quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Ben-Hur

(EUA, 2016) Direção: Timur Bekmambetov. Com Jack Huston, Toby Kebbell, Rodrigo Santoro, Nazanin Boniadi, Aylet Zurer, Morgan Freeman.



Por João Paulo Barreto

A primeira pergunta que vem à mente ao saber das intenções de se refilmar o monumento absoluto, vencedor de 11 Oscars, Ben Hur é: por que? Ao se cogitar atualizar um clássico definitivo da Hollywood dos anos 1950 (que já se tratava de uma refilmagem, friso) para um exemplar em 3D, com atores inexpressivos e, claro, a narração em off de Morgan Freeman a reafirmar-se como a suposta marca de um projeto que se (hum hum) pretende se levar a sério, o novo Ben Hur já se consolida desde os seu primeiros momentos como um erro. Lembrar do roteiro escrito por Karl Tunberg e Gore Vidal em 1959 deprime.

Em uma trama equivocada, na qual as questões dos rebeldes dentro do império romano são inseridas de forma aleatória, como que para justificar apenas o fato de que um atentado contra a vida do imperador seja cometido justamente sob a guarda da família do protagonista tornando-o culpado pelo crime e exilado para a escravidão, o longa denota uma fragilidade gritante, na qual as motivações de seus personagens são tão risíveis que chegam a soar caricatas.

Freeman e seus dreadlocks: a voz over favorita de Hollywood
A começar pelo momento em que Messala (vivido pelo terrível Toby Kebbell), o irmão adotivo de Ben Hur, decide deixar a vida de luxo da família para se alistar no exército romano apenas pelo fato de que, para ele “o mundo é bem maior que o Egito”. Bom, levando-se em consideração que nada o impedia de viajar e conhecer os lugares que ele citou em seu discurso birrento, seu alistamento é tão surpreendente quanto sua ascensão dentro das forças militares, fato que denota bem a incompetência de seus centuriões no momento da tentativa de assassinato do seu líder ou o suposto congelamento de um deles na presença de certo rebelde cabeludo e de barba.

Do mesmo modo, o filme surpreende (não de forma positiva, claro) ao escalar para o papel de seu herói figura tão inexpressiva quanto Jack Huston, cujos momentos de atuação se resumem por cara de triste e/ou cara de feliz. Enquanto tivemos Charlton Heston que conseguia demonstrar sua fúria de modo assustador no clássico de 1959, aqui, Huston, imerso em um mar de CGI (até impactante visualmente, vamos admitir), consegue apenas se situar nas cenas, sem a capacidade de transmitir ao espectador qualquer emoção para o que seu personagem está passando.

Santoro na forma de Jesus Cristo: boa presença brazuca apesar de epílogo deslocado
E o roteiro de Keith R. Clarke e John Ridley tampouco colabora. Rendendo-se a uma manipulação emocional que beira à qualidade de uma novela da rede Record, a trama consegue se basear em um final absurdamente fantasioso, no qual a cura para a lepra em personagens chave é inserida de modo único e exclusivamente voltado para um desfecho artificialmente feliz. Não que se esperasse menos de uma obra que utiliza conceitos religiosos como pano de fundo, mas, ao menos o discernimento perante a conveniência absurda de sua conclusão poderia ter sido notado pelos seus escritores. Além, claro, da necessidade óbvia, previsível e deslocada de se inserir um epílogo baseado na vida de Jesus que, vivido por Rodrigo Santoro, ao menos traz certo orgulho para os brasileiros.

No entanto, estamos falando de uma obra dirigida por Timur Bekmambetov, a mente criativa por trás de coisas como Abraham Lincoln – Caçador de Vampiros e O Procurado, filmes até divertidos em suas propostas imbecis, mas que, em certos aspectos, chegam a ofender a inteligência alheia. Ao querer trazer para um clássico essa mesma premissa que banaliza suas obras, o diretor acaba dando um (desnecessário) passo maior que as pernas. E, de modo previsível, tropeça vergonhosamente.

Ao invés de sofrer com 120 minutos disso, é mais valoroso gastar 210 minutos diante do monumento dirigido por William Wyler. 

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