). Acontece é na Praça Charles Miller, a explosão é ali no viaduto do Glicério, um baita tiroteio na Praça Roosevelt, então, para quem mora em São Paulo é algo muito legal ir reconhecendo os lugares e vai conseguindo visualizar que isso pode acontecer na sua cidade.

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Película Virtual – Thogun, mesmo sendo um cara brutal, assassino, traficante, seu personagem, o Bolinha, acaba tendo um comportamento bastante cômico. E isso o torna diferente por fugir daquele choque de brutalidade para com o público. Você teve essa preocupação ao sair desse tipo de personagem mais chocante?

Thogun – (risos) Olha, eu vou te falar, essa era a minha maior preocupação. Mas, quando eu li o roteiro, para minha surpresa, o Afonso (Poyart, diretor do filme) me passou isso. Porque eu venho de vários personagens violentos, tanto em TV quanto em cinema, e eu não queria mais estereotipar isso. Então, é a simplicidade do “malandro agulha”, aquele malandro antigo, que faz o trabalho dele, mas não esculacha. Ele resolve! E está sempre com uma piada engatilhada, está sempre com um sorriso. Tem sempre uma tirada pra soltar.
Thogun vive o matador Bolinha 
Película Virtual – “Vai buscar a minha espada”, (risos).

Thogun – (risos) Isso! E ele não fala muito. (imitando o Bolinha) “Se eu te mandei buscar a espada, então vai lá e busca, cara. Não vou nem falar mais nada, sacou? Vai buscar e acabou. Papo reto sem curva”. Essa leveza do personagem, o Afonso passou de um modo a tentar humanizar o Bolinha. Aí essa humanização veio através da linha do humor, mas sem ser uma coisa escrachada ou piegas. Tentamos fazer uma coisa com mais solidez. E aí funcionou bem pra caramba.

Película Virtual – O Afonso Poyart falou em entrevista que boa parte do roteiro foi composta por improvisações em cena. Qual foi a sua colaboração?

Thogun – Ah, cara, eu trouxe algumas frases do Carlos Cachaça (sambista carioca, um dos fundadores da Mangueira), trouxe brincadeiras do Beto Sem Braço (também sambista, compositor de Ai que Vontade, interpretada por Oswaldo Cruz). São pessoas que eu conheci no Rio de Janeiro, uma vez que sou sambista desde moleque. (levantando as mãos para o céu) Sou imperiano graças a Deus! (risos). Então, eu tive que aprender alguma coisa com esses caras. É o samba, cara! O samba ajuda a gente a buscar elementos para a atuação. Poucos caras tiram isso do samba. Eu, Milton Gonçalves, Jorge Coutinho, a gente tira muita coisa do que aprendemos no dia a dia com o samba. É fazer jus a essa escola.



Película Virtual – E se fosse filmado no Rio ao invés de São Paulo? Qual seria a diferença para você?

ThogunEu acho que filmou no lugar certo. Se fosse no Rio, um lugar onde muitos filmes estão acontecendo, poderia cair em um estereótipo, entendeu? Então, é importante sair desse estereótipo. Eu falei pro Afonso na ocasião das gravações: “E aí, Afonso? Eu venho como? Zona Leste de São Paulo, na linguagem, na gíria local, nas manias?” e ele respondeu: “Não, cara. Vem carioca, mesmo. O Bolinha é carioca. Ele migrou do Rio para São Paulo ”. Então, tá bom! (risos) Tô em casa!

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Película Virtual – Caco, o teu personagem acaba sendo uma peça chave e a maior surpresa do longa. Sempre soturno, ele acaba se desenvolvendo de forma totalmente diferente dos outros.

Caco Ciocler – Eu entendi que o Walter é um cara que acaba trabalhando no contra fluxo, ao contrário do que a gente está acostumado, que é sempre deixar bem claro para o espectador o que ele (o personagem) está sentindo. Ele nunca poderia ser apreendido pelo espectador. A platéia nunca poderia entendê-lo até que visse a última cena.


Película Virtual – E o modo como ele se comporta durante todo o longa ajudou bastante.

Caco Ciocler – Exato. O fato dele ser silencioso, pontual e soturno ajudou bastante. Claro, o que acontece com ele durante o filme acaba o deixando assim. Mas, mais do que isso, as pessoas tinham que entender que havia uma coisa muito forte acontecendo ali dentro, mas não podiam entender o que era até o momento certo. A construção foi nesse sentido, nesse jogo de entrega e não entrega. E até a aparência desleixada dele durante toda a narrativa já se mostra como razão para o que aconteceu com ele.

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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

As Aventuras de Tintim

(The Adventures of Tintin, EUA, 2011) Direção: Steven Spielberg. Com as vozes de Jamie Bell, Andy Serkis, Daniel Craig, Nick Frost, Simon Pegg.  



Já é notório o fato de que o belga Georges Prosper Remi, conhecido mundialmente como Hergé, o criador dos quadrinhos com o intrépido jornalista e caçador de aventuras Tintim, conversou por telefone com Steven Spielberg na época do lançamento de Caçadores da Arca Perdida, em 1981, e afirmou que se um dia aceitasse transformar sua criação em filme, gostaria de ter o diretor como o responsável pela empreitada. Spielberg só veio a conhecer Tintim após um crítico o ter comparado Indiana Jones. Esperto, após a conversa com o escritor belga, não titubeou em comprar os direitos do personagem para o cinema.

Uma elipse de 30 anos na história. Expresso Polar, Os Fantasmas de Scrooge e A Lenda de Beowulf, todos dirigidos por Robert Zemecks na década passada, demonstram a viabilidade de construir boas narrativas usando a tecnologia da captura de movimento em atores e a recriação deles em uma mescla de live action com animação. Golum e Avatar ratificaram isso. Para adaptar a obra de Hergé, Spielberg declarou que não queria transformar os personagens em versões de carne e osso. Algo que, invariavelmente, descaracterizaria de forma desastrosa a criação do belga. É nesse ponto que a parceria entre o diretor americano com o neozelandês Peter Jackson se fez tão importante.

Assumindo a posição de produtor do longa, Jackson foi peça fundamental para o sucesso técnico de Tintim. A Weta, empresa de efeitos especiais da qual ele é sócio, e que foi responsável, claro, pelo êxito na adaptação de O Senhor dos Anéis ao cinema, construiu toda a plasticidade do novo filme de Spielberg e conseguiu captar de forma indefectível a ambientação dos quadrinhos de Hergé. Jackson contou com seu parceiro habitual Andy Serkis (o Smeagol da saga dos anéis) para dar corpo e voz ao Capitão Haddock, companheiro habitual de Tintim. Na voz e captação dos movimentos do jovem jornalista está Jamie Bell, uma escolha mais do que eficaz.

Tintim (Jamie Bell) e Capitão Haddock (Andy Serkis): adaptação fiel

A trama deste As Aventuras de Tintim – O Segredo do Licorne, escrita por Edgar Wright (responsável por Chumbo Grosso e Scott Pilgrim), Steven Moffat (da série Sherlock) e Joe Cornish (do divertido Ataque ao Prédio), consegue apresentar Tintim de modo eficiente aos não iniciados nos quadrinhos de Hergé e, ainda, não decepciona a expectativa dos fãs que esperaram um longo período para ver o jovem repórter nos cinemas. Logo em seu começo,  percebe-se o teor de homenagem de Spielberg ao original impresso. A aventura já começa nos créditos iniciais, que traz Tintim junto com seu inseparável cãozinho Milou, fugindo de diversos perigos enquanto os nomes são apresentados na tela. Remetendo à abertura do seu Prenda-me se for capaz, Spielberg teve bom senso ao conter os impulsos grandiloquentes de John Williams e entregou uma trilha sonora sutil que transparece de modo ideal o ambiente de espionagem dos quadrinhos.

A história capta bem a ideia de conspiração dos gibis. Tintim compra um navio em miniatura que é cobiçado por duas outras pessoas que vão se tornar cruciais no decorrer do filme. A primeira é o agente da Interpol Barnaby, que avisa ao rapaz que, se ele não se livrar logo da miniatura, correrá sérios riscos. A outra pessoa, esse realmente perigoso, é o Sr. Sakharine (Daniel Craig), que possui uma relação toda especial com aquele artefato. Óbvio que a veia de repórter de Tintim o impedirá de vender a peça. Decidido a investigar o navio, ele descobre que foi construído pelo Sir. Francis Haddock (ancestral do seu amigo, Capitão Haddock, que Tintim ainda vai conhecer), um capitão marítimo que deixou um segredo relacionado ao objeto.

Após danificar a miniatura, Tintim tem seu apartamento arrombado e o navio é levado. Na tentativa de recuperá-lo, o jornalista descobre as intenções de  Sakharine  em tê-lo para si, mas Tintim encontra em sua sala parte do mastro da réplica com um pergaminho escondido dentro dele – ambição real de  Sakharine . Com a pista em mãos, o herói passa a investigar o enigma em uma história com momentos em alto mar, voando em um bimotor ou em alta velocidade pelas ruas do Marrocos. Além de Haddock, outros personagens clássicos do universo de Hergé se fazem presentes, como os policiais gêmeos Dupont e Dupond, cujas vozes e trejeitos da dupla Simon Pegg e Nick Frost (parceiros habituais do roteirista Edgar Wright) os tornam ainda mais hilários que nos quadrinhos ou na versão animada do começo da década de 90.                


Tintim e os policiais Dupont e Dupond
As sequências de ação de Tintim são bem construídas e segue de modo pertinente a estrutura das histórias em quadrinhos de onde se originaram, onde o inverossímil é tratado de forma natural e é necessário manter a suspensão da descrença sempre no modo on. Não que isso seja um problema, afinal, é uma animação que toma a liberdade de utilizar a típica narrativa dos gibis de modo, justamente, livre, sem as amarras que filmes em live action poderiam, em alguns casos, exigir. No entanto, há momentos onde o fator verossímil é incluído de modo a manter o filme fiel à realidade, como quando os personagens brincam com a gravidade zero dentro de um avião em queda. No entanto, logo em seguida, um arroto alcoolizado (!?) no tanque de combustível faz a aeronave se manter no ar por mais alguns segundos.

Os diversos planos-sequência utilizado por Spielberg durante as cenas de ação conferem um vigor que, junto com a já citada trilha sonora de Williams, criam a atmosfera exata da transposição das histórias de Tintim para o cinema. Feito com intenções claras de homenagear Hergé (observe o próprio desenho que Tintim exibe na primeira cena do filme), o filme acaba, mesmo mantendo uma fidelidade sensível à sua fonte, criando uma identidade própria que faz jus à nova mídia que o personagem experimenta pela primeira vez.

Apesar de lançado como um filme infantil, o longa possui elementos que o descaracterizam desse tipo de apelo, como o fato do herói portar uma arma e, em algumas cenas, personagens serem alvejados por metralhadoras (como uma especifica no começo, passada no hall de entrada do apartamento de Tintim). Não que isso seja um problema, ressalto. Reflete bem a postura de Spielberg em se manter fiel ao original de Hergé. Convém lembrar que foi o próprio diretor americano que relançou seu clássico E.T., há dez anos, substituindo escopetas por walk-talks com a desculpa de não chocar as crianças, numa vergonhosa demonstração do comportamento conservador que chega com a idade. Ainda bem que não foi o caso agora. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Nénette

(idem, França, 2010) Direção: Nicolas Philibert.


A contemplação do ambiente se faz presente na maioria dos documentários dirigidos por Nicolas Philibert. Em seus filmes, há um convite ao espectador para que este examine as imagens que a lente do diretor apresenta de modo atento, reflexivo. Seus filmes trazem uma introspecção que exige do espectador uma especial observação. Seja ela dirigida ao estudo de personagens (como é o caso de O País dos Surdos e O Mínimo das Coisas) ou a ambientes específicos, como o Louvre em Cidade Louvre ou o Museu de Arte Natural, em Um animal, Os Animais.
Em Nénette, mais recente trabalho do diretor francês, essa contemplação é bilateral. A história da orangotango de mesmo nome que vive no zoológico Jardin des Plantes, em Paris, há quarenta anos, é apresentada através de contemplativas e quase estáticas imagens do animal em seu dia-a-dia. Enquanto isso, o público a observa através do vitral, mas sem nunca ser captado pela câmera do diretor. São os diálogos em voz off dos visitantes do zoo que constroem uma narrativa ao mesmo tempo informativa e inquiridora. As crianças perguntam do seu jeito simplório sobre Nénette e suas questões acabam nos fazendo refletir a respeito do animal. São indagações simples sobre qual a idade dela (“ela tem a idade de seu pai, querido. Quarenta anos” e a criança replica “Mas o papai tem quarenta e meio, mamãe”), o que ela come, quem são seus filhotes. E há outra narrativa, essa totalmente informativa e ilustrativa.
Nesse segundo aspecto, ficamos sabendo a partir dos tratadores que a orangotango possui uma dieta da qual faz parte chás, iogurte e frutas. Há também explicações acerca do comportamento do animal junto a pessoas que cuidam dela. Um dos tratadores explica estar com Nénette há oito anos e só nos últimos dois foi que ela permitiu uma maior aproximação. “Os tratadores nunca a tocam sem que ela venha a pedir por isso”, comenta um dos funcionários do Zoo. É sempre ela quem deve procurar qualquer contato humano. Uma das criadoras observa que em certa ocasião Nénette a viu passando batom e, quando entrou no mesmo recinto, a orangotango mexeu em sua bolsa e pegou o batom para passar em si mesma, em uma prova direta da inteligência avançada do animal.

A sempre indiferente e blasé Nénette: nada mais natural.
Ao optar por exibir Nénette em um estado sempre indiferente enquanto as pessoas a observam, o filme levanta a óbvia reflexão sobre a ideia de que quem estará observando quem? Por isso a proposta de bilateralidade do longa, uma vez que a contemplação também parte de Nénette  Alguns visitantes costumam ir vê-la de modo rotineiro, como se estivessem visitando um parente preso ou algo semelhante. Desse modo, a reflexão que fica é a análise de um animal solitário, que passa seus dias observando pessoas ainda mais solitárias. Apesar dessa ideia, a orangotango não vive sozinha na sua jaula. Há seus filhotes Tübo e Tamu, e o macho adulto Théodore. Em certo momento, ouvimos um dos criadores dizer que, para não haver riscos de Nénette emprenhar de um dos seus filhotes, os veterinários lhes dão anticoncepcionais misturados ao seu iogurte.
Nénette é, como define bem um dos criadores, uma vítima de sua própria raridade. E por essa razão, acaba por refletir com seu olhar tedioso uma indiferença a todos os que param em frente ao seu lar. “Se o vidro quebrasse, seria um salve-se quem puder. E não mais ‘minha querida Nénette’”, observa o veterinário.
Pertinente manter sempre isso em mente ao julgar os animais como meras peças de observação dentro de vitrines. 




quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

De Volta à Normandia

(Retour en Normandie, França, 2007) Direção: Nicolas Philibert. Com depoimentos de Anne Borel, Claude Hébert, Nicolas Philibert, Nicole Picard.



Quando Michel Foucault escreveu sobre um assassinato ocorrido na Normandia, em 1835, no qual o jovem Pierre Rivière degolou com uma foice sua mãe e dois irmãos, seu maior interesse era estudar os aspectos jurídicos e psicológicos do caso, uma vez que a sanidade do réu foi questionada no tribunal e sua pena de morte acabou sendo comutada em prisão perpétua. Rivière, após ser preso, escreveu um longo depoimento explicando as causas de seu ato e, pela escrita do rapaz, percebeu-se um alto nível de conhecimento filosófico e uma retórica culta e apurada, levantando dúvidas sobre qualquer desequilíbrio mental que ele realmente pudesse ter. A partir dos seus escritos, pôde-se compreender melhor o que o motivou a um crime tão bárbaro e esse texto estimulou Foucault a se debruçar sobre o caso publicando, no começo da década de 1970, o livro “Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão".

Tendo o livro como base, o diretor francês René Allio dirigiu, em 1976, um filme homônimo no qual adaptou para o cinema a trágica história de Rivière. Filmado nas imediações do mesmo lugar onde o crime bárbaro ocorrera e utilizando camponeses locais como atores, Allio contava com o futuro diretor Nicolas Philibert como assistente e um dos responsáveis pela seleção do elenco. Pouco a pouco os atores foram sendo escolhidos na localidade e tendo suas vidas modificadas pela produção do longa metragem. Trinta anos depois, Philibert decidiu reencontrar aquelas pessoas para contar como foi a experiência de participar da produção e em como isso afetou suas vidas. O resultado é justamente esse De volta à Normandia.

O elenco composto por camponeses locais na época das gravações.

Apesar de transmitir uma premissa que parece ser interessante apenas ao diretor (e, no final, quando este revela a sua verdadeira motivação ao fazer o filme, isso fica ainda mais notável), De Volta à Normandia apresenta todos os principais atores do filme de Allio em suas vidas simples, longe de qualquer glamour ou fama que o cinema lhes pudesse proporcionar, mas com boas histórias e lembranças sobre aqueles dias cinematográficos. Narrado pelo próprio Philibert, a obra começa com imagens da estrada que leva ao povoado captadas do carro onde está a equipe de filmagem. A passagem é entrecortada por cenas do filme de Allio numa inteligente alegoria da volta no tempo que aquela viagem deve representar para o cineasta. 

O reencontro inicial de Philibert se dá com Joseph Leportier e Nicole Géhan, que no filme interpretaram o pai e a irmã do assassino. A entrevista revela uma nostalgia palpável de todas as pessoas do elenco. Ao conversar com Annick Géhan, ela diz que foi aconselhada por René Allio a não nutrir grandes sonhos sobre a carreira no cinema. Um reflexo do pensamento do diretor em relação às pretensões de seu filme. Em outro momento, Jacqueline Millière, que interpretou a mãe do assassino, confessa ter sido hostilizada por alguns indivíduos do vilarejo após o lançamento do filme. Era chamada de “mãe do demônio”. 

Parte dos atores do filme de Allio nos dias de hoje: nostalgia.
O filme de Philibert exibe os ex-atores em suas atuais ocupações. Um deles se tornou criador de porcos. Talvez um dos únicos defeitos do filme seja o modo gratuito como são mostradas as cenas em que um dos animais é abatido. Óbvio que há uma alusão direta aos assassinatos cometidos por Rivière, uma vez que a cena que abre o longa de Philibert exibe, de modo explícito, um parto de suínos.  Um deles, natimorto, tenta ser reanimado pelo criador, mas sem sucesso. Uma clara referência à condição desejada por Rivière, uma vez que, se não tivesse nascido, não teria cometido os atos monstruosos que devem tê-lo atormentado até o suicídio. 

Na época em que os crimes aconteceram, matricídio era considerado um ato hediondo, penalizado com morte. Apesar disso, Rivière teve sua pena comutada em prisão perpétua, vindo a se matar na prisão após um tempo. Philibert observa que na lei atual, matricídio é visto somente como um agravante à condenação por homicídio doloso. Uma discussão interessante que o filme não chega a aprofundar. De Volta à Normandia acaba servindo, justamente, como uma proposta de apresentação de personagens sem muito desenvolvimento pelo diretor. Uma colagem de rostos, mas sem um (necessário) aprofundamento.

Nicolas Philibert se debruça nas películas do filme de Allio: inspiração.

O mais esperado de todos, a figura de Claude Hébert, jovem de 18 anos que viveu o assassino no filme de Allio, é mantido em segredo por Philibert por boa parte do filme. Ao ser finalmente trazido à narrativa, sua atual vida não surpreende tanto como o efeito almejado pelo diretor, mas, ainda assim, causa certa reflexão. A produção do filme baseado na obra de Foucault trouxe mudanças à vida de todos os envolvidos, mas em Hébert, com 48 na época de seu depoimento à Philibert, essa mudança foi a mais palpável.

O assistente de direção afirmou que Allio, diante de todas as dificuldades na produção de Eu, Pierre Rivière..., não tinha medo de falhar na empreitada. Ele tinha medo era de não tentar. Do mesmo modo, todo o elenco amador do filme. E aquela coragem acabou deixando marcas em todos os envolvidos. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O Mínimo das Coisas

(La Moindre des Choses, França, 1997) Direção: Nicolas Philibert.




Em O Mínimo das Coisas, Nicholas Philibert apresenta os moradores da clínica psiquiátrica La Borde, um pacífico e bucólico lugar onde os pacientes, no verão, realizam uma peça teatral. O evento organizado anualmente é aguardado sempre com ansiedade e empolgação pelos atores amadores. Não é para menos. Em uma rotina imposta somente pelo estado contemplativo em que a maioria deles vive e pela obediência ao horário dos medicamentos, toda a movimentação, os ensaios, a preparação musical e o contato com os instrutores causam um furor e empolgação palpáveis naquelas pessoas cujas vidas se restringem a pequenos atos diários.

A peça teatral em questão é a Operetta, de Witold Gombrowicz. Dotado de uma profunda análise psicológica, o texto de Gombrowicz casa de forma perfeita com a personalidade dos habitantes do La Borde, uma vez que reflete muito da condição dos próprios “atores” em seu estado non sense. Durante os ensaios, é perceptível um esforço mútuo entre os instrutores e os pacientes do asilo. Cada ponto é observado não de forma autoritária pelos organizadores, mas, sim, de modo paciente e compreensivo, respeitando as condições de cada um dos participantes. Eles ensaiam declamações de poemas, aprendem a tocar instrumentos musicais, treinam caminhar em pernas de pau (em uma cena que demonstra bem a preocupação que os pacientes possuem entre si) e fazem tudo isso com um entusiasmo genuíno, fruto de uma carência social gritante.

A câmera de Philibert passeia pela instituição trazendo diversos personagens moradores do asilo que parecem viver em seu próprio universo, mas que, no entanto, se comprometem de modo irrestrito com o espetáculo. São pessoas que facilmente se empolgam com o simples fato de estarem sendo captadas pelo diretor, como no momento em que um dos pacientes pergunta a Philibert se ele o está filmando e quando ele vai aparecer na televisão. Ao conversar com o diretor, ele exibe um tocante sorriso que, mesmo desdentado, cativa pela genuína alegria de ter algo que difere aquele dia de todos os outros que devem compor sua introspectiva rotina.

O filme em si não serve como denuncia a maus tratos ou a qualquer tipo de condição prejudicial aos pacientes que a instituição psiquiátrica venha possuir. Pelo contrário. Mesmo que em outro longa do diretor, O País dos Surdos, em certo momento, uma das personagens surdas afirme ter sido internada em um hospício pelos pais por conta de sua condição física e que o lugar era terrivelmente sujo e mal cuidado, a Clínica Psiquiátrica de La Bonde impressiona pelo seu ambiente saudável e propício para o bem estar dos pacientes. É o tipo de obra que serve como um retrato do que deve ser tido como bom exemplo na conduta entre profissionais e internos.

Ao final, O Mínimo das Coisas propicia ao espectador uma análise de personagens que se relaciona diretamente ao título do trabalho. São pessoas que não precisam de muito para serem felizes.

Curiosamente, são chamados de loucos...