segunda-feira, 18 de julho de 2016

Entrevista: Lionel Baier (diretor de La Vanité)

O diretor suíço Lionel Baier
Lionel Baier traz em seu novo filme uma brilhante análise acerca da morte e da decisão pessoal de cada um quanto ao momento de partir. Eutanásia parece não ser um tema muito fácil de se lidar. No entanto, em La Vanité, filme exibido em Cannes no ano passado e no Festival Varilux desse ano, o jovem diretor consegue criar, a partir de um trio de personagens, uma obra rica em significado, repleta de camadas em sua proposta e que, apesar de flertar com o humor, não se entrega de modo gratuito às piadas como meio de fuga para a abordagem pesada de seu drama. É uma obra que mescla bem esse equilíbrio, trazendo para o espectador uma reflexão genuína acerca de um tema tão complexo. Sobre as escolhas de nuances de comédia, xenofobia na Europa e o a escolha exata dos seus protagonistas, Patrick Lapp (que tem seu segundo trabalho com o diretor) e Carmen Maura (musa de Almodóvar em diversos filmes), o Película Virtual conversou o com diretor. O papo você confere abaixo.

Por João Paulo Barreto

Em seu filme, há uma questão curiosa sobre a morte e o fato de que o momento de partir deve ser uma escolha individual e pessoal : "Eu escolho o momento em que quero partir ". No entanto, aqui, apesar de a questão complexa, há um humor sutil, uma leveza na sua abordagem. Poderia explicar um pouco sobre essa opção ?

Ernst Lubitsch disse algo assim: “quando a época é muito difícil, é o momento perfeito para dirigir uma comédia”. O humor é a forma mais poderosa de inteligência. É a maneira perfeita para expressar sentimentos e emoções complexas. Eu não queria adicionar o drama ao drama.

Em tempos em que a xenofobia é vista de modo tão evidente na Europa, há uma questão que seu filme aborda de forma bem sutil: a relação entre os estrangeiros que estão ajudando uns aos outros. Quando vemos uma mulher espanhola, um rapaz eslavo e um idoso France sem uma cooperação mútua, é inevitável não pensar sobre a situação real que atualmente passa o continente. Foi intencional inserir esta abordagem no roteiro?

Sim, porque é uma realidade em Lausanne, cidade onde o filme foi rodado. Eu cresci entre os estrangeiros e isso me ajudou a construir minha identidade. Na minha cidade natal, mais de 50 % da população vem do exterior, como a minha família também. Eu tenho algumas raízes polonesas, inclusive. É importante dizer que esta sociedade mista é uma oportunidade de crescimento para a Europa, não é um perigo.


E a pintura de Holbein na parede do quarto, com elementos que falam acerca da divisão da Europa, corrobora essa ideia de unidade tão necessária ao período atual.

Com certeza!

Há, também , a questão sobre a depressão e tristeza do protagonista, que desiste da luta 
pela vida e acaba preso às suas lembranças do passado . No entanto, apesar da gravidade do tema, o seu filme tende a nos faz sentir muito otimistas sobre David Miller e sua vida. No final, tudo o que ele realmente queria era morrer em paz, sem sentir qualquer dor. Isso nos traz um sentimento muito confortável sobre sua última trajetória.

Isso é devido ao talento dos atores. Eles dão o tom exato para o filme. Patrick Lapp e Carmem Maura sabem como lidar com o humor e com a tristeza em uma mesma cena.

Nós podemos dizer que se trata da história de um homem em busca de redenção que coloca nisso um disfarce para sua própria morte?

Redenção não é a palavra certa. Quando David Miller chegou ao hotel, ele só esperava poder morrer do jeito que ele queria. Mas os acontecimentos da noite ganharam vida dentro daquele quarto sombrio. É como se a vida estivesse lutando contra ele. Em seguida, Miller descobriu que ainda possuia curiosidade para com os outros presentes. Isso é não estar completamente morto.

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