segunda-feira, 25 de junho de 2012

E aí, Comeu?

(Brasil, 2012) Direção: Felipe Joffily. Com Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira, Emílio Orciollo Neto, Dira Paes, Seu Jorge, Laura Neiva, Juliana Schalch, Tainá Muller



E ai, Comeu? é quase (só quase) um filme da fase inicial da carreira de Woody Allen. Claro, muitas das sutilezas de cunho sexual dos roteiros de Allen em obras como Tudo o que você queria saber sobre sexo e tinha medo de perguntar e A Última Noite de Boris Grushenko não são encontradas nas linhas escritas por Marcelo Rubens Paiva para a peça E aí, Comeu?, que mantém uma verve mais escrachada e sexista da fase Poderosa Afrodite. Não que isso seja um defeito. Porém, é inegável que as velhas questões da guerra dos sexos já levantadas na obra do diretor americano tenham influenciado o escritor brasileiro.

O fato é que o texto de Paiva pode, até certo ponto, chocar puritanos e fiscais do politicamente correto. No entanto, não é com essa vibe que se deve encarar a sessão. Ao enquadrar três amigos em uma mesa de bar, o filme, dirigido por Felipe Joffily (que já tinha focado em um tema semelhante, só que pela óptica feminina em Muita Calma Nessa Hora, de 2010) traduz o que vários homens conversam entre um copo de cerveja e outro. Se você é homem, sabe do que eu estou falando. Conversa em boteco onde só tem esse bando que prefere pensar com outra cabeça é assim. Não adianta negar.

Desse brinde boa coisa não vai sair: os amigos no bar de sempre
Agora, claro, o filme de Joffily também foca em outras ideias. A de que cafajeste também ama. A de que homem casado também se preocupa com sua vida sexual e a de que aquele que levou um pé na bunda sempre está sofrendo bem mais do que aparenta seu perfil de “tô nem aí”. Ou seja, o filme não visa colocar as mulheres apenas como objetos (mesmo que, em alguns momentos, ele o faça), mas, sim, como seres que os opostos tentam alcançar de modo sublime e, quase sempre, sem sucesso aparente.

Os três amigos citados são Fernando (Mazzeo), o recém- chutado pela esposa que saiu de casa e o deixou por um publicitário espalhafatoso de nome Volney; o casado e com fortes suspeitas de que está sendo traído, Honório (Palmeira) e o solteiro convicto e mulherengo Fonsinho (Orciollo), que apesar de manter aquela fachada de pegador independente, não esconde suas frustrações como escritor e como solitário. É através das pérolas proferidas por esses três infelizes e alcoólatras (todo dia no bar é complicado...) que se percebe o quanto relacionamentos são coisas difíceis de se entender.

Honório, casado e pai de três filhas pequenas, já não possui uma vida intima com a esposa (Paes). A relação de ambos é galgada na indiferença (ou no fingir da indiferença). Uma das melhores cenas do longa é a de uma pergunta feita por uma de suas filhas pequenas sobre o que é tesão.  Fernando, deixado pela esposa na companhia da coleção de sapatos desta, ainda dorme no sofá mesmo sabendo que já não mais precisa. Enquanto é tentado pela vizinha ninfeta, Gabi (Laura Neiva, cada vez mais se adequando ao tipo de papel), ele ainda se lamenta pela perda. Já Fonsinho é um caso a parte: apaixonado por uma garota de programa, o viciado em palavras cruzadas é o de situação mais complexa dos três, uma vez que só se relaciona com casadas e está sempre em bacanais.
"Com 17, se for consentido, pode. Eu vi no google": a ninfeta de Laura Neiva.

Nesse conjunto de personagens, temos momentos engraçados como as falas protagonizadas por Seu Jorge, que vive um garçom apelidado de... Seu Jorge; as teorias do porque da traição explicadas por Bruno Mazzeo; as brigas entre a mesa ocupada pelo trio e a de um grupo de garotas e os exemplos de sexo oral que Honório e Fonsinho explicam (estes seguindo a já batida fórmula de colocar o personagem para conversar com o espectador).

Lembrando outros bons momentos da cinematografia nacional em comédias, como Pequeno Dicionário Amoroso, E aí, Comeu? diverte por apresentar personagens comuns e situações que qualquer pessoa pode viver. Além de ser um ótimo momento para um comediante como Bruno Mazzeo, que precisava de um bom texto para seu ótimo timing cômico após o sofrível Cilada.com

Se esse texto puder ser escrito por Marcelo Rubens Paiva, melhor ainda.  


Nenhum comentário:

Postar um comentário