sábado, 26 de março de 2011

U2 ao vivo em Salvador!!

U2 3D (EUA, 2007) Direção: Catherine Owens e Mark Pellington. Com Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr.


Com quase três anos de atraso (e oportunamente às vésperas da nova turnê brasileira) o filme-espetáculo U2 3D chega às telas de Salvador para sessões noturnas apenas nos dias 25, 26 e 27 de março. E valeu a pena esperar, viu! Valeu muito! Poder conferir Bono, Edge, Adam e Larry em som dolby e saindo da tela é algo desconcertante. O show, gravado em Bueno Aires em 2007 e com algumas cenas do espetáculo que aconteceu no Brasil, fez parte da turnê Vertigo, que incluiu, além dos grandes sucessos dos irlandeses, as já definitivas canções do álbum de 2004, How to Dismantle an Atomic Bomb.
O filme já começa impactante. Mostrando a corrida dos fãs argentinos no abrir dos portões do estádio do River Plate, podemos ouvir a voz de Bono e seu enigmático chamado de EVERYONE, EVERYONE quase(?) como um messias conclamando seus seguidores. E durante o show poderemos comprovar que a postura de Mr. Hewson é justamente essa. Ainda bem que são sábias as palavras que ele profere.
E o U2 poderia, realmente, ser chamado de uma religião. Ele possui todas as características convenientes. Move multidões, enche estádios, leva às lágrimas os mais afoitos e traz reflexões para os mais atentos. As letras de Bono e Cia nos trazem pensamentos contundentes sobre a verdadeira função dos ídolos na sociedade moderna. Dos Bed Peace perpetrados por John e Yoko no final da década de 1960 ao Concerto para Bangladesh de George Harrison nos anos 1970, passando pelo USA for África nos 1980, até chegarmos ao Live Eight nos anos 2000, é possível comprovar a verdadeira função política da música popular mundial (mais especificamente o Rock and Roll) na esfera social da humanidade.
E nada mais justo que a maior banda do mundo na atualidade seja a responsável pelos mais relevantes discursos pela paz mundial. Ok, antes de continuar, deixo bem claro que esse não é somente um texto de fã. Se fosse, eu deixaria isso bem claro logo de começo. Sou fã do U2, conheço o trabalho da banda, mas, independente de possíveis críticas sobre o caráter confessional deste escriba, esclareço que o que digo aqui pode ser afirmado até por aqueles que os detestam: os irlandeses representam as figuras mais significativas do Rock no cenário político mundial. Isso é um fato. Mas, continuemos.

Para quem não vai poder conferir o show da banda em abril, U2 3D é um presente. Desde o já citado começo, com a corrida dos hermanos para alcançar o melhor lugar na platéia, ao início propriamente dito do show (com o eletrizante uno, dos, três, CATORZE) de Bono, percebe-se que o trabalho dirigido por Catherine Owens e Mark Pellington (do surpreendente O Suspeito da Rua Arlington) é algo feito para colocar os espectadores dentro do estádio independente da atuação do 3D nesse intento. Mas é somente ao me incomodar com as pessoas sentadas na minha frente no cinema, que levantam os braços e começam a bater palmas, que percebo que a tecnologia da terceira dimensão faz toda a diferença nesse testemunho: eram os argentinos que estavam sacudindo os braços diante de meus olhos, e não meus conterrâneos também apreciadores do quarteto europeu.
Vertigo começa e posso dizer que a experiência de ouvi-la no sensacional sistema de som da sala de exibição é contagiante. Bono dança diante de meus olhos e o sorriso não sai de meu rosto. Estou vendo o U2 ao vivo. E sem precisar desembolsar uma fortuna. 


Seguido de Beautiful Day, do mais emocional dos álbuns da banda, All That You Can´t Leave Behind, de 2000, o show continua e percebe-se o domínio das câmeras que Owens e Pellington têm na direção. Da mesma forma que Hamish Hamilton dirigiu o DVD, lançado com o show da mesma turnê em Chicago três anos antes, a atual dupla deixa os quatro músicos à vontade no palco. Mantendo a regra já tradicional de ter uma câmera exclusiva para cada um, o editor Olivier Wicki consegue unir as imagens captadas de forma que as canções fluem de modo a levar o espectador pelas melodias e pela simpatia dos sorrisos tímidos de Adam Clayton, a concentração de Edge e Larry e, dando, claro, total liberdade para que Bono, elétrico, cative os argentinos a cada aproximação da platéia.
New Year´s Day e seu contra baixo inconfundível começa e é hora da genialidade de Adam Clayton aflorar. Com uma canção como aquela, que eles tocam há quase 30 anos em todos os shows, é que se nota a cumplicidade que cada um tem com o próprio material de composição. Adam se aproxima da platéia e é, literalmente, reverenciado pelos argentinos.


A já tradicional exibição das bandeiras de países ao som de Where the Streets Have No Name traz uma novidade: ao invés dos países africanos homenageados no show de Chicago, é a Argentina junto a todo o MERCOSUL, que estampa o palco da turnê. E, aproveitando o momento para assumir o ciúme que senti ao saber que o show 3D traria uma parte muito maior dedicado ao espetáculo gravado em Buenos Aires e não em alguma metrópole brasileira, foi maravilhoso perceber que o êxtase do público ao ouvir Bono falar “Brazil” foi muito, mas muito mesmo, maior do que o nome do país pronunciado por ele no segundo anterior. E que país era esse? Argentina, claro. Toma, Dieguito!


Piadas à parte é preciso reconhecer a energia dos nossos vizinhos durante a apresentação. E se dessa vez não houve o simbólico resgate de uma fã da platéia para servir de musa do vocalista durante With or Without You, isso não fez tanta falta assim já que a apresentação de Love and Peace or Else  foi retumbante. Com Larry tocando um simples tambor acompanhado por um prato no meio da passarela de acesso ao público, e sendo encerrada com Bono martelando o mesmo tambor segundos antes do inconfundível começo de Sunday Bloody Sunday, a seqüência representou mais um momento de protesto da banda pelas guerras religiosas travadas no mundo.
Após perder o fôlego com essa seqüência, não há tempo para pausa, pois basta Edge trocar de guitarra para Bullet in the Blue Sky começar. A eletricidade do show só é desviada para uma calmaria quando a emoção confessional de Bono é percebida na triste Sometimes You Can´t Make It on Your Own, que foi escrita em homenagem a seu pai, Bob Hewson, que faleceu em 2001. Em um interessante truque de sobreposição de imagens, vemos o cantor abraçar a imagem simbólica de seu pai, que caminha no telão atrás do palco. O mesmo pode se dizer do momento em que a imagem do telão onde se observa Bono cantando em um local distante dos companheiros de banda, é justaposta ao lado da cada um deles, criando um rima visual marcante.



A simbólica faixa de Bono, com a palavra COEXISTA escrita em caracteres símbolos das principais crenças da humanidade, nos traz a pertinência de uma banda como U2. Alguns preferem dizer que eles estão se repetindo, que desde ZOOROPA, de 1993, que não lançam nada de original. Ok, não vou chegar nesse mérito da discussão (apesar de não concordar com ele). Eu prefiro dizer que a reflexão que Bono, Edge, Adam e Larry me trazem sobre o nosso combalido planeta e seus bilhões de habitantes, merece ser levada em consideração.
E se junto com isso eu posso presenciar uma amor genuíno entre quatro amigos de longa data (observem o selinho que Bono dá em Adam durante o show), melhor ainda. Sejam bem vindos de volta ao Brasil. Vocês fazem falta!


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