quarta-feira, 25 de maio de 2016

Jogo do Dinheiro

(Money Monster , EUA, 2016) Direção: Jodie Foster. Com George Clooney, Julia Roberts, 
Jack O´Connell, Giancarlo Esposito, Dominic West.


Por João Paulo Barreto

Em Jogo do Dinheiro, a diretora Jodie Foster consegue trazer de modo pertinente relevantes discussões acerca da selvageria desenfreada do mundo capitalista no mercado financeiro, além de focar incisivamente o universo midiático da televisão e sua não menos selvagem ação em busca de audiência.

Ao optar por um cenário no qual aparentemente não veremos redenção alguma para nenhum dos personagens envolvidos, a história surpreendentemente escrita pelos mesmos roteiristas por trás de banalidades como A Hora do Rush, A Lenda do Tesouro Perdido e Taxi (sim, aquele com a Gisele Bündchen), cria uma reflexão acerca da natureza pela busca sem limites por lucro, independente de quantos serão prejudicados em detrimento do saldo positivo de apenas um pequeno grupo de pessoas.

Aqui, temos uma pane sistêmica causando a perda de todo o capital investido em um fundo de ações da bolsa. Resultado: economias de milhares são perdidas da noite para o dia, num montante de 800 milhões de dólares. Nesse ínterim, Lee Gates (Clooney), o âncora extrovertido e falastrão de um programa que dá dicas financeiras (recomendando tal investimento, inclusive) tem seu show invadido por Kyle Budwell (O’Connell) que, armado e portando um colete de bombas, exige explicações para a perda de todo seu dinheiro aplicado em tal fundo.

Gates é confrontado por Budwell em busca de respostas
A partir dessa premissa, o filme busca criar um ambiente de tensão em torno de toda a situação, conseguindo esse intento inicialmente, mas falhando de forma pontual em determinados momentos na criação dessa atmosfera nervosa na interação entre os dois personagens, como quando a arma é deixada de modo artificial ao alcance do apresentador ou quando o estúdio começa a ser evacuado sem que o Budwell perceba.

Há, entretanto, um acerto na presença de Julia Roberts como a diretora do programa que continua sendo transmitido ao vivo por exigência do invasor. Com seu tom de voz calmo, refletindo sua longa experiência à frente da equipe, sua Patty Fenn acaba por ser um ponto de equilíbrio diante do histrionismo de O´Connell.  

Histrionismo este que até se justifica por conta do arco relacionado ao personagem, o que é muito bem demonstrado pela impactante cena em que ele se vê diante da namorada grávida, em um momento cujo constrangimento do homem desesperado perante as duras palavras da garota atinge, também, o espectador.

Julia Roberts no papel da diretora do programa Money Monster
A despeito da complexidade relativa às questões técnica do mundo financeiro, um dos trunfos na execução da trama está em conseguir exprimir para o espectador essa tecnicidade dos aspectos econômicos por trás dos fatos. Não é somente uma questão de “o dinheiro que estava aqui sumiu por conta de uma pane”, mas toda uma análise relacionada a algoritmos e impossibilidades matemáticas que o filme traduz de modo eficiente, tornando, apesar de certos diálogos expositivos, crível e compreensível ao público.

Trata-se de um filme que busca trazer uma reflexão acerca das vitimas deste sistema. Do modo como a busca insana por dividendos sobrepõe qualquer tipo de ética.  E é somente em uma situação de caos, somente quando a sensação de perda é levada, também, para o topo da pirâmide, que se torna perceptível o quão animalesco é o supostamente civilizado mundo corporativo.

Não é surpresa que, ao final, o único realmente prejudicado em toda a história seja justamente o que já a começou sem esperanças. Ao vermos diretora e âncora planejarem o próximo programa antes mesmo de a poeira baixar, percebemos como as vitimas deste universo serão sempre as mesmas. 

Corrigindo uma observação feita no começo desse texto, a redenção pode até chegar, mas os que a receberão serão os mesmos a sempre lucrar com a desgraça alheia.

A corda só se parte para o lado mais fraco, de fato.




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