quinta-feira, 17 de março de 2016

Visões do Passado

(Backtrack, EUA, 2015) Direção: Michael Petroni. Com Adrien Brody, Sam Neill, Robin McLeavy.



Por João Paulo Barreto

Trama de sustos fáceis e de manipulações da atividade cardíaca do público usando explosões sonoras para ampliar (ou até mesmo criar) momentos de tensão, Visões do Passado é o tipo de obra que gera uma pergunta na mente de um espectador mais atento: ainda há espaço para esse tipo de artifício?

Em tempos nos quais filmes como A Bruxa conseguem criar uma atmosfera de suspense horripilante através, em alguns momentos, da sugestão do terror e sem a necessidade explicita de manipular o som para incomodar os presentes na plateia, foi curioso antecipar, em Visões do Passado, cada uma das cenas em que uma nota sonora de impacto seria utilizada para criar esse efeito.

Claro, não sou ingênuo em achar que uma das marcas do cinema de terror e suspense seria, de repente, retirada de utilização. Afinal, criou diversos momentos antológicos no cinema e consolidou obras marcantes para várias gerações. Alguns dos filmes do Jason Voorhees, diversos trabalhos do Wes Craven, a lista é grande. É um artifício que sempre será utilizado, mas que, ao menos atualmente, representa uma falta de originalidade dos realizadores que baseiam os efeitos de seus filmes nesta opção.

Psiquiatras em sessão: Peter procura ajuda de colega para superar traumas

Em todo caso, o filme estrelado por Adrien Brody até consegue aproveitar bem sua atuação no papel de Peter, um psiquiatra e pai atormentado pela perda da filha pequena em um atropelamento. Talvez pela sua expressão eternamente melancólica, Brody convence neste tipo de papel. A partir de consultas em um consultório de um colega (Sam Neill em participação descartável) e da presença de uma suposta paciente mirim que o visita, ele começa a se deparar com lembranças de sua adolescência que podem explicar seus tormentos atuais.

Neste ponto, a trama se revela como uma investigação de um caso do passado (justificando, claro, seu título) e a ideia de personagens fantasmas que pensamos ser reais é mais uma vez utilizada. Dessa vez, sem a necessidade de um impacto surpresa para o público, uma vez que tal fato é revelado antes da metade do longa. Ou seja, sem spoilers aqui.

Um acontecimento trágico envolvendo o adolescente Peter em sua cidade natal o leva de volta ao lugar, a qual somos apresentados em flashbacks curiosos pela observação do quão diferente é o garoto escolhido para sua versão adolescente. Neste retorno, ele busca por paz interior ao precisar admitir a culpa em um acidente que acha ter causado. O momento em que ele a admite a uma policial cuja mãe morreu em tal acidente causa certo constrangimento pela expressão de alívio em seu rosto ao ouvir que o máximo que ele poderia ser acusado era de negligência.

Reencontro com o passado: sustos fáceis
Ora, é realmente necessário criar esse tipo de confronto emocional raso para um personagem que, apesar de não ser bem desenvolvido em sua trajetória, apresentaria um bom potencial caso esta fosse uma história não tão simplória? É subestimar demais a inteligência do espectador ao levá-lo a acreditar que aquela seria a resolução para tal arco dramático. 

Claro que, após isso, toda a verdade por trás do acidente que o traumatizou é revelada no melhor estilo episódio do Scooby Doo, com a descoberta do vilão por trás de tudo sendo feita, com a sua presença no local sendo revelada e, no caso deste filme, com a inserção sobrenatural sendo bem real e comprovada pelos outros sustos artificiais que seremos obrigados a ter.

Os filmes de Wes Anderson com Adrien Brody poderiam ser mais frequentes. Pelo menos ali, seu talento não é subutilizado.



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