quarta-feira, 6 de abril de 2016

De onde eu te vejo

(Brasil, 2016) Direção: Luiz Villaça. Com Denise Fraga, Domingos Montagner, Manoela Aliperti, Marisa Orth, Laura Cardoso. 


Por João Paulo Barreto

Parceiros em diversos projetos, o casal Luiz Villaça e Denise Fraga volta a trabalhar junto nesta comédia romântica que utiliza a nostalgia paulistana de modo curioso e, diferente de outros longas oriundos da Globo Filmes, sem o escracho exagerado e a caracterização forçada de seus personagens. É um filme de atuações bem sutis, o que não deixa de ser um alívio.

De onde eu te vejo exibe um casal em processo de separação. Mas, de modo estranho, o espectador não consegue enxergar as razões para aquele divórcio estar acontecendo. O filme não denota nenhum problema entre Ana Lúcia (Fraga) e Fábio (Domingos Montagner). Pelo contrário. Ela o ajuda a decorar seu apartamento, ele ainda lhe pede para arrumar sua gravata. Curiosamente, as brigas só começam quando eles não estão mais juntos.

Ex-casal entre janelas: gag visual criativa, mas que cansa após diversas utilizações
Excetuando o fato dele sair de casa para morar em um apartamento no prédio em frente (algo que funciona inicialmente como gag visual, mas que cansa um pouco após diversas inserções), não há muitos elementos no roteiro de Rafael Gomes e Leonardo Moreira para convencer o espectador de todo o drama que o casal aparentemente atravessa. Inevitável lembrar-se de outras comédias que trabalharam de maneira satisfatória a questão da crise em relacionamentos e o modo bem justificado como um divórcio ou tempo entre os casais foram inseridos. A História de Nós Dois, Separados pelo Casamento e Annie Hall são três dos que vieram à mente. 

Superado esse incômodo, o filme agrada pela boa química entre os dois protagonistas. Como dito antes, há uma eficiente utilização do sentimento da nostalgia para ilustrar boa parte da fase ruim que o casal atravessa. A ideia de que era no passado que as coisas davam certo, de que a era de ouro de nossas vidas parece já ter ficado para trás, de fato, acomete várias pessoas. E o filme, com uma bela trilha sonora instrumental composta por Dimi Kireeff, consegue ilustrar muito bem essa sensação dos personagens, transmitindo-a para o espectador. 

A cidade de São Paulo, com seus cinemas de rua fechando e restaurantes tradicionais virando estacionamentos, colabora nesse sentimento nostálgico. Na profissão de arquiteta não atuante, mas trabalhando na função de localizar imóveis para compra e demolição, Ana Lúcia cria uma interessante metáfora de sua vida pessoal com sua atual ocupação. Uma pena que os diálogos proferidos nos momentos de discussão entre ela e Fábio precisem salientar isso, preterindo qualquer sutiliza planejada.

Ana Lúcia e Fábio: a aparente distância que lhes fez bem
Na interação entre os protagonistas, percebe-se o acerto na escolha do elenco. Domingos Montagner consegue manter bem o tom entre a graça de suas situações e a tristeza que seu personagem carrega. Do mesmo modo, Denise Fraga deixa um pouco de lado os trejeitos de suas personagens televisas e entrega uma atuação sutil, tanto nos momentos de graça quanto nos de lágrimas. Ou até mesmo quando ambos os sentimentos se mesclam, como na boa gag dos dois se debulhando em lágrimas após deixar a filha na república estudantil de outra cidade. 

É um filme notoriamente sem grandes ambições e que, no final, agrada justamente por isso.

PS 1. A produção acerta em não utilizar versões jovens do casal ou tentar rejuvenescê-los de alguma forma para exibi-los em flashbacks. Após uma breve explicação de Ana Lúcia na breve quebra da quarta parede que o filme traz, conseguimos nos localizar facilmente na linha temporal da narrativa. 

PS 2. Que satisfação ver Laura Cardoso atuando com tamanha desenvoltura em sua personagem. Com um sorriso cativante, a veterana atriz entrega um dos belos momentos do filme, quando sua personagem ilustra, a partir de um simples raio de sol, as pequenas coisas que lhe dão alegria. 


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