quarta-feira, 20 de julho de 2016

Life - Um Retrato de James Dean

(Life, USA, UK, 2015) Direção: Anton Corbijn. Com Robert Pattinson, Dane DeHann, Peter Lucas, Joel Edgerton, Ben Kingsley.



Por João Paulo Barreto

O mais significativo acerto de Life – Um Retrato de James Dean está na escolha do diretor Anton Corbijn e do roteirista Luke Davies em apresentar a lenda do jovem ator morto aos 24 anos de um modo que, apesar de descortinar suas falhas e inseguranças, mantém a sua personalidade intrigante para, aos poucos, inserir o espectador na vida pessoal e repleta de fragilidades emocionais de um mito.

Trata-se de uma construção lenta do personagem, que vai tendo suas camadas desvendadas ao espectador pouco a pouco para, em uma declamação poética final, ser desnudado por completo.

Aqui, conhecemos Dean no período logo após o lançamento do clássico de Elian Kazan, Vidas Amargas, de 1954, meses antes do inicio das gravações de Juventude Transviada, o filme que o transformaria em um ídolo mundial. Na esteira do sucesso da obra de Kazan, Dean começa a ser visado pela Warner Bros. (Ben Kingsley roubando a cena no papel do chefão Jack Warner) e é quando o fotógrafo Dennis Stock (Robert Pattinson) se aproxima do astro ao perceber estar diante de ícone que ainda não estourou para a fama.

Stock (Pattinson) e Dean (DeHaan) na recriação da icônica imagem 
O filme trabalha de modo bem natural a amizade dos dois homens. As dúvidas de James Dean em relação ao seu próprio talento e os problemas pessoais de Stock, ele mesmo com pouco mais de vinte anos, divorciado e distante do seu filho pequeno, se contrapõem no drama dos dois protagonistas. No entanto, é ao adentrar nas neuroses e ansiedades de Dean que o filme começa a engrenar.

Convencido após longa insistência por parte do fotografo, o ator cede e se permite fotografar em sua rotina em Nova York, local de origem de sua carreira no teatro e que decide revisitar. As lentes de Stock capturam Dean em suas atividades comuns, como a ida ao cabeleireiro, uma visita ao Actor Studios, local onde tomou aulas de atuação com o criador do lendário Método, Lee Strasberg, e um flagra de bebedeira ao ser capturado dormindo bêbado à mesa de um bar em uma noite de dança que incluiu passos com a eterna Mulher Gato do seriado sessentista do Batman, Eartha Kitt, em uma bela cena tributo.

Capturando o astro em sua intimidade
Famosas pela sua iconicidade, as fotos mais representativas de James Dean são as capturadas por Stock em Times Square e na fazenda onde cresceu o rapaz, em Indiana, local que revisita na companhia do fotógrafo, nos momentos de maior beleza do filme, por apresentar o jovem mais à vontade por estar com sua família. Nesta aproximação da vida privada do ator, o roteiro de Davies denota seu ponto alto. Ao trazer à tona a dolorosa lembrança de ter perdido a mãe aos nove anos (fato que nos é apresentado em um belo dialogo em um vagão de trem), o filme nos permite adentrar nas camadas daquela personalidade, desnudando a imagem de mito que o garoto começava a construir e que, tragicamente, alcançaria níveis absurdos nos meses seguintes.

Falhando ao preferir se manter isento de polêmicas ao não abordar o lado gay do ator no suposto caso que teve com Marlon Brando e preferindo focar apenas no romance com a atriz italiana Pier Angeli, o longa até consegue superar essa falha por conta do modo profundo como trouxe à tona o lado traumático e afetado pela perda sofrida na morte da mãe em sua infância.

DeHaan e sua atuação minimalista
Nessa construção do personagem, Dane DeHaan cria sua versão de James Dean beirando a perfeição. Com seus olhos cansados, às vezes tomados por gritantes olheiras, voz pausada e postura um tanto curvada, o ator transmite a tal insegurança do rapaz que parecia desconfiar do quão grande ele viria a se tornar e temia tamanho fardo a ser carregado, mesmo tendo desejado aquilo desde o seu primeiro momento em Nova York após ter deixado Indiana.

Em sua última cena, ao recitar o poema We must go home, do poeta James Whitcomb Riley, nascido na mesma Indiana do astro, ele observa as montanhas da janela de um avião a caminho de Los Angeles. Não percebendo ter sido a ida a Indiana junto a Stock sua última visita ao lar, James Dean nota mãe e filho nas poltronas ao lado da sua e os observa com ternura.

Demoraria, no entanto, poucos meses para ele, realmente, voltar para casa de forma triste e definitiva.  

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