sexta-feira, 20 de maio de 2016

X-Men: Apocalipse

(X-Men: Apocalypse, EUA, 2016) Direção: Bryan Singer. Com James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Oscar Isaac. 


Por João Paulo Barreto

Existe um fator emocional que sempre funciona bem nos filmes dos X-Men. Independente dos cineastas, seja Bryan Singer, Brett Ratner ou Matthew Vaughn que ocupem a função de diretor dos exemplares da franquia, dentre acertos e erros cometidos na criação dos longas, há algo sempre acima da média: o modo como os personagens conseguem se interligar emocionalmente e a forma eficiente como os realizadores constroem isso para o público.

Mesmo com um resultado final abaixo dos dois filmes anteriores, First Class e Dias de um Futuro Esquecido, X-Men: Apocalipse erra pouco. E, o mais importante, seus acertos acabam por suplantar possíveis equívocos que encontramos aqui e ali durante os 144 minutos de projeção. Dentre os acertos, justamente a citada força de sua história ao trabalhar bem a ligação emocional de seus personagens.

Aqui, vemos novamente a tragicidade da vida Eric Lehnsherr, o Magneto, cumprir boa parte da carga dramática que sustenta o roteiro do longa. Na perda dos seus entes mais queridos, algo que já vimos de modo semelhante no primeiro exemplar da nova trilogia, e na descoberta desse fato pelo seu amigo Charles Xavier, é onde está, em Apocalipse, a principal relevância do filme. E nas boas atuações de James McAvoy e Michael Fassbender, seu maior trunfo.

Eric Lehnsherr revive a dor da perda que definirá suas escolhas
Da mesma forma como vimos os dois personagens encontrarem um elo em uma bela cena de First Class, quando um compartilhamento de lembranças é genuinamente agradecido entre lágrimas pelo professor X, aqui, ao adentrar na mente do amigo e perceber que uma nova tragédia se fez em sua vida, uma sincera demonstração de pesar é trazida à tona pelo mutante telepata. Assim, o diretor Bryan Singer acerta no tom dramático de sua história, algo que vemos novamente em outros momentos chave da trama. 

Na história, o Apocalipse do título, no caso o primeiro mutante a surgir na terra, no antigo Egito, acorda de seu sono após ter sofrido a interrupção do processo que o transformaria no regente do planeta. Milênios se passam e seu ressurgimento coincide com o momento em que os mutantes possuem uma boa relação com os humanos, uma vez que foram os mesmos que impediram o assassinato do presidente Nixon.

Com uma voz impactante e presença soturna e misteriosa, Oscar Isaac até consegue realizar um bom trabalho na criação de seu vilão. No entanto, toda sua participação soa um tanto deslocada, quase carnavalesca, diante da proposta de ambientação séria e (até certo ponto) calcada na realidade que os dois longas anteriores optaram por inserir.

Apocalipse e sua presença carnavalesca
Esse ponto é perceptível, por exemplo, quando vemos o personagem em locais como Auschwitz ou mesmo na metalúrgica onde o Eric tenta se esconder: a presença burlesca daqueles mutantes específicos se desloca um pouco da trama. Não à toa, o filme funciona bem melhor quando não está trabalhando na criação de seu arco, o que nota-se quando o roteiro opta por desenvolver a história da motivação do luto de Magneto, a captura dos mutantes pelo coronel Stryker e, claro, a impressionante e sangrenta participação de Wolverine, algo que, por si só, já vale filme inteiro. 

Trazendo de volta ideias que funcionaram bem no longa anterior, como a ação do veloz Mercúrio exibida em câmera lenta, aqui, essa utilização, apesar de divertida, soa deslocada não somente pelo uso de uma trilha sonora divergente do momento dramático que a perda de um personagem central pediria, mas, também, por soar como uma muleta para o roteiro. Não à toa, a descoberta de tal perda perde seu impacto emocional quando trazida à tona logo em seguida ao termino da sequência do mutante velocista.

Ao final, a sensação é justamente a de um filme que funciona bem no já citado elo emocional que liga seus personagens, apesar de ter dado um passo atrás ao optar por um vilão simplório e convencional (e vê-lo como designer de uniformes, de fato, não ajuda muito na sua credibilidade) ao invés de se aprofundar em outras questões que o drama mutante pode oferecer.

Mas nada que uma nova trilogia não possa resolver.

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