quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Entrevista: Virginie Efira

Fotos: Divulgação
Em Um Amor à Altura, Virginie Efira vive Diane, alguém cuja revisão dos próprios conceitos a faz perceber-se apaixonada por um homem cuja estatura é quase a metade da sua (exagero um pouquinho). Trata-se de uma comédia de apelo popular que conta com o carisma de Jean Dujardin como grande diferencial. Além, claro, da química entre os dois protagonistas, cujos diálogos representam a melhor coisa de um roteiro um tanto bobo, mas que gera boas risadas no público.

Em visita ao Brasil para divulgar o longa, a bela atriz belga conversou com o Película Virtual acerca desse projeto, além da experiência de trabalhar com Paul Verhoeven e do seu começo de carreira como apresentadora de programa de auditório.

Confira o papo!

Um Homem à Altura é um filme que traz no seu tema muito sobre essa suposta importância da aparência física e aceitação social. Qual o peso da aparência na sua visão?

É algo visto como muito importante, sobretudo na sociedade de hoje. Mas se liberar de todas essas imposições é uma responsabilidade pessoal de cada um. E o filme também fala disso. Como se libertar desse olhar de terceiros. O personagem do Jean fez todo um trabalho pessoal para aceitar aquilo que ele é e como ele é. Minha personagem ainda está dentro  de uma série de convenções, de estereótipos.  

Trata-se de um longa que utiliza muito do aspecto visual para fazer rir. Como foram feitos os efeitos digitais?

Houve uma série de efeitos especiais. Na maioria das vezes, Laurent (Tirard, o diretor) buscou recorrer a meios mais artesanais, para que nós pudéssemos atuar naturalmente. Às vezes, Jean ficava de joelhos. Ou ele tinha uma espécie de banquinho com rodinhas para se deslocar. Às vezes, eu subia em um estrado e ele tinha dublê também. Mas quando foi feita essa redução digital e estávamos contracenando, eu tinha que olhar para baixo e ele para cima.

Lembrou- me um pouco os efeitos que o Michel Gondry usou em Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. No entanto, lá ele usou o cenário para compor os elementos em cena.

Não chegamos a usar o cenário nessa construção, mas houve algumas escolhas propositais, como a do cachorro gigantesco (risos).

A atriz em cena de Um Amor à Altura
E como foi o clima de gravações com Jean Dujardin? Ele é bem conhecido por sua personalidade brincalhona e extrovertida?

Sim, o ambiente foi realmente muito bom. Tivemos um ótimo entendimento. Mas o que acontece é que os efeitos especiais tiravam um pouco do nosso contato. Por exemplo, em uma cena de dança, o que acaba cortando um pouco. Ficamos restritos em nossas atuações. Em outros momentos, como na cena do restaurante, podíamos improvisar e tentar outros meios de atuação.

Você poderia falar um pouco sobre seu trabalho em Elle, novo filme do Paul Verhoeven?

Foi um papel pequeno, mas acho que cada papel conta uma coisa forte e especial. No seu conjunto, o filme consegue encontrar um elo entre a farsa e a sátira social. Conta uma coisa meio louca: como é que em uma situação que se é uma vitima e se consegue recuperar o controle.  

E o trabalho com o diretor?

Paul é um exemplo de que as pessoas muito curiosas não envelhecem (risos). Eu acompanho o trabalho dele faz muito tempo. Eu acho muito legal que ele faça coisas que não se podem ser feitas no cinema americano. Inicialmente, ele queria filmar nos Estados Unidos, mas ao decidir filmar na França, isso deu muito mais liberdade na criação do trabalho. As atrizes, inclusive, começaram a dizer que não entendiam porque que uma personagem que havia sido violentada não tentava se vingar. Como se não fosse mais possível trilhar caminhos diferentes. Essa liberdade da história foi possível por isso.

Em relação a Um Amor à Altura, os personagens se conhecem de modo virtual, através de um telefone celular perdido. Como atriz, como você enxerga essa exposição tão corriqueira na internet atualmente?  Você costuma se expor muito?

Em relação as redes sociais, eu posso dizer que tenho 140 anos de idade (risos). Não tenho Facebook, nem Twitter. As pessoas dizem que eu deveria ter, mas eu tenho dificuldades com isso. É preciso tempo para refletir e esse imediatismo de reação no mundo virtual, essa necessidade de se fotografar uma coisa para que ela possa existir, é algo que me incomoda. Sair da vida real para a virtual é algo que eu não entendo muito bem.

Qual sua opinião em relação à representatividade feminina na indústria do cinema?

Na França, uma coisa boa é que existe um sistema econômico que permite que filmes com narrativas mais tradicionais, como Um Amor à Altura, mas que também possibilita filmes diferentes, que questionam a sociedade. Por exemplo, passando desse principio de que a mulher pode ter uma representatividade no cinema apenas se ela for jovem, se ela for sexy, na França, as mulheres não estão encerradas dentro desse sistema.  Há outras possibilidades, sabe?  Mesmo os filmes que não possuem esse apelo, que não possuem uma divulgação grandiosa ou que possivelmente não vão ter um retorno exorbitante nas bilheterias, esses trabalhos também são financiados. Ainda existe, claro, diferenças em termos de salário, mas não como nos Estados Unidos.

A atriz em cena de Victoria, filme exibido em Cannes ano passado
O que atraiu ao ler o roteiro para aceitar o papel.

(pensativa) O fato de que a personagem feminina não fosse exclusivamente uma acompanhante do protagonista, que ela também tivesse um destaque na trama. Ela tinha realmente algo para interpretar. E, claro, a vontade de trabalhar com Dujardin. E o Laurent é um dos poucos diretores franceses que são mais cuidadosos com a imagem, com a elaboração dos seus filmes.

Você citou esse processo de produção na França, onde, assim como no Brasil, tem nas comédias populares um grande filão para atrair o publico. As pessoas parecem só ir ao cinema para ver comédias populares. Na França, é um pouco assim, uma vez que os números confirmam um pouco disso. O que você acha dessa predominância?

O cinema, claro, é também uma experiência. O fato de irmos ao cinema, de estarmos em uma sala escura, de compartilhar com os outros, sendo algo que reúne as pessoas. E eu penso que a comédia é um gênero importante, mas que é preciso que exista certa exigência intelectual, filosófica e estética na comédia. O filme Victoria (outro trabalho da atriz lançado em 2016) , que foi apresentado em Cannes, eu acho que corresponde um pouco a esse parâmetro. É uma obra com orçamento menor, o que mais dá liberdade. É uma comedia que faz pensar um pouco em Blake Edwards. Há grandes comedias nesse sentido, como as de Billy Wilder, por exemplo.

Você sente que há um preconceito entre os realizadores para com comedias populares?

São coisas diferentes no cinema e na criação dos filmes. Há aqueles que fazem os filmes pelo dinheiro, e outros que dizem: “vou fazer alguma coisa minha e veremos onde isso vai me levar”. Seja uma comedia ou drama, é o fato de se acreditar naquilo que faz.

Você citou sua escolha em trabalhar com Paul Verhoeven e a oportunidade de atuar ao lado de Jean Dujardin. Como foi se deu sua entrada no cinema? Como você planejou sua trajetória como atriz?

(risos) Eu sou muito lenta. Sou belga, fiz o conservatório na Bélgica e eu tinha um problema de autoconfiança. Não me achava boa o suficiente e por isso eu não tinha trabalho. Foi quando comecei a trabalhar na televisão (Virginie Efira trabalhou como host em um programa de auditório belga). Trabalhei com isso um tempo,  mas eu não queria ser uma atriz frustrada que trabalha como apresentadora de televisão, afinal eu tinha que gostar do que estava fazendo. Depois, eu envelheci um pouco (risos) e comecei a compreender que a vida passava muito rápido e eu tinha que tentar aquilo que eu gostava de fazer. Acabaram me propondo comédias populares e eu tive sorte que funcionou nas bilheterias. Com isso, passei a ter mais escolhas. Tendo escolhas, passei a ter mais responsabilidades. Mas não faz tanto tempo assim que eu estou fazendo filmes dos quais eu gosto mesmo.

Próximos projetos?

Há o lançamento de Victoria que acontece em setembro. Depois eu fiz um filme pequeno de uma diretora (Emmanuelle Cuau) que fez três filmes no últimos 20 anos. É um drama. Conta a história de um filho que acaba virando deliquente. Chama-se Pris de Court, de Emanuel Cuau. E, agora, eu não sei (risos). Estou sem planos, o que não é desagradável. Eu fiz oito filmes em dois anos, então, férias bem vindas.

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