quarta-feira, 4 de abril de 2012

Entrevista - Área Q


A ideia do “nós não estamos sozinhos no universo” já vem de longa data nos filmes hollywoodianos. Área Q, co-produção Brasil-EUA, que estreia em circuito nacional no dia 13 de abril, traz para a filmografia brasileira um tema não muito familiar para produções faladas em português (nesse caso, também em inglês): o da questão extraterrestre. O diretor Gerson Sanginitto e o ator Murilo Rosa vieram a Salvador para a divulgação do longa e puderam trazer suas impressões sobre esse gênero e sobre as questões pacifistas que o roteiro apresenta. Gerson, que já tem experiência em filmes de gênero, explicou suas impressões sobre essa abordagem espiritualista para o tema alienígena. Murilo, que interpreta um camponês que se vê como um escolhido em um misterioso plano, falou sobre suas escolhas no cinema em relação aos papéis interpretados na TV e em como seu perfil tipicamente brasileiro o ajuda a interpretar qualquer personagem. 

Confira o papo!

Gerson Sanginitto
A produção de filmes nacionais com temas voltados para ficção científica é ínfima. Na década passada, houve filmes como A Máquina, Acquária que até marcaram presença no imaginário cinéfilo do sci fi brasileiro (Acquária nem tanto, vamos combinar), mas é um pouco inédito nesse gênero uma abordagem voltada para a questão dos óvnis. O seu filme traz, inclusive, referências a Arquivo X, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, do Spielberg, Contato, do Robert Zemeckis. Você, quando criou o roteiro junto com a Julia Camara, visou inovar a filmografia brasileira com essa mescla entre sci fi e espiritualidade?
Gerson Sanginitto - Antes de responder eu queria aproveitar pra dar o crédito para a Julia, uma vez que meu nome consta lá apenas porque eu escrevi um pouco. Mas o crédito é todo dela. Falando da ficção, eu cresci influenciado pelos filmes do Spielberg. Posso afirmar que o gênero da ficção científica é o que eu mais gosto. E, claro, há esse lado meu, esse lado da espiritualidade que eu acredito. É uma filosofia que eu adoto para meu dia a dia. Essa conduta do espiritualismo. Então, eu tentei levar até o final do filme essa visão dualista entre ciência e fé. Ciência e paranormalidade. Tentando apresentar soluções para o que eu considero a mesma coisa. Então, isso vai depender muito de quem assiste ao filme. Das suas próprias experiências. Quem está assistindo poderá dizer que aquilo é um alienígena. Outros podem afirmar que aquilo é um ser iluminado, um espírito, poderá relacionar com alguma religião, entende? Mas, claro, sem forçar a barra. Esse é o meu objetivo principal. Ainda mais porque há uma linha bem tênue entre uma coisa crível e o ridículo caso a coisa não seja bem executada. Mas eu acho que a gente acertou na mão (risos). Mas isso, claro, vocês quem vão dizer.

Você já tem o The Morgue no seu currículo, que é um filme de terror.
Sim, pois é. E é inclusive um roteiro que entra nessa parte paranormal.

Exato. Era esse o ponto que eu queria citar. Você tem essa relação direta com o cinema de gênero, ou podemos encarar como uma experimentação?
É, eu acho que posso dizer que tenho, sim. É uma coisa que me satisfaz muito entrar nesse universo, explorar isso. Eu gosto disso. Essa é uma pergunta muito inteligente. The Morgue traz um pouco disso, mesmo, sabe? E eu pretendo continuar trabalhando com cinema de gênero. Mas, claro, não me tornar um diretor exclusivo desse tipo de temática, mas, sim, continuar com trabalhos nessa linha.


Você foi produtor associado de As Mães de Chico Xavier. Pegando essa ideia que você citou agora a pouco em relacionar fé com paranormalidade e ideias extraterrestres, pode-se dizer que sua experiência na história do Chico e sua espiritualidade refletiram em Área Q?
Olha, eu preciso dizer que eu faria qualquer coisa, absolutamente qualquer coisa pelo Chico Xavier. Para mim, ele foi um dos maiores humanistas, uma dos maiores seres humanos desse planeta. Então, se falassem assim: “Olha, você vai segurar o cabo ali, você vai ser o boom man naquela cena”, eu toparia (risos). Então, quando eu fui convidado pelo Luis Eduardo (Girão, produtor de As Mães...) para participar de alguma forma, para mim foi um prazer. Então, posso lhe dizer que, com certeza, houve essa relação. Chico Xavier, para mim, é uma pessoa muito importante.

O nome dele, inclusive, é até citado no filme ao lado do de pessoas como Martin Luther King, Madre Teresa.
Exato. São pessoas que sempre me agradaram porque são seres de convicção que viveram e morreram por uma causa. Isso eu posso dizer que é o ápice da nobreza em uma pessoa e do que você pode contribuir para o seu próximo.

Falando de próximos projetos, e o Comander and Chief, como está a produção?
O filme já foi finalizado. Antes de vir aqui para o Brasil divulgar o Área Q, eu estava negociando distribuição lá nos Estados Unidos. No momento houve uma pausa. Quando eu voltar para lá, continua o processo de distribuição nos cinemas americanos e, espero, brasileiros. O filme é uma paródia com o George W. Bush, uma brincadeira política. Acho que os brasileiros vão se identificar.


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Murilo Rosa

Murilo, tanto em Aparecida quanto em Área Q, há um choque de fé entre os personagens que você interpreta. No primeiro, vemos um agnóstico tendo que confrontar sua própria fé para encontrar um equilíbrio. No segundo, um homem humilde colocado em uma situação que ele jamais imaginou se enxergar. Você vê relações entre os dois?
Murilo Rosa - Em Aparecida é justamente isso. A história de um cara agnóstico que é transformado. Já em Área Q, não. O personagem é um camponês, um cara que vive no campo com a mulher e o filho e, de repente, ele é o escolhido. Ele é uma pessoa que, como outras, serão escolhidas. O filme acaba por deixar uma mensagem clara: se você não fizer alguma coisa urgente pelo seu planeta, alguém vai ter que fazer. Para mim, é uma mensagem interessante porque, bom, o fato é que a gente está destruindo o planeta. Essa é a verdade. Eu acho que o roteiro encontrou uma forma interessante de alertar as pessoas. Claro que a discussão da fé está ali. A questão do ”Você acredita nisso? Sim? Não?”, sabe? Outra questão é ideia de que se esse planeta pudesse ser habitado por pessoas como Gandhi, Chico Xavier, Madre Teresa, seria algo melhor.



Em seus últimos filmes, você fez personagens que fogem um pouco da imagem de galã global. Em Como Esquecer você interpretou o Hugo, que era um personagem gay. Já em Orquestra de Meninos, vimos um maestro nordestino sem muito glamour. Em Aparecida, um homem atormentado e amargo. Curioso que nesses dois últimos, eu acabo vendo uma imagem humilde, bem vinculada ao nordeste.
Eu acho que eu tenho um tipo brasileiro. Eu poderia fazer qualquer personagem. Então, como na televisão eu fiz vários protagonistas, digamos, mocinhos, heróis românticos, então, no cinema, eu tento quebrar isso. Mas, claro, não é isso que importa. O importante é o personagem. Em Orquestra era um maestro, mas era, de certa forma, um cara injustiçado. Em Aparecida, era um cara ateu, mas com um comportamento mais voltado para a vilania. Em Como esquecer, era um personagem gay, simpático, alegre.  Em Área Q, um cara bom, mas cheio de mistérios. Essa é a experimentação.



Para você é importante fugir dessa imagem de galã global buscando novos desafios no cinema?
Eu não diria que seja importante fugir da imagem global. Não é isso. Mas eu quero ter a oportunidade fazer vários papéis, de fazer vários personagens. Eu fiz, agora, um filme chamado Vazio Coração, que está sendo montado nesse momento, onde eu faço um cantor. Eu cantei para uma plateia de trinta mil pessoas em um show de Uberlândia! (risos) Então, eu acho que isso que é bacana. Essa experiência é que conta. O desafio do ator não é só com as suas falas, mas, sim, com suas inseguranças, seus medos. Com aquilo que você não é capaz de fazer. E eu quero brincar em vários lugares (risos).

Clique aqui para ler a crítica do filme.



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