segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Black Sabbath - The End of The End

(UK, 2017) Direção: Dick Carruthers. Com depoimentos de Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler. 


Por João Paulo Barreto

The End of the End, mescla de documentário e registro fílmico da última apresentação ao vivo do Black Sabbath, a banda que deu origem ao heavy metal, inicia com imagens de uma siderúrgica em Birmingham, Inglaterra, cidade onde Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward criaram o embrião do que seria o fenômeno base do hard rock.

O simbolismo destas imagens traz não somente uma rima visual para com o peso do som que o Black Sabbath popularizou durante décadas, mas, também, alude à carga emocional que o espectador e fã do bom Rock and Roll presenciará pelos próximos 120 minutos. Sim, neste aspecto, trata-se de um filme de peso. Mas não por pretender apelar para nostalgia ou lamentações em torno do término da banda. Nem por querer abordar o emocional nas falas de fãs acerca da importância do Sabbath para a vida de cada um deles. Através do depoimento dos seus integrantes, o  peso dramático do trabalho dirigido pelo experiente diretor de documentários musicais, Dick Carruthers, centra-se não na ideia de lamentar o fim, mas na celebração dos quarenta e nove anos de carreira e, mesmo após tantos excessos, na ainda atividade de Osbourne, Iommi e Butler.

Ozzy se diverte ao relembrar as loucuras dos tempos áureos 
O show em questão foi gravado em fevereiro desse ano, na cidade natal deles. Foi lá que, na segunda metade dos anos 1960, um garoto chamado John Michael, mas apelidado de Ozzy, afixou anúncios em bares demonstrando interesse em formar uma banda de focada em Rock e Blues. O interesse surgiu de Tony Iommi, que já conhecia o Ozzy da escola, mas ficou em dúvida se aquele moleque do colégio era o mesmo que agora queria iniciar um grupo musical. Começaram sob a alcunha de Earth, tocando Blues no Pokey Hole Blues Club, na cidade vizinha de Lichfield. Não tardaria muito para aquele grupo de Blues migrar para o Rock como Black Sabbath, nome de um dos filmes do diretor italiano Mario Bava, muito apreciado por Tony Iommi.

O documentário corta para os companheiros de longa data caminhando em direção ao seu último show, em Birmingham. Durante aqueles passos, ouvimos Tony comentar que se sente como se caminhasse em um corredor da morte. Muito pelo contrario, na verdade. Para alguém que conseguira, sem parte dos dedos da mão, se transformar em um dos mais influentes guitarristas do mundo, além de sobreviver a um linfoma tratado com quimioterapia durante as gravações e turnê do último disco, o Thirteen, lançado em 2013, aqueles passos em direção ao seu derradeiro concerto significa muito mais uma superação e vitória da vida, do que a caminhada de um condenado.

Ao nortear o peso do Heavy Metal trazido no quase meio século de estrada do Balck Sabbath, o Blues inicial da carreira do grupo funcionou como base. O guitarrista e bluesman baiano, Álvaro Assmar, pesquisador e profundo conhecedor da carreira do grupo confirma isso. “O Blues é a matéria prima da música pesada do Sabbath. Isso é perceptível desde o primeiro disco, em canções como Warning. Há um trecho em Warning que é um típico Blues padrão de 12 compassos. Quando ainda se chamava Earth, a banda tinha seu foco principal no Blues ”, explica Álvaro, que começou a ouvi-los em 1972, esteve no show deles no Rio de Janeiro em 2016 e assistiu bastante emocionado ao filme que simboliza o final do grupo. “O filme traz momentos que para um fã do Black Sabbath são muito impactantes. No meu caso, que os escuto já há 45 anos, confesso ter me emocionado, principalmente durante as apresentações de Snowblind e War Pigs”, admite o guitarrista, pai do Blues baiano.

O guitarrista Álvaro Assmar, profundo conhecedor do Black Sabbath
As duas faixas em questão, pilares da discografia do Sabbath, sendo a primeira um relato dos excessos que a banda teve com cocaína, e a segunda um hino do protesto antibélico, representam uma desmistificação da suposta áurea relacionada à magia maligna que o grupo possui. Durante o filme, os integrantes remanescente, Ozzy, Tony e Geezer (por questões pessoais e de saúde, Bill, o baterista original, foi substituído pelo eficiente Tommy Clufetos) explicam que tudo isso foi construído por conta de uma escolha da gravadora em colocar uma cruz invertida na contracapa do primeiro disco. A banda, ao perceber que isso atraia público, apenas seguiu no embalo. Em um episódio hilário, um grupo de adoradores portando velas acesas e trajando capas pretas acampou no corredor do hotel onde eles estavam hospedados durante uma turnê inicial. Para tentar afugentá-los de lá, a reação do grupo, que não contava com muitos seguranças, foi a de cantar “Parabéns para Você” e apagar as chamas, fato contado por Iommi entre risos dos dois outros parceiros. Um dos momentos simbólicos da celebração trazida pelo documentário.

Entre as execuções de riffs marcantes como os das duas músicas citadas, além das marcas registradas Iron Man e Paranoid, o show do Black Sabbath exibido no cinema traz para o fã momentos de pura catarse. Muito disso se deve à opção de apresentar uma montagem rápida e entrecortada pelos rostos ao mesmo tempo sorridentes, lacrimosos e alucinados dos felizardos que estavam presentes no estádio em Birmingham a testemunhar aquele momento histórico.

Ozzy em momento de catarse no show de fevereiro
“Essa é a característica mais marcante do Back Sabbath. A capacidade de Tony Iommi criar frases rítmicas ou riffs marcantes. São músicas que possuem uma finalidade de chegar ao grande público sem a necessidade de ter um guitarrista triturando um instrumento, tocando milhões de notas por segundo. Aqui, o que mais conta é criatividade e a sinceridade no ato de tocar”, afirma Álvaro Assmar ao lembrar do que, para ele, mais simboliza a banda inglesa. “Essa sinceridade, inclusive, juntamente com todos os percalços pelo que ele teve que passar na vida, é o que torna mais meritória a carreira de sucesso de Iommi e do Sabbath”, complementa Assmar.


O que fica ao final é a sensação de um trabalho bem feito. Um cumprimento de uma missão. Definindo essa labuta de 49 anos, Iommi afirma que se sente feliz por poder sair de cena em um momento programado por eles, sem permitir que acabem por se tornar convidados indesejados em na festa do Rock and Roll. Receita infalível para a eternidade. 

Vida longa ao Sabbath! 

A formação clássica acompanhada pelo baterista  Tommy Clufetos





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