sábado, 27 de maio de 2017

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(Des Nouvelles de la planète Mars, França, 2016) Direção:Dominik Moll. Com François Damiens, Vincent Macaigne, Veerie Baetens.


Por João Paulo Barreto

É do sufocamento oriundo da vida contemporânea que trata o mais recente longa de Dominik Moll. Mas não somente aquele advindo da comum sensação de insegurança por conta da falta de dinheiro, possibilidades sérias de desemprego, dificuldades de se conectar com a mente dos filhos adolescentes ou de questões pessoais relacionadas a um casamento falido. Aqui, os problemas são estes e um pouco mais. São os que surgem da cobrança feita a si mesmo por sucesso e realizações profissionais. São aqueles que torturam o homem quando ele percebe-se envelhecer e não cumprir com as imposições feitas a si mesmo e pela sociedade.

No caso de Phillippe Mars (Damiens), chegar aos 49 anos lhe traz uma diversidade de reflexões. Em seus momentos de fuga mental e sonhos, percebe-se no espaço, vestido de astronauta, leve a flutuar na gravidade zero, algo que denota bem sua vontade de escapar do peso de sua existência. Em sua consciência e pedidos de salvação, estão seus pais já falecidos, que parecem surgir em sua mente nos momentos em que mais precisa de conselhos ou de ajuda física, mesmo. Um exemplo claro da construção de um personagem cujas amarras dependentes dos pais refletem muito de uma geração cuja ligação com seus progenitores se estende durante mais tempo do que em outras épocas.

Mars prestes a ter sua cordialidade testada ao seu limite
É a história de um homem que aos poucos vai perdendo sua natureza conciliadora, sua postura voltada para o diálogo e para uma resolução pragmática de seus conflitos consigo e com os que os cercam. A meta do diretor e roteirista Moll, aqui, parece ser a de testar seu protagonista dentro de um esquema que busca encontrar seu ponto de ruptura. Aquele em que ele finalmente cede, mesmo que de forma justa e racional, e, também, quando se perde em um comportamento que flerta com a mesquinhez e com o perverso. De modo curioso, no entanto, ele ainda consegue demonstrar alguma tendência comportamental louvável, mesmo que estúpida em seu resultado quase fatal.

Essa não adaptação de Phillippe aos problemas oriundos de sua própria rotina chega a nos remeter a obras como Um Dia de Fúria, mas a diferença, aqui, é que qualquer simpatia que viemos a sentir pelo protagonista na sua conturbada trajetória fica para trás  quando o mesmo se deixa levar em uma atitude sádica. Conhecemos seu verdadeiro eu ali, e mesmo que ainda seja possível vê-lo agir de modo conciliatório e apaziguador, qualquer vestígio de carisma e sentimento por sua causa se perdem. Suas fugas mentais daquele dia a dia que parece querer sufocá-lo passam a ser vistas apenas como covardia, e até mesmo sua inércia diante do modo como todos parecem querer se aproveitar de sua boa vontade deixa de ser algo que revolte o espectador a seu favor, parecendo, agora, apenas a inércia de um mesquinho.

Ao observar sua trajetória durante todo aquele período e desfecho, porém, o que se nota é apenas uma descrição de um ser humano em suas limitações, idiossincrasias e imbecilidade. Talvez essa seja uma das poucas formas satisfatórias de se observar a obra de Moll.



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