sexta-feira, 18 de julho de 2014

Planeta dos Macacos: O Confronto

(Dawn of The Planet of the Apes) Direção: Matt Reeves. Com Andy Serkins, Jason Clarke, Gary Oldman, Keri Russel, Toby Kebbel, Kodi Smit-McPhee.



Por João Paulo Barreto

Ele é um pai que se preocupa em prover segurança, comida, saúde e um teto para sua família, composta por esposa, um impulsivo filho adolescente e um bebê recém-nascido. Além disso, tem sob sua responsabilidade a liderança de um grupo de iguais, o qual leva adiante sob um senso de ética e moral responsável e contagiante. Conquista o respeito dos seus pares através de atitudes sensatas e de um restrito código pacifico de convivência.

O protagonista de Planeta dos Macacos: O Confronto tem todas essas características, mas não é interpretado por um galã hollywoodiano, mas, sim, por um macaco. Ou melhor, por Andy Serkins, o homem de diversas faces, corpos e vozes que, aqui, empresta seu talento para a criação de Cesar, papel que reprisa no filme dirigido por Matt Reeves (Cloverfield). Cesar, apesar de símio, traz em sua personalidade e desenvolvimento todas as características que levariam qualquer um a se convencer que se trata de um líder nato da raça humana. E esse é o principal trunfo deste filme de transição da nova saga dos macacos no cinema: o modo como um primata consegue trazer mais humanidade, respeito mútuo e bondade do que qualquer outro homo sapiens visto na trama.

Malcolm: liderança posta à prova

Não que o lado humano da balança não seja equilibrado por outros personagens que possuem caráter semelhante. O espelho de Cesar na nossa espécie é Malcolm, um engenheiro viúvo, pai também de um adolescente, que precisa adentrar no domínio símio da floresta dos arredores de São Francisco para tentar religar os circuitos de uma usina hidrelétrica que poderá voltar a alimentar a cidade. Nessa jornada, encara a inicial animosidade dos macacos mutantes e acaba por encontrar um amigo entre os supostos animais. Malcolm, do mesmo modo que Cesar, tem sob sua responsabilidade a liderança e a vida de muitos.

Em seu roteiro escrito a seis mãos, o filme de Reeves é mais do que apenas uma aventura maniqueísta, na qual os humanos são pintados como vilões sanguinários (com algumas exceções) e os macacos (também com algumas exceções) vítimas bondosas de sua fúria. Nos dois lados, há personagens cujos conflitos de caráter colaboram para uma profundidade em suas motivações, sendo que é no lado dos macacos que esse desenvolvimento é realizado de forma muito mais eficiente.

Koba: ambição e instinto assassino
Na figura de Koba, braço direito de Cesar em sua liderança do grupo, se encontra a ambição e a sede pelo poder capazes de tornar a traição como algo concreto, mesmo nas relações amigáveis daqueles seres. Em Koba, o roteiro consegue criar certa profundidade em seus antagonistas, algo que não é visto, por exemplo, na figura humana de Dreyfus (Oldman), cujas ações irracionais, apesar de motivadas por um sentimento de perda levemente inserido na trama, não convencem como atitudes realmente críveis. Nesse sentido, o filme peca por não ter o mesmo apuro no desenvolvimento de seu núcleo humano como teve no símio.

Apresentando um título nacional que engana o espectador (creio que A Aurora do Planeta dos Macacos seria algo bem mais interessante), o filme traz até cenas bem construídas do tal confronto entre humanos e primatas, mas, claro, a real guerra será deixada para um próximo capítulo. No entanto, na batalha vista aqui, Reeves investe seu estilo apresentado em Cloverfield com uma interessante sequência na qual o ponto de vista de um macaco sobre um tanque de guerra a girar seu canhão em 360° é trazido ao espectador. A direção de arte capricha ao exibir a floresta com os troncos das árvores adaptados pelos animais para facilitar sua locomoção. Além disso, o refúgio humano em uma São Francisco abandonada exibe de forma satisfatória o modo como a cidade já não é mais habitada por multidões.

Andy Serkins no papel de Cesar: captação de movimento e talento
No entanto, é o talento de Andy Serkins na composição de Cesar que deve ser apreciado como ponto principal aqui. Com uma pintura de guerra que salienta as suas costelas e, no focinho, uma única linha vermelha demonstrando a concentração e comprometimento para com sua causa, o líder dos macacos é trazido a nós como um ser cativante. E a opção de Matt Reeves em iniciar e encerrar o longa com um super close-up nos olhos do personagem o torna ainda mais gigante.

Toda a tristeza que toma o lugar da determinação daquele olhar é a mais tocante representação do inferno que está para chegar na vida daquele animal. Se é que se pode chamá-lo assim.   

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