quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Esquadrão Suicida

(Suicide Squad, EUA, 2016) Direção: David Ayer. Com Will Smith, Jared Leto, Margot Robbie, Viola Davies, Joel Kinnaman.


Por João Paulo Barreto

Existe um problema com a expectativa. Uma das regras em qualquer aspecto da cinefilia reside no fato de que não se deve criar expectativas acerca de nenhum projeto. Aí vem os filmes baseados em quadrinhos, que dominam o mercado atualmente. Bombardear a mídia com imagens, trailers, dentre outros aperitivos destinados aos fãs é via de regra para qualquer estúdio. E a DC/Warner parece ser bem eficiente nesse sentido. Desde muito tempo, friso. Basta dar um google e checar todas as estratégias utilizadas quase trinta anos atrás para promoção do Batman, de Tim Burton.

Em se tratando do seu novo projeto, Esquadrão Suicida, a comparação com a obra de Burton fica somente na estratégia e no fato de que ambas possuem dois personagens em comum. O morcego de Ben Affleck em breve participação e o Coringa, que dessa vez ganha a face e o talento subaproveitado de Jared Leto. Claro, após a encarnação perfeita de Heath Ledger na obra máxima de Christopher Nolan, ficava difícil alguém se arriscar no papel. Sem ser saudosista e evitando comparações, Leto até se esforçou para entregar um vilão à altura do seu talento, mas teve sua participação diluída ao aspecto de um simples coadjuvante de luxo, sem trazer o real impacto que um personagem como aquele poderia causar na história. Não por culpa sua, mas, sim, de um roteiro mal amarrado, que se baseia em vilões sem substância e em anti-heróis sem muito carisma.

Leto como o Coringa: talento mal aproveitado

Na junção da equipe de vilões retirados de uma prisão de segurança máxima com o intuito de colocá-los contra uma entidade demoníaca, agora que o Superman está morto e não há metahumanos com poderes suficientes para enfrentar tal situação, o filme coloca o grupo em literal rota de colisão com diversos obstáculos, até o momento em que chegam ao local onde deverão enfrentar a tal criatura Enchantress, um demônio milenar que foi despertado após uma arqueóloga localizar a caverna onde ele vivia e passar a dividir com ela o mesmo corpo.

Trata-se de um filme de apresentação. Passamos boa parte do longa sendo inseridos no universo de cada um dos personagens, conhecendo suas falhas e motivações, e descobrindo como cada um foi parar naquele contexto, o que não significa que haja um desenvolvimento dos seus elementos, que parecem apenas ser jogados na tela com a função de matar alguma coisa. Ao final de tantas fichas corridas, difícil é o espectador não familiarizado com o universo dos quadrinhos lembrar-se do primeiro apresentado. No mais, nota-se uma necessidade gritante de se inserir Will Smith como protagonista, mesmo que seu Pistoleiro não tenha um peso maior do que o de qualquer outro membro da equipe. Em um filme no qual temos o Coringa como um dos coadjuvantes subaproveitados, quem é que quer ver um personagem cujo talento é conseguir acertar um alvo? Vocês possuem ouro nas mãos. Façam uso dele!  

Smith: protagonista forçado. Robbie: divertindo-se

Além disso, em um período no qual discussões acerca do feminismo estão merecidamente em evidência, Margot Robbie até consegue trazer peso para sua personagem, que diverte em sua postura sociopata, mas que, no final, parece apenas querer ser mãe e dona de casa.  E, claro, o filme precisa apelar para poses pin ups em algumas de suas cenas. No entanto, vale citar o momento desnecessário em que um dos membros do esquadrão acerta um soco no rosto de uma policial feminina sob a justificativa de que “ela tinha a boca suja”. Creio que esse tipo de cena em um filme cujo publico alvo é basicamente adolescente (o que justifica as poses sensuais de Quinn) não contribui em muita coisa, mesmo que certa catarse seja inserida para o personagem agressor.  

A sensação é justamente a de um roteiro frouxo que insiste em inserir reviravoltas frágeis que impedem qualquer fluidez de sua trama.  Com um final em aberto e convenientemente pedindo por uma continuação, espera-se que, ao menos, possamos ver o que Jared Leto ainda poderá fazer pelo seu icônico papel. 

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