quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O Mínimo das Coisas

(La Moindre des Choses, França, 1997) Direção: Nicolas Philibert.




Em O Mínimo das Coisas, Nicholas Philibert apresenta os moradores da clínica psiquiátrica La Borde, um pacífico e bucólico lugar onde os pacientes, no verão, realizam uma peça teatral. O evento organizado anualmente é aguardado sempre com ansiedade e empolgação pelos atores amadores. Não é para menos. Em uma rotina imposta somente pelo estado contemplativo em que a maioria deles vive e pela obediência ao horário dos medicamentos, toda a movimentação, os ensaios, a preparação musical e o contato com os instrutores causam um furor e empolgação palpáveis naquelas pessoas cujas vidas se restringem a pequenos atos diários.

A peça teatral em questão é a Operetta, de Witold Gombrowicz. Dotado de uma profunda análise psicológica, o texto de Gombrowicz casa de forma perfeita com a personalidade dos habitantes do La Borde, uma vez que reflete muito da condição dos próprios “atores” em seu estado non sense. Durante os ensaios, é perceptível um esforço mútuo entre os instrutores e os pacientes do asilo. Cada ponto é observado não de forma autoritária pelos organizadores, mas, sim, de modo paciente e compreensivo, respeitando as condições de cada um dos participantes. Eles ensaiam declamações de poemas, aprendem a tocar instrumentos musicais, treinam caminhar em pernas de pau (em uma cena que demonstra bem a preocupação que os pacientes possuem entre si) e fazem tudo isso com um entusiasmo genuíno, fruto de uma carência social gritante.

A câmera de Philibert passeia pela instituição trazendo diversos personagens moradores do asilo que parecem viver em seu próprio universo, mas que, no entanto, se comprometem de modo irrestrito com o espetáculo. São pessoas que facilmente se empolgam com o simples fato de estarem sendo captadas pelo diretor, como no momento em que um dos pacientes pergunta a Philibert se ele o está filmando e quando ele vai aparecer na televisão. Ao conversar com o diretor, ele exibe um tocante sorriso que, mesmo desdentado, cativa pela genuína alegria de ter algo que difere aquele dia de todos os outros que devem compor sua introspectiva rotina.

O filme em si não serve como denuncia a maus tratos ou a qualquer tipo de condição prejudicial aos pacientes que a instituição psiquiátrica venha possuir. Pelo contrário. Mesmo que em outro longa do diretor, O País dos Surdos, em certo momento, uma das personagens surdas afirme ter sido internada em um hospício pelos pais por conta de sua condição física e que o lugar era terrivelmente sujo e mal cuidado, a Clínica Psiquiátrica de La Bonde impressiona pelo seu ambiente saudável e propício para o bem estar dos pacientes. É o tipo de obra que serve como um retrato do que deve ser tido como bom exemplo na conduta entre profissionais e internos.

Ao final, O Mínimo das Coisas propicia ao espectador uma análise de personagens que se relaciona diretamente ao título do trabalho. São pessoas que não precisam de muito para serem felizes.

Curiosamente, são chamados de loucos...

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