quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Entrevista: Breno Silveira



Diretor cujas obras tendem a um teor emocional, Breno Silveira disse ter se assustado quando percebeu que teria que registrar em filme a vida de um mito como Luiz Gonzaga. “A importância dele hoje é até difícil de mensurar”, explica o cineasta. O acesso às fitas de entrevistas gravadas por Gonzaguinha nos papos que este levou com o pai nos últimos anos de sua vida serviu como ponto de partida. A ideia era traçar um roteiro que focasse na relação conturbada entre esses dois ícones da música brasileira sem deixar de lada a trajetória do velho Lua. Com três atores vivendo as diferentes fases da vida de Gonzagão e uma reencarnação vivendo Gonzaguinha (Julio Andrade, ator que espanta pela semelhança com o filho do Rei do Baião), Breno diz que ficou muito feliz pela percepção do público nesse êxito da escolha do elenco. Após o sucesso da cinebiografia da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano em 2 Filhos de Francisco e do emocionante À Beira do Caminho, filme com João Miguel lançado em 2012, Breno Silveira deixa mais uma vez a marca de seu cinema emocional na história de outro ídolo da música e ajuda a tornar Luiz Gonzaga ainda mais eterno. É como diz a letra da canção-tema Mundo do Lua, interpretada por Gilberto Gil “Que vocês ainda possam me escutar/ Através de minhas velhas gravações/ É sinal que o mundo vai continuar / A Viver de mitos, sonhos e paixões”. Com obras como Gonzaga – De Pai pra Filho, esse sinal cantado por Gil se torna ainda mais perceptível.

Confira o papo!

Adentrar no universo mítico de um monumento como Gonzagão. Você tinha ideia do desafio que seria transformar a vida desse cara em filme?

Para mim, é um desafio muito duro falar de um cara que mitifica ainda mais com o passar do tempo. Isso é muito bonito. Se você vai a vários lugares do nordeste, Gonzaga ainda é a mola de tudo. Não tem São João sem que ele não seja o cara mais tocado. Todo ano ainda é assim. Ele cresceu com o tempo. A importância dele hoje em dia é difícil de medir. É um ícone nordestino de uma importância absurda e é de uma responsabilidade tremenda ter que retratar um cara que é um mito. Eu juro que cada vez que eu pisei em Pernambuco, que é a terra de meus avós, eu pensava: “cara, eu to fazendo a historia desse cara? Tô maluco!” (risos) Mas eu acho que no filme eu consegui ter a sorte de encontrar um eixo que foram essas fitas. E através dessa relação, eu consigo mostrar uma parte de Gonzagão. Não um todo, porque eu acho que ia precisar de uns dez filmes pra contar toda a vida dele. No mínimo. Nem em uma minissérie eu acho que conseguiria. Até mesmo porque esse filme vai se transformar em uma minissérie da Globo onde eu poderei colocar outras coisas. Mas é porque Gonzagão é muito grande. A gente não tem ideia do tamanho desse mito. Acho que a maior dificuldade nessa produção, nesses sete anos em que a história está comigo, foi chegar em um roteiro que tivesse começo, meio e fim e contasse as histórias que eu achasse importantes para que o público entendesse um pouco de Gonzagão. Mas que eu tinha certeza que não ia contar tudo, afinal, ele é muito grande.
  
No filme, assim como em 2 Filhos de Francisco, você opta por inserir o próprio personagem real na trama. No caso de Gonzagão, imagens e áudios de arquivo permeiam a projeção. Você acredita que essa mistura de documentário com ficção ajuda na construção da narrativa?

Essa dúvida me surgiu durante a montagem. Quando eu escrevi o roteiro, eu nunca pensei em fazer isso. Mas, de alguma forma, eu comecei a sentir falta da figura do Gonzagão no filme. Esse cara era mais emblemático, eu acho, do que o que eu tinha conseguido filmar. Isso acrescenta de alguma forma para o público que não conhece a figura de Luiz Gonzaga. Porque quem sabe da importância dele, de alguma forma, no filme, vai entender sem precisar da interferência da imagem de arquivo. Mas quando eu mostrava para um público mais jovem, algumas dessas pessoas não tinham ideia da imagem dele. E aquilo causava uma potência, sabe? Porque o cara se assustava! “Pô, mas esse era o cabra?” Isso acontecia quando eu mostrava para aquele público mais novo, ou figuras lá do Rio de Janeiro que não o conheciam direito. Porque Gonzagão é aquele cara muito forte no nordeste, mas de alguma forma, no sul, ele é menos lembrado. Então, para esse público, a diferença era de ter uma imagem de arquivo ou não era tão grande que eu cheguei à conclusão que tinha que inserir.

Você acha que isso pode facilitar, também, em uma possível carreira do longa no exterior?

Quando eu penso no filme, eu concluo que ele tem de ser bom, também, para o estrangeiro. Não porque eu penso que ele obrigatoriamente tenha que fazer carreira internacional, mas, sim, porque a gente não tem que pressupor que as pessoas conheçam Luiz Gonzaga. Eu sempre penso nisso. 2 Filhos de Francisco foi bem pra caramba lá fora. Vendeu pra Ásia inteira. Eu abri sete salas em Tóquio. E é uma história muito brasileira, mas de alguma forma, ela está contada de um jeito que você não pressupõe que sejam dois caras famosos. Então, essa opção de inserir a imagem real consegue emoldurar para um pessoa que não conhece o Luiz Gonzaga. E essa inserção do material de arquivo causa um furor, sabe? É muito louco.

Sem contar que as versões originais das canções de Gonzagão são difíceis de serem recriadas por causa da técnica única que o velho Lua possuia.

Pois é. Por exemplo, ninguém tocava o “Vira e Mexe” do jeito que eu queria. Nenhum sanfoneiro. Nenhum! Quando eu via as imagens, eu dizia: ”Mas olha o safado como toca!”. Aí alguém sempre me dizia que aquele era um swingue que só um sanfoneiro como Gonzagão tinha. Era uma particularidade dele. Então, eu pensei, “vou ter que ter ele mesmo tocando essa música porque eu não estou aguentando esse ‘Vira e Mexe’ de estúdio que vocês fizeram” (risos). Essa acabou sendo a primeira imagem de arquivo que eu inseri. Eu lembro de ter falado: “Vocês estão com um estúdio moderno, com três ou quatro sanfoneiros!  Esse cara esta somente  com uma zabumba e um triangulo e o som que está vindo da imagem real é dez vezes mais bonito do que o que vocês gravaram para acompanhar o Chambinho (do Acordeon, ator que vive Gonzaga na fase adulta)”. Essa foi a primeira vez que eu senti falta do original. Então eu pus e ficou só aquele. Aí quando veio Asa Branca”, eu falei: “Ah, rapaz, Asa Branca é maior do que isso!”. Só o real iria dar a imagem de quem foi esse cara. Não adiantava ser uma superprodução, pois só o real iria conseguir transmitir a dimensão dele.

E aqueles vídeos famosos dele, como a história de seu retorno a Exu e o reencontro com Januário? No filme, eu percebi que a história não estava na integra. Foi doloroso ter que cortar alguns trechos?

O áudio original me dava vontade de colocar a cena na integra. A fala do “cheiro do velho, do cheiro da família” ou o barulho do “timbungado” do caneco, eu tinha vontade de colocar aquilo tudo. E ficava desesperado na montagem quando percebia que tinha que cortar (risos). Eu escutava o pessoal na sala de montagem me dizendo que esse filme completo que eu queria fazer não seria possível. Então, o jeito era cortar. O problema era que quando cortava na voz de Gonzaga, cortava também na imagem, sendo que a cena original que eu gravei tinha toda a reconstrução daquele momento. Pra você ter uma ideia, toda a cena até o momento chave, que era o abraço dele no pai, tinha quase dez minutos. Então, a ideia era cortar todos aqueles minutos para sermos objetivos, uma vez que a cena teria seu auge no abraço e na festa pelo retorno do Luiz.



A escolha dos atores que viveram o Gonzagão foi algo bem eficiente, uma vez que são três gerações e a transição de um para o outro ocorre de modo bem natural. Quando vemos o adolescente Lula na interpretação de Land Vieira passar para o Chambinho do Acordeon e, em seguida, para o Adélio Lima, sentimos uma naturalidade na transição. Como foi a seleção desse elenco?

Uma das coisas que mais me deixa feliz é esse tipo de comentário. O Merten (Luiz Carlos Merten, crítico de cinema do jornal Estadão), escreveu exatamente isso. Ele falou que são três figuras que você não percebe a diferença entre elas. E são três atores totalmente diferentes!

Eu pensei que o Adélio Lima e o Chambinho eram a mesma pessoa!

(risos) Olha que lindo isso! Realmente, fico feliz. É aquela forma de atuar que a gente trabalha no set. Os trejeitos dos atores, as passagens. Eu tenho um cuidado muito grande com isso porque meu sonho era fazer com o mesmo ator. Mas eu já me deparei logo no começo com esse problema de selecionar o protagonista. Eu fiz uma porrada de testes de elenco com vários atores famosos, alguns globais até, e nenhum deles se parecia com o Gonzaga. Depois eu comecei a fazer testes para saber se algum deles tocava um instrumento. Um ou outro até tocava, mas sanfona era algo complexo. Depois eu quis que eles cantassem, e nenhum deles tinha aquele vozeirão do Gonzaga. Bom, aí nesse ponto eu já estava achando que havia entrado em um beco sem saída.  E isso já com a data pra começar a filmar marcada e eu ainda não tinha meu protagonista. Mas não podia ser. Em algum canto desse país deve ter um Gonzaga, eu pensava. Aí começamos a anunciar nas rádios. Em Caruaru, nas rádios do nordeste. A partir desse ponto, apareceram cinco mil inscritos. Com essa quantidade de inscritos, eu comecei a perceber que com Luiz Gonzaga, nada era pequeno. Não tinha brincadeira pequena com ele. Aí tivemos que criar uma forma de triagem e separamos por foto todos aqueles que eram parecidos com ele. Aí a lista caiu para 100 pessoas mais ou menos parecidas. Depois separamos todos aqueles que eram músicos daqueles que tinham atuação. O número já caiu para quarenta. A partir daí seguimos para as entrevistas individuais. Dez foram escolhidos e trazidos para o Rio de Janeiro onde cinco deles foram selecionados para ficar em laboratório de atuação em uma casa de Copacabana junto comigo e com o preparador de elenco. Com esses cinco, eu comecei a perceber que não tinha todas as idades e só o Chambinho que tinha aquele sorriso largo que esbanjava a simpatia do Gonzaga. Nesse momento, eu o escolhi e mandei o Adélio embora. Expliquei a ele que não dava porque ele não tinha aquele sorriso largo do Chambinho, que era como do do Gonzagão. Foi quando ele me perguntou sobre a versão mais velha do Luiz e eu disse que preferia trabalhar com maquiagem. Mas o Chambinho não tinha a estrutura física da versão idosa do Luiz. Aí a condição que eu coloquei pro Adélio ganhar o papel foi ele engordar, no mínimo, dez quilos. E o cara engordou! Voltou ao Rio de Janeiro dez quilos mais gordo.

Gordo feito um major, como diria o velho Lula.

Exato. Gordo feito um major (risos). Ele falava assim. Esse texto, inclusive, está no filme. Mas não entrou para esse corte. É quando ele entrega a sanfona para penhorar e volta na mesma birosca anos depois. Nessa volta, ele pergunta ao dono que está ouvindo rádio se costuma tocar muito Luiz Gonzaga ali.  O cara, sem reconhecer o homem, responde dizendo que toca demais. Luiz pergunta a ele se é verdade que o cantor é dali daquelas bandas. O dono da birosca se empolga dizendo que sim, ele é o filho de Januário, mas agora ele enricou. Tá gordo feito um major (risos).

O roteiro é baseado no livro da Regina Echeverria e nas fitas que Gonzaguinha gravou com entrevistas com pai. Como se deu o processo de filtragem para chegar ao material final?

Antes dessas fitas que me levaram a fazer o filme chegarem às minhas mãos, elas passaram pela Regina, que acabou fazendo uma bela biografia. A partir disso, a gente comprou os direitos do livro para fazer o longa. Com o tempo, eu acabei percebendo que as gravações me comoviam mais do que o próprio livro. Então, eu usei muito a obra, mas nas fitas tinham informações mais importantes e, fora isso, a quantidade de histórias que iam chegando das pessoas que viveram com ele era tão absurda que somente a biografia não deu conta. Então, o filme acabou tendo uma parte inspirada nela, mas o resultado final foi além. Afinal de contas, Luiz Gonzaga possui muito mais histórias do que um livro.

A música do Gilberto Gil (Mundo do Lua) entrou no projeto de que forma?

Eu procurei o Gil porque uma parte das músicas do Luiz Gonzaga foram regravadas por ele na ocasião de Eu Tu Eles, filme do Andrucha Waddington que eu fotografei. No disco do filme, ele regravou mais de dez músicas do Luiz. E aquela coisa me impressionou muito porque o Gil falava demais no Luiz Gonzaga. Quando esse projeto começou, uma das primeiras pessoas que eu fui entrevista foi o ele. Na ocasião, Gil demonstrou interesse em me ajudar e criar uma parceria no projeto. Foi quando eu pedi a ele uma canção e que me ajudasse na seleção das músicas. Ele respondeu que “pra Gonzagão, qualquer coisa na terra”. Pouco antes de eu  terminar o corte do filme, eu mandei para ele algumas imagens. Acabou que ele me procurou depois dizendo que tinha se emocionado e que havia composto uma canção sobre o Luiz Gonzaga, Mundo do Lua, cuja letra abre o filme. Uma canção linda demais.



Entrevista: Cyria Coentro - Gonzaga De pai pra filho



Por João Paulo Barreto

Em seu segundo filme sob a direção de Breno Silveira (o primeiro foi Era uma Vez...,de 2008), Cyria Coentro teve a responsabilidade de viver a mãe de Luiz Gonzaga, uma personagem que oscila entre a doçura da maternidade e a postura firme de uma matriarca familiar no sertão nordestino. Santana, mulher do lendário sanfoneiro Januário, criou Luiz Gonzaga até os 17 anos, quando ele precisou fugir da fúria de um coronel de Exu, no interior de Pernambuco. Ela carregou durante muitos anos a dor por achar que a sua surra foi a responsável pela partida do filho. “Aquela foi uma surra dada para salvar a vida do próprio filho. O fato dela chorar no momento em que dá a surra demonstra isso”, explica Cyria. Santana foi um papel que exigiu um apuro na atuação da atriz baiana, uma vez que não havia muitas cenas na qual ela pudesse desenvolver essa relação entre mãe e filho. Com experiência na televisão e no teatro, Cyria está em cartaz com a peça Los Catedrásticos e fala nessa entrevista sobre como é transitar tão bem entre a comédia e o drama; (falta de) opções para o mercado cultural em Salvador e, claro, sobre Santana e seu filho, Luiz Gonzaga.

Confira o papo!

Olá Cyria. Antes de a gente começar a entrevista, primeiramente eu queria agradecê-la pelas gargalhadas proporcionadas em Los Catedrásticos.

Ah, sim. (risos) Você viu quando?

Há dois meses, no teatro do ISBA.

Recente, então. Bom, fico feliz por você ter gostado.

Bom, aproveitando esse contexto, eu queria te perguntar sobre essa transição da comédia para o drama e vice versa. Em Gonzaga, você interpreta uma mãe do sertão, personagem que sofre pela saudade do filho e tem uma das cenas mais dramáticas do longa. É difícil conciliar o drama com a comédias?

Olha, eu sou uma atriz essencialmente dramática e uma comediante circunstancial. Eu não me considero uma comediante. Por exemplo, Maria Menezes, que é uma grande amiga e minha colega de atuação em Los Catedrásticos. Ela tem perfil de uma comediante. Eu não tenho, Mas eu transito bem na comédia quando eu tenho um respaldo. Mas o meu gênero natural é o drama. Eu tenho mais facilidade com ele.



Alguns críticos de cinema costumam afirmar que os melhores atores são oriundos da comédia. Você concorda com isso?

Eu acho que um ator que faz bem o drama, ele tem grandes chances de fazer bem a comédia. O drama e a comédia são gêneros opostos e muito difíceis. Cada um com a sua dificuldade específica. Mas o drama requer um aprofundamento no sentimento. Pois o ator precisa dessa capacidade de transformar aquele sentimento, vamos dizer, mentiroso, em uma coisa crível, afinal, ele pode não estar sentindo aquilo de verdade. Isso é necessário para que o público não fique apenas assistindo-o fazer o drama, para que o público se emocione junto com ele. Isso para mim é mais delicado do que você descobrir o timing da comédia. Para mim, o segredo do drama é esse: é você transformar esse sentimento em algo crível e, de fato, emocionar o público. O segredo da comédia é você descobrir o timing da piada. São os cliques com os quais você se liga e leva o público junto com você. Claro que o timing da comédia não é algo que seja simples, porque uma pessoa que não tem nenhum traquejo com esse gênero não vai conseguir chegar a esse timing e não vai contar a piada. Mas é uma coisa menos profunda, algo que requer menos sensibilidade, digamos assim (pensativa). Não, não é sensibilidade a palavra. Requer menos aprofundamento, eu vou colocar essa palavra. Por que o sentimento tem que ter um aprofundamento, e a comédia pode estar em um plano mais superficial no qual você pode atingir a plateia. Mas o sentimento se você não aprofunda...

É como se o alcance do timing da comédia fosse mais rápido que o do drama?

(pausa) É, na comédia, se você está no timing certo, o alcance é mais rápido. Se você está com o timing certo, toda a plateia vai te acompanhar e rir. Tem que ser alguém muito mal humorado para não achar aquilo engraçado. E o drama, você transformar aquele sentimento em algo capaz de captar todo mundo, é mais difícil. O alcance do drama pode não chegar a todos da plateia, afinal lá pode ter pessoas que são mais difíceis de se emocionar. Na comédia, se você está no tempo certo, a plateia inteira vai rir. Para fazer a plateia inteira chorar é mais complicado (risos).

As histórias que Luiz Gonzaga contava em relação aos pais são muito tocantes e sensíveis, algo que denota uma relação muito intima que ele tinha com Januário e Santana. Há aquela história da surra que ele levou da mãe quando resolveu desafiar o coronel, pai de sua amada. Nessa, ele fala que apanhou até o cabo da faca se desmanchar. Sua personagem, Santana, é uma mãe do sertão. Uma pessoa que consegue equilibrar bem a doçura da maternidade e o amor pelos filhos com a aspereza e dureza daquele ambiente do sertão. Como foi trazer esse equilíbrio para sua atuação? Afinal, você também é mãe e conhece esse sentimento.

Para mim, essa foi a grande chave e o ponto mais delicado da construção dessa personagem. Ela é, de fato, uma mulher do sertão. As pessoas do sertão são mais secas, ásperas, pela própria condição geográfica. É muito sol na cabeça, é muito calor, as pessoas se pegam menos. Além disso, a rotina de trabalho é muito pesada. A vida é muito dura. Essas condições acabam por tornar o afeto muito singular e diferente do meu, por exemplo. Eu sou uma mãe muito rigorosa. Para tudo tem horário, mas, ao mesmo tempo, eu sou muito amorosa, derretida. Coisa que a Santana não é. E, ao mesmo tempo, eu não via a Santana como uma mãe dura e rígida apenas. Ela tinha uma doçura que eu não sabia exatamente onde colocar. Acabou que eu tentei colocar no olhar. Afinal, ela não tem muita atitude amorosa. E também não demonstra muito calor amoroso em suas falas. Ela é muito seca no texto. E como em todas as histórias, são momentos estanques que são retratados. O filme não conta uma vida, conta momentos. Então, eu não tinha muitas oportunidades dentro do roteiro para construir essa mãe no decorrer do tempo. Eu não tinha tantas cenas para mostrar esses lados dela. Onde ela é amorosa, onde está o carinho, onde esta a dedicação de mãe ou, no outro extremo, onde está a rispidez, a dureza. Então, eu tentei mostrar essa doçura no olhar. A maneira como ela olha para o filho, a maneira como ela o repreende foi como eu resolvi usar isso.



Durante a surra, percebemos que ela está chorando, inclusive.

Sim. E o fato dela chorar nesse momento demonstra que aquela é uma atitude que ela se viu obrigada a ter por ter visto a iminência do seu filho morrer. Aquela é uma surra que ela dá para salvar a vida do filho. Ela está se matando para salvá-lo. Após aquilo, ela não se recuperou. Passou meses sem comer ou dormir direito. Depois que ele foi embora, ela se culpou e sofreu muito com aquela atitude que cometeu. Afinal, ele passou 16 anos fora. O mais curioso é que nada naquela cena estava previsto. Ela não foi ensaiada, não tinha texto no roteiro. E foi uma cena que me pegou de surpresa, pois ela estava escalada para o terceiro dia de filmagem e acabou sendo a primeira que nós rodamos do filme com a minha personagem. Eu cheguei no set e o plano de filmagem era com outras cenas externas, mas por conta do tempo que ficou nublado, acabaram sendo adiadas. Aí nós entramos e fizemos as internas, sendo a primeira justamente essa da surra. Eu me lembro de ter entrado em um rápido desespero, chamei Breno (Silveira, diretor do longa), “Breno, como assim? Eu não estou preparada para filmar essa cena agora. A primeira?” (risos) O texto saiu na hora de fazer a cena. Tudo que eu falo eu não pensei muito antes. Foi algo um pouco no susto e acabou saindo.

Seu segundo trabalho com o Breno Silveira. Começou com o Era uma vez... (2008) e agora se complementa com Gonzaga. Está virando uma parceria?

Ô, parceria abençoadissima, (risos). A gente se conheceu durante os testes que fiz para o Era uma vez... Tive sorte de ser selecionada entre tantas outras atrizes e acabou sendo um encontro muito feliz porque eu sou uma atriz que ama ser dirigida. Eu não sou uma atriz autossuficiente. Eu chego no set com uma proposta, com o texto estudado, mas eu sou como um papel em branco. Venho com o texto estudado e minha compreensão da personagem, mas, ao mesmo tempo, eu venho muito disponível para o diretor. Amo colocar na minha interpretação pedidos do diretor. E o Breno tem uma direção muito carinhosa, muito subliminar. Ele não te fala o que é que ele quer que você faça. É meio como o Zé Celso (Martinez Corrêa, um dos principais nomes da direção teatral brasileira). Eu trabalhei com o Zé no teatro e, claro, são coisas totalmente diferentes, eu não estou comparando os dois, mas eu me senti da mesma forma sendo dirigida no teatro pelo Zé Celso e no cinema pelo Breno. Eles não falam o que eles querem, de que forma eles querem que você fale, qual é o gesto, qual a marcação da cena. É uma direção de imagens, repleta de subtextos e que preenche o ator. Foi uma parceria muito feliz a minha e a do Breno. Eu gostei da maneira como fui dirigida e ele se sentiu confortável ao perceber em mim uma atriz que responde ao estímulo do diretor.

Breno é conhecido por ter em seus trabalhos uma carga bastante emocional. Você acha que isso é um reflexo dessa direção mais calma?

É um reflexo dos tipos de direção dele e dos temas que ele aborda. O tema que permeia todos os filmes do Breno é justamente o poder do amor. Ele fala do amor que nasce nas relações e no poder de transformação desse sentimento. São vários tipos de amor. É o amor de 2 Filhos de Francisco, de um pai pelos filhos. Esse sentimento não é só o bonzinho ou o cor de rosa. Ele também tem seu lado cruel, como a surra da Santana; a infância sofrida dos dois meninos junto ao pai, Francisco; o amor sofrido que nasceu entre o caminhoneiro João e o garoto que pede carona em À Beira do Caminho. Em Gonzaga são vários esses amores. É o amor entre ele e sua paixão de adolescente, entre ele e a Odaléia e, por fim, o amor que é resgatado entre o pai e o filho no final da vida. Enfim, para mim, esse resultado dos filmes do Breno, algo que faz com que eu me debulhe em lágrimas, não que eu seja uma pessoa muito difícil de chorar, mas, pelo amor de Deus (risos), nos filmes do Breno a gente morre, praticamente, de chorar. Essa comoção que os filmes dele causam se deve tanto aos temas quanto a essa forma dele de dirigir, que é muito emotiva. Ele é um diretor que abraça o ator, sabe? As cenas dramáticas que eu fiz em Gonzaga fazem com que ator entre naquele estado. Claro, muitos profissionais podem dizer “ah, eu sou um ator, não senti nada”, mas para você fazer uma cena como a da surra que Santana dá em Luiz, ou a última cena de Era uma vez...,, por exemplo, o ator tem uma entrega naquela emoção que quando o diretor diz “corta!”, aquilo não acabou ainda. O Breno acolhe esse ator até você conseguir se livrar daquela emoção. É o conforto de uma parceria. Eu estou fazendo o filme para ele, então é como se o Breno estivesse agradecendo. Há uma maneira dele se relacionar com os atores que é muito afetiva. E isso se reflete nas atuações e no resultado final do filme.

Você fez parte do elenco de 3 Histórias da Bahia, o filme que reinaugurou a produção do cinema baiano. Hoje, apesar de ainda não ser o ideal, já há uma diferença perceptível na cena cinematográfica daqui. Diretores como Sérgio Machado, Cláudio Marques, Marília Hughes, Pola Ribeiro, Edgar Navarro, Henrique Dantas, João Rodrigo Matos, são nomes que levam para frente a sétima arte aqui em Salvador. Qual a sua opinião em relação ao cinema feito na Bahia atualmente?

Eu ainda acho muito tímido o mercado cinematográfico baiano. Se a gente pensar em Recife, por exemplo, chega a ser um disparate comparar com a produção de lá. A quantidade de investimentos em Pernambuco é muito maior. E é lamentável essa falta de investimento aqui na Bahia. Eu morei no Rio durante onze anos, voltei ano passado para cá e estou muito triste com o Estado da Bahia como um todo. Salvador toda esburacada, tudo abandonado, os teatros não tem subsídios. Eu fiquei em cartaz agora um ano inteiro com um espetáculo de sucesso (Los Catedrásticos) e os jornais, quando vão divulgar a peça, pedem por fatos novos. Meu Deus, o fato novo é justamente esse! Um ano de sucesso com a peça, um grupo que tem 23 anos de estrada. Aqui há uma mentalidade ainda muito do contra. Eu não entendo isso. É como se nem a mídia, nem os governantes, nem a secretaria de cultura estivesse lutando a favor. Cadê esse prefeito? Cadê esse governador? Aonde estão essas pessoas? Fizeram o que pela Bahia? Há um sintoma em Salvador, sabe? Eu não entendo por que a orla daqui nunca teve uma reforma. Não entendo por que não há hotéis, bares, restaurantes por lá. A Barra ser daquele jeito há décadas, aquele Porto da Barra sujo daquele jeito. É uma cidade que é linda, que eu amo, que se eu pudesse escolher, eu moraria aqui, afinal é o lugar eu nasci, onde minha família e grandes amigos vivem. Foi onde eu estudei e criei meus vínculos, mas eu sofro morando aqui, sofro por ser um lugar que não te oferece opções de lazer, que não tem investimentos na área de cultura. O polo de cinema tá dando sinais de vida, mas ainda não tem a força que eu acho que poderia ter. O que não falta aqui é artista talentoso e não é à toa que praticamente todos estão fora. Poucos estão aqui. Afinal, o ator aqui fica sem opção. Então, você tem que sair, tem que ir atrás. Salvador merece um investimento maior.

sábado, 20 de outubro de 2012

Mostra Itinerante Jorge Cine Amado

Por João Paulo Barreto



Difícil tentar explicar o quão gratificante é poder falar sobre a obra de Jorge Amado para adolescentes das cidades do interior da Bahia, terra tão carente e desprovida de incentivos literários. Melhor ainda é poder ilustrar essa mesma obra com os ótimos filmes que foram feitos com base nos textos do gênio baiano. Com uma curadoria organizada pela neta de Jorge, a cineasta Cecília Amado, esse projeto teve início no dia 9 de outubro em Porto Seguro e se estenderá até o dia 10 de dezembro. Nesses dois meses, serão visitadas 15 cidades da Bahia nas quais os filmes Capitães da Areia, Tieta do Agreste, Quincas Berro D´Água, Dona Flor e Seus Dois Maridos e os documentários Jorge Amado e Jorjamado no Cinema, dirigidos por João Moreira Sales e Glauber Rocha, respectivamente, serão exibidos.  O intuito é compor um diálogo acerca da identidade do povo brasileiro através das ideias do escritor que sempre defendeu a miscigenação como a solução para o fim do preconceito e do racismo.

Em Lençóis, no Centro de Cultura Afrânio Peixoto, tive contato com adolescentes e adultos que, interessados em se aprofundar um pouco mais na mitologia baiana proposta por Jorge, assistiram ao longas Capitães da Areia, filme de 2011 dirigido por Cecília Amado, e Quincas Berro D’Água, excelente adaptação dirigida pelo cineasta Sergio Machado e estrelada por Paulo José, Frank Menezes, Luiz Miranda e Irandhir Santos. Além desses dois longas, o documentário de João Moreira Sales fechou a programação em Lençóis causando reflexão acerca da militância política do começo da carreira de Jorge, quando este era vinculado ao partido comunista e quanto à sua preocupação no que tange à identidade do povo brasileiro e suas mais variadas etnias. Para Jorge, o racismo no Brasil só terminaria quando todos nós nos reconhecêssemos como um povo miscigenado e não enxergássemos isso como um fator negativo, mas, sim, como uma junção dos diversos pontos de qualidade que nos fazem uma nação.

Auditório do Centro de Cultura Afrânio Peixoto (Lençóis-BA)
O documentário de João Moreira Sales é, de fato, a mais importante das obras exibidas nessa mostra. Ao ilustrar o pensamento retrogrado do começo do século XX, ocasião em que intelectuais como Sylvio Romero, Nina Rodrigues e Tobias Barreto defendiam abertamente a política de não miscigenação sob o pretexto absurdo de que a mistura seria “um fator de degeneração”. Isso vindo de um professor de medicina (Nina Rodrigues) cuja origem familiar era mestiça. A possibilidade de diálogo que essa obra trouxe ao evento foi o ponto alto da noite, uma vez que a plateia, composta em sua maioria por afrodescendentes, pôde perceber a importância da valorização da sua identidade étnica e cultural, algo que Jorge Amado sempre colocou como primordial em seus escritos.

Além desses fatores oriundos das questões raciais, a fase comunista de Jorge pôde ser melhor aprofundada na conversa com os presentes, buscando trazer para um papo mais acessível questões delicadas como posturas políticas retrogradas oriundas de regimes militares. Sendo Amado um stalinista durante seus primeiros anos como escritor, uma das melhores partes do doc está no momento em que o escritor admite ter passado a renegar o partido comunista quando descobriu as barbaridades do regime soviético. Fechando com a frase “ideologia é uma merda”, Jorge torna clara sua nova postura em relação a essa fase de sua vida.

Ao final, a mensagem de valorização da obra desse baiano junto às novas gerações pôde ser passada. Se apenas uma minoria presente na noite do dia 20 de outubro de 2012 percebeu isso, já teremos cumprido nossa missão.

Agradeço ao caríssimo Aurélio Laborda Neto, cujo suporte e presença local na produção do evento tornou tudo muito mais fácil.

Também meus agradecimentos a Caco Monteiro pela idealização e a João Carlos Sampaio pelo convite. 


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

8º Panorama Internacional Coisa de Cinema



Por João Paulo Barreto


Durante os meses de julho, agosto e setembro, compus, junto com os cineastas Cláudio Marques e Marília Hughes e os críticos de cinema Rafael Carvalho (Moviola Digital) e Rafael Saraiva (Coisa de Cinema), a curadoria da oitava edição do Panorama Internacional Coisa de Cinema. Foram assistidos mais de trezentos curtas metragens de várias partes do Brasil e quase cinquenta longas, todos no intuito de selecionar 24 filmes (8 com duração superior a 30 minutos e 16 inferiores a essa metragem). Além disso, cada escolha precisava encontrar relações entre os filmes, algo que gerasse um diálogo entre os selecionados.  Esse conjunto deu origem às oito competitivas nacionais a serem exibidas no período entre 25 de outubro e 1º de novembro de 2012, no Espaço Itaú de Cinema – Glauber Rocha, na Sala Walter da Silveira, ambos em Salvador, além da exibição simultânea na cidade de Cachoeira.

Foram três meses intensos, nos quais a rotina de ver filmes foi ampliada de forma exponencial, forçando um apuro no olhar cinematográfico, algo imprescindível para qualquer um que queira se aventurar na área do jornalismo voltado para a sétima arte. Nesse período, tive acesso a trabalhos de extremo apuro visual, instigantes roteiros e inspiradas ideias. Pude constatar o quão realmente é rico o terreno do audiovisual no Brasil e que, infelizmente, só não é mais valorizado por conta de políticas retrógradas e excludentes para com o incentivo cultural que deveria se originar de forma mais justa pelo MinC. No entanto, há aqueles cineastas que não se abatem por conta da falta de apoio governamental e, ainda assim, constroem suas narrativas na base do coletivo (afinal, o cinema é isso: uma arte coletiva), juntando esforços e transformando em imagens ideias que merecem ser divulgadas.

Experiência por demais gratificante e desafiadora a de ter acesso aos novos trabalhos de cineastas conceituados e de novos talentos que, em 2011 e 2012, ousaram e ajudaram a tornar ainda mais plural o cenário cinematográfico brasileiro criando um novo panorama que o Panorama Internacional Coisa de Cinema, já em seu oitavo ano, tem o maior prazer em divulgar. Um brinde ao cinema e, mais importante, um brinde à discussão acerca de cinema.

Confira abaixo a lista final de selecionados para as competitivas Nacional e Baiana do festival. 


Competitiva Nacional de Longas

A cidade é uma só? / Is the city one only?
Adirley Queirós, DF, 80’, Cor, Digital, 2011

Dai eu pensei em como fazer um filme bem legal, agradável e gângster: Brasília, I Love You.
Then I thought: how to make a nice movie, enjoyable and gangster. Brasilia, I love you.



As hiper-mulheres/ The Hyperwomen
Carlos Fausto, Leonardo Sette, Takumã Kuikuro, PE, 80’, Cor, Digital, 2011

Temendo a morte da esposa idosa, um velho pede que seu sobrinho realize o Jamurikumalu, o maior ritual feminino do Alto Xingu (MT), para que ela possa cantar uma última vez. As mulheres do grupo começam os ensaios enquanto a única cantora que de fato sabe todas as músicas se encontra gravemente doente.

Fearing the death of his wife, an old man requests that his nephew perform the Jamurikumalu, the main women's ritual of the Indigenous peoples of the Upper Xingu, so that she may sing one last time. The women start the rehearsals, but the only singer who really knows all the songs is seriously ill.



Boa Sorte, Meu Amor/ Good Luck, Sweetheart
Daniel Aragão, PE, 95’,P&B, 35mm, 2012
Dirceu, 30 anos, tem origens que remontam à aristocracia latifundiária do sertão pernambucano. Maria compartilha as mesmas origens sertanejas, mas ela usa a cidade para outro propósito. Ela é uma despojada estudante de música com alma de artista. Se Dirceu aspira a um mundo estável e presente, Maria vive em discordância com o presente. Boa sorte, meu amor é um antiromance do impacto entre a música e o silêncio.

Dirceu, 30 years old, has origins that go back to the aristocracy of Northeast Brazilian backlands. Maria shares the same country origins, but she uses the city for a different purpose. She is a carefree and joyful music student. On a route of escape through the desert of the backlands, a unique encounter is set to happen. Boa sorte, meu amor (Good luck, sweetheart) is an anti-romance of the impact between music and silence.



Doméstica/ Housemaids
Gabriel Mascaro, PE, 76’, Cor, Digital, 2012

Sete adolescentes assumem a missão de registrar por uma semana a sua empregada doméstica e entregar o material bruto para o diretor realizar um filme com essas imagens. Entre o choque da intimidade, as relações de poder e a performance do cotidiano, o filme lança um olhar contemporâneo sobre o trabalho doméstico no ambiente familiar e se transforma num potente ensaio sobre afeto e trabalho.

Seven adolescents take on the mission of filming, for one week, their family´s housemaids and hand over the footage to the director to make a film. The images confront us with an intricate web of human emotions that uncover the complex relationship between intimacy, power and the performance of the daily routine. The film provides us with a strong social commentary on the work of housemaids in contemporary Brazil.


Esse Amor Que Nos Consome/ This love that consumes
Allan Ribeiro, RJ, 80’, Cor, Digital, 2012

Gatto Larsen e Rubens Barbot são companheiros de vida há mais de 40 anos e acabam de se instalar em um casarão abandonado no Centro do Rio de Janeiro. Ali, eles passam a viver e ensaiar a sua companhia de dança. A luta do dia-a-dia se mistura à criação artística e à crença em seus orixás. Através da dança eles se espalham pela cidade, marcando seus territórios.
Gatto and Barbot are lifelong companions for more then 40 years and have just moved to a big decayed and abandoned building in downtown Rio de Janeiro, where they start to live and promote their dance company rehearsals. The difficulties of everyday life are merged to artistic creation and to their belief in the Orishas Gods. Bit by bit, they spread their dance throughout the city.



O que se move/ The moving creatures
Caetano Gotardo, SP, 97’, Cor, Digital, 35mm, 2012

Três núcleos familiares precisam lidar com uma mudança brusca em suas vidas. Um olhar sobre os afetos que movem essas famílias e as três mães que cantam o amor por seus filhos em momentos difíceis.

Three families have to face a sudden change in their lives. Three mothers sing the love for their children in difficult moments. A film about affection on the borders of painful happenings.




Otto
Cao Guimarães, MG, 71’, Cor e P&B, Digital, 2012

Otto é um filme que acompanha o processo de gravidez da minha mulher e o nascimento de meu filho. Instintivo e visceral como um gesto. Intimista e confidente como um diário filmado. Uma celebração à vida, um filme de amor.

Otto is a film that accompanies the process of pregnancy of my wife and the birth of my son. Instinctive and visceral as a gesture. Intimate and confident as a filmed diary. A celebration to life, a film of love.




O Som Ao Redor/ Neighbouring Sounds
Kleber Mendonça Filho, PE, 131’, Cor, Digital, 2012

A vida numa rua de classe-média na zona Sul do Recife toma um rumo inesperado após a chegada de uma milícia que oferece paz de espírito e segurança particular. A presença desses homens traz tranqüilidade para uns e tensão para outros, numa comunidade que parece temer muita coisa. Enquanto isso, Bia, casada e mãe de duas crianças, precisa achar uma maneira de lidar com os latidos constantes do cão de seu vizinho. Uma crônica brasileira, uma reflexão sobre história, violência e barulho.


Life in a middle-class neighbourhood in present day Recife, Brazil, takes an unexpected turn after the arrival of an independent private security firm. The presence of these men brings a sense of safety and a good deal of anxiety to a culture which runs on fear. Meanwhile, Bia, married and mother of two, must find a way to deal with the constant barking and howling of her neighbour’s dog. A slice of ‘Braziliana’, a reflection on history, violence and noise.




Competitiva Nacional de Curtas
- A Anti-Performance/ The Anti-Performance (Daniel Lisboa - BA)

- A Mão Que Afaga/ The Comforting Hand (Gabriela Amaral Almeida – SP)

- A Onda Traz, O Vento Leva/ The Wave Brings, The Wind Takes (Gabriel Mascaro – PE)
 - Ausência/ Absence (Jardel Tambani - SP)
- Dia Estrelado/ Starry Day (Nara Normande - PE) 

- Dizem Que Os Cães Vêem Coisas/ Dogs Are Said To See Things (Guto Parente - CE)

- Dona Sônia Pediu Uma Arma Para Seu Vizinho Alcides/ Mrs Sônia Asked

- A Gun To Her Neighbour Alcides (Gabriel Martins – MG) 

- Laje do Céu/ Sky Slab (Leo França – BA)

- Luna e Cinara / Luna And Cinara (Clara Linhart – RJ) 

- Menino Do Cinco/ The Boy From The Fifth (Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira – BA)

- Na Sua Companhia/ By Your Side (Marcelo Caetano – SP)

- Odete (Ivo Lopes Araújo, Luiz Pretti, Clarissa Campolina – CE)

- O Duplo/ Doppelgänger (Juliana Rojas – SP)

- Os Mortos Vivos/ The Living Dead (Anita da Silveira – RJ)
- Porcos Raivosos/ Enraged Pigs (Isabel Penoni e Leonardo Sette – PE)

- Pra Eu Dormir Tranqüilo/ To Sleep Quietly (Juliana Rojas – SP)


Competitiva Baiana

- A Descoberta (Ernesto Molinero)
- Amém (Marcus Curvelus)
- Arremate (Rodrigo Luna)
- Desvelo (Clarissa Rebouças)
- Entre Passos (Elen Linth)
- Esc4escape (Alexandre Guena) 
- Isso Não é o Fim (João Gabriel)

- Joelma (Edson Bastos)

- O Cadeado (Leon Sampaio)

- O velho e os três meninos (Henrique Filho)
- Premonição (Pedro Abib)
- Rua dos Bobos (Ohana Almeida)