quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret

A mais nova obra prima de Martin Scorsese





O Artista

(The Artist, França, Belgica, 2011) Direção: Michel Hazanavicius. Com Jean Dujardin, Bérénice Bejo, James Cromwell , John Goodman, Penelope Ann Miller, Uggie.



“Eu não vou falar! Eu não vou falar!”, brada o herói vivido pelo canastrão George Valentin em mais um dos filmes mudos de sucesso estrelados por ele. E será esse o dilema pelo qual o próprio George passará em sua vida profissional. George acredita que o futuro do cinema reside não nos filmes falados. As pessoas não vão querer pagar para ouvi-lo falar, apenas para vê-lo. Afinal, George perderá o status de artista se aderir àquela nova forma de se fazer cinema? Ou aquele futuro é inevitável e só resta ao ator abraçá-lo?

Essa é a simples trama de O Artista, filme estrelado pelo carismático e sorridente Jean Dujardin e dirigido pelo cineasta francês Michel Hazanavicius. Uma ideia realmente simples, mas que o diretor resolveu contar de forma totalmente imprevisível e criativa. Sim, O Artista é um filme mudo. É um filme que parece, realmente, ter sido rodado em 1927, ano em que a história começa a ser contada. Todas as características que contextualizam o filme como sendo dessa época estão ali. Desde a razão de aspecto da tela até a utilização da trilha sonora presente em quase 100% da projeção, passando, claro, aos diálogos auxiliados pelos letreiros ilustrativos.

Os tempos áureos quando o nome de George Valentin atraia multidões
George vê sua fama e prestigio serem menosprezados a partir da ascensão dos filmes falados (“O futuro do cinema”, como prega o Al Zimmer, o produtor vivido por John Goodman). Orgulhoso e autoconfiante, George decide continuar como produtor e ator independente, dirigindo seus próprios filmes mudos. Claro que, como a história já conta, o cinema falado viria para ficar. O ano de 1927 foi, inclusive, o mesmo do lançamento de O Cantor de Jazz, primeiro longa considerado falado. A carreira de George entra em declínio. “A audiência quer carne nova, George”, explica Zimmer.

Uma dessas “carnes novas” é Peppy Miller (Bejo), atriz que galgou seu caminho em busca do estrelato de modo paciente e eficaz. Ganhou fama momentânea ao protagonizar um beijo dado no rosto de George durante a première de seu filme (uma cena que reflete bem as diferenças do século XXI para aquele começo do século XX no que tange ao comportamento dos fãs em relação aos seus ídolos). Talentosa, Peppy acaba se tornando o símbolo platônico de George e, também, o retrato daquela nova era que o ator tanto quer renegar. 

Um dos méritos do filme foi o de trabalhar a relação entre George e Peppy de forma idealizada. Há, claro, uma típica tensão romântica entre ambos, mas o roteiro não se baseia nisso para desenvolver a história dessa amizade. Sim, é bem mais uma amizade do que um romance. Uma admiração mútua que os tornam fãs do trabalho de cada um. George, que esconde em seu sorriso a infelicidade de seu casamento falido, passa a observar em Peppy uma presença feminina que não possui em sua vida conjugal. Não que exista culpa em sua esposa Doris (Miller). Ela apenas não faz parte daquele universo do show business. E as cenas dos vários cafés-da-manhã que os dois tomam refletem bem como aquela relação está desgastada. Em uma brilhante referência a Cidadão Kane, vê-se a rotina corroendo ainda mais aquele relacionamento. 

Doris, esposa de George, se faz a mesma pergunta sobre Peppy

Contando com uma ideia estupenda e realizada de forma inteligente, O Artista brinca com a evolução do cinema como ferramenta de entretenimento na época a qual se passa a trama. Curioso observar como os filmes mudam de contexto a partir de 1929, período notório pela depressão econômica nos Estados Unidos. Deixam de lado os romances e passam a ser feitos aventuras de capa e espada em filmes cujo herói realmente faz jus a esse adjetivo. É o público visando o cinema com um escapismo. O filme utiliza a ideia do som ambiente (ou diegético, oriundo da própria narrativa) como um modo de apresentar aquele novo universo não somente a nós, espectadores, mas, também, aos personagens da trama que são, afinal, espectadores de toda aquela revolução cultural e tecnológica.

Para tanto, Hazanavicius utilizou uma contagiante trilha original de Ludovic Bource (parceiro habitual do diretor), que consegue transmitir toda a emoção das cenas cujos diálogos ficam em segundo plano. Em primeiro plano acabam por ficar os olhares e os sorrisos. Principalmente os sorrisos, uma vez que boa parte da enérgica presença em cena de Bejo e Dujardin se faz pela capacidade que ambos têm usar seus carismáticos rostos para cativar os espectadores. E em um filme onde não é possível usar a própria voz para atuar, tudo se fixa na expressão. E, claro, o cãozinho Uggie, verdadeiro herói do filme, que com toda sua coragem acaba sendo o único amigo de George nos momentos em que ele mais precisou.

Amigos inseparáveis: George Valentin e seu cãozinho
Como homenagem ao cinema, O Artista é um filme indefectível. Uma obra que consegue colocar em apenas 100 minutos de projeção, toda uma profusão de detalhes relacionados à sétima arte que deixariam Harold Lloyd ou Charles Chaplin orgulhosos. Impossível não admirar um filme que brinca de modo tão criativo com a ideia de suicídio e o tal som de BANG! possivelmente proferido pela arma.

Em pleno 2011, um filme que trouxe de volta todo o encantamento de se ver uma apresentação de sapateado. Fred Astaire e Eleanor Powell sorririam entre palmas. 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Viagem 2 - A Ilha Misteriosa

(Journey 2 - The Mysterious Island, EUA, 2011) Direção: Brad Peyton. Com Josh Hutchson, Dwayne Johnson, Michael Caine, Luis Guzmán.


Confesso que ao entrar no cinema para ver um filme de aventura com apelo infantil que tinha como Dwayne Johnson o protagonista, não esperava sair contente ao final da projeção. Quando os créditos subiram, precisei admitir que a produção conseguiu um bom resultado ao mesclar elementos da literatura de Julio Verne (A Ilha Misteriosa, 20 mil léguas submarinas), Jonathan Swift (As Viagens de Gulliver) e Robert Louis Stevenson (A Ilha do Tesouro) em uma história enxuta que, abraçando  a proposta do longa, não insulta a inteligência do espectador.
O filme, continuação da produção de 2008, Viagem ao Centro da Terra, que também contava com a presença de Josh Hutcherson, narra a história do jovem verniano (designação aos leitores fãs de Julio Verne) Sean, que decifra um sinal em código Morse a partir de uma estação meteorológica. Convencido de que a mensagem (que contem referencias às principais obras dos autores citados) vem de seu avô desaparecido, Sean, com a ajuda de seu tutor Hank (Johnson, que também assina como produtor executivo) descobre nela coordenadas escondidas que poderão levá-lo à ilha misteriosa do título e ao avô do garoto, um aventureiro vivido por Michael Caine.
O filme possui na figura sempre carismática de Luiz Guzmán , que interpreta Gabato, o piloto de helicóptero que levará a dupla até o local onde a ilha supostamente estará, sua variação cômica que, após algumas piadas, acaba cansando a paciência do espectador. A ilha, claro, repleta de perigos, segue bem as referências literárias, com os animais grandes que se tornam pequenos e vice e versa. Sendo assim, elefantes que cabem na mão, aranhas imensas, tubarões como peixinhos em aquários e lagartos gigantes (em uma cena chupada de Avatar), passam a compor a rotina dos aventureiros.
Claro que não convém levar muito a sério o perfil investigativo de Hank, que convenientemente como veremos no final do filme, é um ex-fuzileiro naval expert em submarinos. Mas não deixa de ser curioso ver os momentos de humor perpetrados por ele, como a cena da dança do peitoral (!?) ou perceber que a versão de What a Worderful World executada por ele mostra que, pelo menos, o cara tem talento como cantor.
Apesar de seguir a básica estrutura de “fuja do lugar antes que seja tarde demais”, Viagem 2 diverte por suas intenções não muito ambiciosas (o filme tem 90 minutos) e pelas cenas de ação bem construídas, como a já citada fuga do lagarto gigante, as passagens no fundo do mar ou o voo em cima de abelhas gigantes. Nessas cenas, o 3D acaba sendo bastante eficiente, tornando-as ainda mais divertidas.

Ao final, admito que fiquei contente ao notar o gancho para a continuação também baseada em Verne. Se mantiver o mesmo nível de diversão deste, será bem vinda. 

Cada um tem a gêmea que merece

(Jack and Jill, EUA, 2011) Direção: Dennis Dugan. Com Adan Sandler, Al Pacino, Katie Holmes.


Alguns filmes não merecem nem uma linha de reflexão a seu respeito. Falar de Cada um tem a gêmea que merece, novo “trabalho” de Adam Sandler, é chutar cachorro morto na sarjeta. Fato. No entanto, a participação de Al Pacino no longa me força a escrever alguma coisa sobre este filme. O roteiro é bem simples. Jack é um produtor de comerciais casado e que possui uma irmã gêmea desagradável que tenta evitar ao máximo. Quando descobre que, a convite de sua esposa, a gêmea Jill (também interpretada por ele) passará o feriado de Ação de Graças em sua casa, o homem tenta a todo custo expulsar a mulher de seu lar.

Com esse fiapo de história, que tem, claro, na figura de Sandler seu roteirista, veremos uma sucessão de piadas clichê envolvendo a suposta falta de adequação do “Sandler mulher” (não consigo chamá-la pelo nome da personagem) na vida romântica. Também, pudera, o modo grotesco como o roteiro a pinta, inserindo cenas envolvendo sudorese excessiva, roupas com manchas de suor nas axilas e (claro que não poderia faltar) o movimento intestinal e flatulento da personagem, exigiria de qualquer homem um árduo esforço para enxergar a tal “beleza interior” da mulher.

E é daí que surge a ideia nefasta de colocar na figura de Pacino a presença desse homem. Talvez enxergando como uma oportunidade de fazer piada de sua lenda ao inserir frases marcantes de personagens como Tony Montana ou Michael Corleone, Pacino topou interpretar a si mesmo como possível par romântico do Sandler mulher. Alguns momentos, como quando ele está no palco interpretando uma peça de Shakespeare e insere uma frase marcante de O Poderoso Chefão até geram certos risinhos, mas a repetição insistente dessas piadas de referência acaba cansando.

No final, ao vermos o próprio Pacino pedir para queimar todas as cópias e não deixar ninguém ver o que ele acabara de fazer soa como um pedido de desculpa proposital, uma forma de fazer piada da própria infelicidade. Creio que a infelicidade pertence a quem estava do lado de cá da tela.

Ps. Para quem já viu o filme, saliento que preferi não citar a participação de Johnny Depp que, de forma até inteligente, optou por restringir a alguns segundos sua presença em cena.

Inteligente? O linha entre o bom humor e a estupidez é bem tênue.