quarta-feira, 20 de abril de 2016

Em Nome da Lei

(Brasil, 2016) Direção: Sergio Rezende. Com Mateus Solano, Paolla Oliveira, Chico Diaz, Eduardo Galvão.



Por João Paulo Barreto

Lançado em um momento oportuno da cena política brasileira, Em Nome da Lei até que não faz referências explicitas ao juiz Sergio Moro na construção do personagem vivido por Mateus Solano, aqui, também um magistrado. Porém, é impossível não lembrar da figura jovial do responsável pelas investigações da lava-jato na presença do juiz Vitor Ferreira, que assume como titular na comarca de uma cidade situada na fronteira com o Paraguai, terra sem lei e dominada por um chefão do tráfico.

Em seu fraco roteiro, o veterano diretor Sergio Rezende apresenta uma espécie de faroeste moderno e até se sai bem na ambientação do local no que se refere à violência e insegurança. No entanto, há detalhes na construção de seus personagens e na criação um tanto novelesca de suas tramas paralelas que não deixam de incomodar o espectador no decorrer da apresentação e desenvolvimento destes elementos.

Alice e Vitor, procuradora e juiz se envolvem em uma terra sem lei
A começar pelo próprio Vitor, que chega à cidade com ar de galã e já começa a demonstrar uma falta de profissionalismo ao cantar sua procuradora na primeira semana de trabalho. Ok, admito que seria difícil se concentrar tanto na labuta tendo na sala ao lado (e no quarto vizinho do hotel, friso) alguém tão bonita quanto Paolla Oliveira, que vive a procuradora Alice Costa. Mas qualquer credibilidade que o roteiro tente passar para seu protagonista cai por terra quando o vemos secar garrafas de vinho em jantares durante dias úteis (sem qualquer sinal de ressaca no dia seguinte) e tenha como meta levar sua funcionária para cama. O que, claro, acaba por acontecer. 

Deixando de lado esse detalhe da personalidade do juiz Vitor, Solano até consegue transmitir segurança nas ações perpetradas pelo seu personagem. Diante de uma cidade cuja justiça parece sempre omissa, a forma enérgica como o novo juiz passa a agir diante das atividades de tráfico de drogas do chefão Gomez (Chico Diaz) constrói bem um clima de antagonismo entre os dois, colaborando de forma positiva na ideia de um faroeste moderno. Porém, o modo como o roteiro insiste em inserir subtramas que não colaboram em nada para a história e a forma capenga como as motivações que levam ao desfecho frouxo do longa são inseridas na trama acabam por decepcionar.

Chico Diaz no papel do chefão do tráfico, Gomez. 

ATENÇÃO, SPOILERS!

Na figura do chefe do tráfico e senhor do crime na região, Chico Diz até convence. Ator de expressão marcante, Diaz consegue transmitir bem a aspereza de seu personagem, alguém cuja autoconfiança bem como a certeza da impunidade subiu-lhe à cabeça. O problema está na ingenuidade de alguns dos seus atos, como no suposto desespero de sua atitude final, quando decide peitar de arma em punho a figura do juiz, algo que não condiz com a sua frieza construída pelo desenvolvimento do roteiro.

Do mesmo modo, há uma tentativa inútil de se inserir subplots que em nada acrescentam para a trama central, como a história do piloto de avião que leva as drogas para Gomez. Ao tentar estabelecer um conflito com o drama do personagem ao desconfiar de que sua mulher o trai e o resultado dessa dúvida sendo constatado na presença do chefão em fotos nonsenses tiradas com a digníssima, o filme tenta criar um possível choque ao espectador por conta do desfecho de crime passional e suicídio do traído, mas sem nenhum sucesso.

Além disso, há uma constrangedora maneira de se construir um desfecho surpreendente na ação do pacato e frágil oficial de justiça, que atira no vilão por conta de uma vingança cuja motivação é plantada no filme de modo a querer subestimar a inteligência do espectador.

Subestimar e ofender, na verdade.







Um comentário:

  1. 1º a procuradora não é funcionária do juiz.
    2º a vida pessoal não desacredita a competência profissional. nem todo juiz age corretamente todo o tempo. todos somos humanos, não existe padrão. o fato de serem colegas não impede um romance
    3º os personagens não tem de se manter retilíneos até o final da história.
    4º os personagens saírem da caixinha do maniqueísmo não os fazem fracos.

    ResponderExcluir