segunda-feira, 28 de março de 2016

Voando Alto

(Eddie the Eagle, 2016, UK, EUA) Direção: Dexter Fletcher. Com Taron Egerton, Hugh Jackman, Christopher Walken.



Por João Paulo Barreto

”Filme formador de caráter.” O curador e cineclubista Rafael Saraiva tem uma definição bastante pertinente para o clássico Rocky – Um Lutador, pérola escrita e estrelada por um jovem Sylvester Stallone em 1976, cujo personagem título o acompanhou por sete filmes (até o mais recente - e também fascinante - Creed).

São aqueles tipos de longas que, apesar de parecerem manipuladores do público em mensagens positivas que podem soar rasas, acabam por entregar em seus resultados finais reflexões palpáveis acerca do foco, objetivo e resiliência que as pessoas precisam ter durante suas vidas no intuito de se realizar os próprios sonhos.

Ok, o último parágrafo poderia ilustrar um livro de autoajuda bem barato, daqueles que encontramos no balaio do sebo da esquina, mas, clichê ou não, é justamente esse tipo de sentimento que obras como Voando Alto despertam nas pessoas. No entanto, friso: sabemos quando estamos sendo manipulados de forma barata e com o único intuito de fazer escapulir aquela lágrima no clímax do filme. Não é o caso aqui. E a frase que abre esse texto define bem a história de Eddie, a águia.

Bronson tenta convencer Eddie da loucura de sua meta
Baseado em fatos reais, a trama traz Eddie Edwards, a águia do título original, que partiu para os invernais jogos olímpicos do Canadá em 1988 no intuito de defender a Inglaterra, seu país natal, na modalidade de salto com esquis, esporte que requer anos de prática, mas que ele começou a treinar poucos meses antes. Seu treinamento se deu em uma estadia na Alemanha, local onde conheceu o ex-campeão, e agora alcoólatra e limpador de pistas, Bronson Peary (Hugh Jackman), que, inicialmente decidido a não treinar o rapaz, tenta convencê-lo do perfil suicida de seus atos. 

O filme causa impacto demonstrando os riscos de morte que o esporte possui ao criar as sequências de acidentes sofridos tanto pelos profissionais e medalhistas na modalidade, quanto ao mostrar o próprio Eddie despencar pelas rampas de salto e passando meses hospitalizado. Sim, a obra aborda bem a questão do sonho vivido pelo rapaz, mas sabe colocar de forma prudente o contundente freio nas intenções de qualquer um que deseje fazer o mesmo.

Demonstrando uma total e acertada fragilidade em sua composição para o papel, Taron Egerton consegue captar bem a postura insegura, mas determinada do verdadeiro Eddie Edwards. Com os óculos de armação grande e de alto grau, postura levemente curvada, voz sem muito impacto e mãos inquietas, o jovem inglês surpreende, principalmente pelo fato de que o espectador deve lembrar de sua presença totalmente oposta na aventura Kingsman, de 2014.

Eddie e seu momento da verdade
Já Hugh Jackman usa bem seu porte físico e contraste com a insegurança de Eddie para construir um personagem durão no papel do técnico Bronson Peary. Com um histórico conturbado, quando fez parte, na década de 1970, da equipe americana do esporte, a figura de Peary encontra espaço no filme para um drama pessoal disfarçado na presença de sua dependência alcoólica e na real magoa que possui pelos erros de sua juventude rebelde ter lhe trazido implicações na sua fase atual. 

Jackman veste bem a sua persona de combalido e experiente, mas não vencido, ex-atleta. E o filme capta de modo eficiente essa experiência, inserindo uma ótima cena no qual vemos o turrão encarar a maior rampa em uma sequência que, apesar de claramente criada em CGI, empolga.

Do mesmo modo que obras como Duelo de Titãs, Rudy e o próprio Rocky, Voando Alto consegue transmitir bem sua intenção, levando ao espectador uma mensagem que, apesar de parecer ingênua em dias cínicos como os atuais, faz realmente a diferença.

Não se envergonhe se uma lágrima rolar junto com os créditos finais.

Momento de catarse nos jogos Olímpicos

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