quinta-feira, 24 de março de 2016

Batman vs Superman - A Origem da Justiça

(Batman v Superman – Dawn of Justice, EUA, 2016) Direção: Zack Snyder. Com Ben Affleck, Henry Cavill, Amy Adams, Diane Lane, Jesse Eisenberg, Laurence Fishburne, Jeremy Irons.


Por João Paulo Barreto

Um dos grandes méritos na escolha da abordagem dos roteiristas Chris Terrio e David S. Goyer para a história de Batman vs Superman – A Origem da Justiça está na sua premissa quase que exclusiva para a ideia dos deuses entre nós. Ao inserir os delírios de um Lex Luthor terrorista no aspecto da discussão da necessidade dos superseres caminhar entre os seres humanos, o filme de Zack Snyder acerta por trazer uma discussão pertinente e, até onde pode, calcada no real a um universo fantasioso.

Desde a sua abertura, com os créditos iniciais sendo inseridos de maneira sóbria (e com mais uma dramatização da morte dos pais de Bruce Wayne, friso) percebe-se uma tentativa de se criar um tom diferenciado para a obra. Não a ponto de se negar como um filme de super herói, mas conseguindo criar uma ambientação que condiz com um universo soturno, mais relacionado à Gotham do morcego do que à ensolarada Metropolis do homem de aço, por mais absurdamente próximas geograficamente que as cidades possam parecer na trama.

Infelizmente, após desenhada esta perspectiva, Snyder parece ter se sentido por demais à vontade para abordá-la com a habitual grandiloquência e apetite para destruição na execução do longa. De modo curioso, o filme se mantém fiel à sua boa premissa original durante grande parte de seu ato inicial, quando vemos crises com nações do oriente médio e ataques terroristas em Washington sendo inseridos de modo satisfatório na trama. Porém, as coisas não tardam a desandar.

Kent, Luthor e Wayne: antagonistas que fingem não saber os segredos uns dos outros
Com uma proposta inicial de desenvolver a revolta de Bruce Wayne pela insegurança que sente diante da presença de um alienígena poderoso capaz de dizimar cidades e sua busca por um meio de controlá-lo, o longa cria uma ambientação interessante de espionagem, o que contribui para uma diferente abordagem. Quando vemos Wayne adentrar a festa de Luthor sendo guiado por Alfred em uma escuta enquanto tenta localizar um servidor on line para rastrear dados do jovem magnata, nota-se essa estrutura de modo satisfatório. 

Da mesma maneira, o filme acerta na inserção dos brinquedos tecnológicos do Batman, a começar pela estrutura da batcaverna, que, apesar de mais fantasiosa do que a proposta por Christopher Nolan em seus trabalhos, aqui não deixa de impressionar por seu aspecto de base militar. A começar, claro, por seu acesso através do lago circundante na Mansão Wayne e a todo túnel subterrâneo que o leva até o lugar. De fato, aqui se faz necessária a suspensão da descrença, principalmente quando observamos a natureza real que o local possuía na trilogia anterior.

Ainda em relação a presença deste personagem, os recorrentes usos de seus sonhos para ilustrar previsões de um futuro sombrio são um espetáculo visual deveras impactante, mas caem no previsível e na mesmice por não desafiar o espectador. Ao vermos uma terra devastada (e uma suposta marca ômega oriunda do vilão Darkseid), sabemos se tratar de uma realidade imaginada por Bruce Wayne, mas o recorrente uso deste artifício narrativo enjoa.

Futuro sombrio e a marca de Darkseid anunciando novos rumos 
Em Batman vs Superman, há um desprendimento dos seus heróis no quesito da violência. Obviamente, os leitores de quadrinhos já conheciam a base do personagem mascarado oriunda do título escrito por Frank Miller, no qual um perfil mais sádico do herói era visto. Batman, aqui, tortura os homens que cruzam seu caminho e parece gostar disso. Bruce Wayne é uma esponja a absorver álcool, o que, juntamente com seus cabelos grisalhos, representa bem a ideia de que já são vinte anos combatendo o crime na noite de Gotham. 

Tal perfil escolhido acaba encontrando ecos na presença curiosamente mais soturna do homem de aço, que, dessa vez, é capaz de ameaçar com sua visão de calor um ser humano da mesma forma que não hesita em usar sua força para, provavelmente, quebrar boa parte dos ossos de outro ao levá-lo de encontro a uma parede quando este coloca Lois Lane como refém. São novos tempos, novas circunstâncias, e a opção de Zack Snyder para a violência representa bem isso, gerando uma válida contradição com ideia de que seria o homem de capa vermelha um deus.

ATENÇÃO! OS TRECHOS A SEGUIR POSSUEM SPOILERS. 

Porém, quando o tom sóbrio do embate entre os dois protagonistas do título sobe para algo mais escancarado com a inserção do vilão Apocalipse, aqui criado a partir do corpo do general Zod e com o DNA de Luthor, a impressão que fica é de algo realmente além da conta. Da mesma forma, o roteiro falha ao forçar uma relação instantânea entre Batman e Superman, quando este, já praticamente derrotado pelo humano e combalido pela radiação kriptoniana, profere o nome da refém de Lex, Martha Kent (ao invés de chamá-la de mãe), uma vez que este também é o nome da progenitora de Wayne.

Toda a batalha envolvendo a tríade, que, a essa altura, conta com a Mulher Maravilha no grupo, condiz com o perfil megalomaníaco da direção de Snyder. O aspecto exagerado de sua batalha encontra paralelo com a abordagem vista na destruição da cidade durante o primeiro filme, porém, as consequências aqui ultrapassam qualquer aspecto visto anteriormente. Desde a opção de usar ogivas nucleares no espaço até a aparição de uma suposta versão Bizarro do Superman, o ritmo do filme entra em modo catártico, mas não no lado positivo da palavra. Já imaginava que, ao optar pelo vilão Apocalipse (aqui uma cópia do trol das cavernas dos estúdios Weta, de O Senhor dos Anéis), os roteiristas poderiam querer abordar A Morte do Superman, crucial momento dos quadrinhos nos anos 1990. Porém, a ideia acaba sendo muito mal utilizada.

Apocalipse em sua versão digital: aproveitado da única forma possível
A começar por sabermos se tratar de um artifício frágil e descartável para chocar o espectador de forma superficial, sendo que não é difícil prever que o personagem voltará para o próximo filme. Além disso, o roteiro erra ao inserir a morte também de Clark Kent e até mesmo seu funeral. Como poderá ser explicado seu retorno à vida? Ao menos em sua versão impressa, seu alter ego era dado como desaparecido, enquanto era o corpo do Superman a ser colocado em uma tumba. 

O filme deixa pontas soltas incômodas neste sentido, ofendendo a inteligência do público. Vale citar que a forma atropelada com que os outros personagens a compor a Liga da Justiça é inserida, não colabora com a naturalidade de sua proposta. Em um aspecto de análise fora do filme, percebe-se como o planejamento da Marvel na apresentação de seus elementos no cinema fez falta à DC Comics.

Porém, não vale mais a pena discutir esse ponto. O estrago já foi feito e resta esperar que, pelo menos em seus futuros filmes, possamos esperar algo mais factível e de acordo com um respeito ao intelecto de sua audiência, que, sim, não é composta apenas por fanboys.

Os heróis em sua pose clássica


Um comentário:

  1. Assisto filmes do homem de aço e não vejo novidades em ser derrotado por um ser humano, lembro em um das primeiras versões acorrentado na piscina do esconderijo de Lex Luthor com uma Pedra de kryptonita senão fosse a cúmplice de Lex o super herói já estaria a 7 palmos.

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