sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Compramos um Zoológico

(We Bought a Zoo, EUA, 2011) Direção: Cameron Crowe. Com Matt Damon, Scarlett Johansson, Thomas Haden Church, Maggie Elizabeth Jones.





Assistir a um filme de Cameron Crowe costumava ser uma experiência sensorial. Desde sua estréia, com Digam o que Quiserem, estrelado por John Cusack, passando pela ode ao grunge Singles – Vida de Solteiro, até as obras máximas Jerry Maguire e Quase Famosos, os trabalhos do jornalista musical como diretor eram compostos por declarações sinceras à cultura pop somadas a excelentes histórias  embaladas por indefectíveis trilhas sonoras.  Até mesmo Elizabethtow, nos momentos road movie,  conseguia captar um pouco daquele positivismo de volta por cima perpetrado por Maguire.


Chega 2011 e estréia nos cinemas Compramos um Zoológico, tentativa de Crowe em adentrar no mundo dos filmes família. A história do jornalista desempregado e viúvo Benjamin Mee (Damon), que, após a perda da esposa, passa a cuidar dos dois filhos pequenos sozinho, possui até boas intenções, mas o resultado final fica bem aquém do esperado em um filme de Crowe. Sim, os elementos da cultura pop estão lá. O nome do adolescente filho de Mee é Dylan, numa referencia a (ops!) o cachorro da família; na trilha sonora temos Wilco, Temple of the Dog, e o próprio Dylan. A trilha original composta por Jónsi, vocalista o Sigur Rós, é de uma beleza única, conseguindo captar toda a beleza selvagem do lugar onde fica o Zoo. Mas todos esses itens parecem deslocados.


Mas o que há de errado com o filme? Inicialmente, o desconforto fica por conta do quão caricatos são os personagens. É curioso observar um homem, pai de dois filhos, que se recusa a ser demitido por achar que receber os benefícios será algo humilhante. Logo depois vemos esse mesmo homem enterrar suas economias em um Zoológico falido que, por sua vez, o levará a falência. Ao que parece, o único personagem que possui os pés no chão é o irmão contador de Mee, Duncan (Church) que dá os melhores conselhos econômicos para o caçula, mas é rechaçado pela cunhada mesmo depois de morta.


Os elementos que se tornaram a marca de Crowe, citados acima, como a utilização de inspiradas músicas na trilha sonora ainda se fazem presentes. No entanto, aparecem de forma forçada. Não há uma junção entre as imagens e enredo que vemos com as músicas que ele parece inserir no filme de forma a apenas demonstrar um bom gosto musical. Diferente de obras pop, como Elizabethtown e Vanilla Sky, esse Compramos um Zoológico carece justamente desse apelo pop que Crowe insiste em inserir na trilha, mas que não encontra reflexo na trama.


Sendo assim, resta contar os clichês que aparecem no decorrer dos longos 124 minutos de projeção, como o fato de que o Zoo ficar a 14 km do mercado mais próximo e Benjamin afirmar que não irá percorrer toda aquela distância para comprar manteiga apenas para, no segundo seguinte, já o vermos de volta com o saco de compras. Ou quando, após toda a reforma feita no Zoo, recebe-se a visita do fiscal que dará a licença do lugar e há um suspense barato sobre a possibilidade dele negá-la mesmo após não ter encontrado um único defeito no lugar. Ou, ainda, a cena em que os adolescentes se abraçam sob juras de amor em uma lastimável tentativa do diretor em cativar o público.


No mais, os pontos positivos ficam por conta da garotinha Maggie Elizabeth Jones, mais uma descoberta de Crowe, que parece ter um tino aguçado para revelar talentos infantis, e as impagáveis tiradas de Thomas Haden Church. "Você não precisa comprar um zoológico para agradar a Rosie. Ela só tem quatro anos. Um papel de parede com animais na tela do computador já é suficiente". Hilário!





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