quinta-feira, 7 de abril de 2016

Festival de Cinema Baiano - FECIBA 2016

O Película Virtual conversou com o cineasta Edson Bastos, produtor e um dos curadores do Festival de Cinema Baiano - FECIBA. O resultado você confere na matéria abaixo. Boa leitura!


Amanhã, dia 08 de abril, tem início na cidade de Juazeiro mais um Festival do Cinema Baiano (FECIBA), que esse ano chega à sua sexta edição apresentando uma variedade de temas nas Mostras tanto competitiva quanto nas demais escolhas que ilustram muito bem a produção baiana de curtas metragens, bem como exemplares do que vem sendo produzido fora do estado.

Entrocamento, de Maria Carolina e Igor Souza
Em uma edição itinerante, o festival acontecerá entre os dias 08 e 10 desse mês na cidade de Juazeiro; em seguida, será a vez de Feira de Santana, entre os dias 13 e 15 de maio, receber as mostras e, fechando as exibições e apresentando os premiados, Itabuna encerrará a mostra 2016 entre os dias 9 e 11 de junho.

Cordilheira de Amora II, de Jamile Fortunato
Com uma curadoria que prima pela variedade de estilos e técnicas nos curtas e longas metragens selecionados, o FECIBA 2016 trará para cidades que dificilmente receberiam estes lançamentos comerciais recentes, obras como Travessia, de João Gabriel; Que Horas Ela Volta?, de Ana Muylaert e Para Além dos Seios, de Adriano Big. Para o idealizador do festival e um dos seus curadores, o diretor e produtor Edson Bastos, o critério de seleção das obras visou justamente diminuir essa carência de distribuição fora das capitais. “[A Escolha] parte da necessidade de fazer com que os filmes sejam vistos e debatidos e do desejo de que a população tenha acesso ao que é produzido”, explica Edson. “Certamente se não fosse por um festival como o FECIBA, muitas pessoas não teriam acesso e não saberiam da existência de muitos dos filmes que estão sendo produzidos dentro do nosso estado”, complementa o idealizador do festival em entrevista para o blog (Confira restante do papo logo abaixo).

Sísifo do Vale, de George Neri é um dos curtas selecionados
Dez curtas metragens baianos participam da Mostra Competitiva 2016, que será dividida em dois programas de cinco filmes cada. Na primeira grade, Cordilheira de Amor II, de Jamile Fortunato; Órun Àiye: A Criação do Mundo, de Jamile Coelho e Cintia Maria; Neandertais, de Marcus Curvelo; Entrocamento, de Maria Carolina e Igor Souza e, fechando, Retomada, de Leon Sampaio.

Salitre, de Lara Belov
Na segunda grade da Mostra Competitiva, os curtas que compõem a programação são: Salitre, de Lara Belov; Sísifo do Vale, de George Varanese; Ana, de Camila Camila; IFÁ, de Leo França e, fechando, Sandrine, de Elen Linth e Leandro Rodrigues. Uma seleção que prima pela variedade de temas e de estilos de cinema, conseguindo alcançar um ótimo apanhado da produção recente na Bahia.


A animação Órun Àiye: A Criaçao do Mundo
Sobre as escolhas, a equipe de curadoria composta pelos cineastas Clarissa Rebouças e Henrique Filho, e pelo comunicólogo e especialista em audiovisual, Victor Aziz, definiu bem a missão de selecionar dez filmes de um universo tão amplo de inscritos.

Retomada, de Leon Sampaio
“Um ponto da curadoria que a gente buscou ressaltar foram filmes com temas que rompessem limites sociais e políticos. Barreiras que não podemos aceitar mais. É preciso dar voz, ouvir e conhecer a história pela perspectiva negra, indígena e da mulher. É preciso ter outros representes como protagonistas dos filmes”, explica Clarissa Rebouças. Sobre a labuta da seleção, a cineasta afirma que “foi bem difícil fazer a curadoria. Neste ano tivemos uma ótima qualidade de filmes inscritos, de diversos lugares e fechar em 10 filmes realmente foi uma tarefa árdua”, completou.


Neandertais, de Marcus Curvelo 
Para o diretor Henrique Filho, o processo de curadoria demanda uma relação com o contexto do período atual. “Estamos em uma época de muita discussão sobre os direitos humanos e inclusão social, então tivemos bastante atenção com o discurso dos filmes. Tivemos uma ótima qualidade técnica e de conteúdo no resultado da curadoria. Bastante coerente com o tema proposto no evento. E estamos muito felizes por ter uma ótima representação do cinema baiano nesta edição do FECIBA”, explicou.

Ana, de Camila Camila
As dificuldades na escolha, bem como a missão de ter uma variedade de temas na seleção foram elementos destacados por Victor Aziz. “Escolher é algo muito difícil, mas buscamos enxergar alem, ultrapassar o limite imposto. Selecionamos no que nos foi apresentado o que há de diverso e com qualidade, não só nas temáticas abordadas, quanto na técnica. Feliz por ver o documentário ter espaço, o experimental revelar talento no interior e a animação mostrar sua força. Optamos pelo cinema baiano sem limites e sem fronteiras”, afirma.
               
IFÁ, de Leo França

Sandrine, de Elen Linth e Leandro Rodrigues
Ainda nesta edição, haverá uma homenagem ao pioneiro do teatro e cinema baianos, primeiro ator negro a se formar pela escola de teatro da UFBA e símbolo da luta pela resistência, Mário Gusmão. Na ocasião, será exibido o documentário Mário Gusmão - O Anjo Negro da Bahia, que conta com a direção de Elson Rosário.

Cena do documentário abordando a vida de Mário Gusmão
Para Edson Bastos, a escolha de Gusmão como homenageado na Mostra Retrospectiva acerta pelo fato da memória do ator baiano gerar um debate. “Mário Gusmão nos leva a um debate amplo, ao mesmo tempo em que rememoramos a sua história e tomamos seu exemplo de resistência”, afirma o produtor do festival. “Quando começamos a debater sobre o homenageado, Victor Aziz, diretor do Núproart [e curador do FECIBA], sugeriu o nome de Gusmão e concordamos de imediato”, relembra Edson. “Num tempo em que questionamos sobre o protagonismo do negro na cena audiovisual, Mário Gusmão, por ser pioneiro, é referência para esse debate. E precisamos debater, pois mesmo nosso estado sendo tão diverso, com sua capital sendo a cidade com maior número de descendentes de africanos no mundo, é a sétima no ranking em homicídios contra negros em todo o país”, enfatiza.

Além da exibição do seu filme, Elson Rosário ministrará uma oficina de produção de elenco. Outras duas oficinas na área do audiovisual serão realizadas, entre elas a de Produção de Curta-Metragem, com a roteirista e diretora Paula Gomes, bem como a de Direção de Fotografia, com o diretor de fotografia, Jerônimo Soffer.

Outras mostras do festival vão apresentar trabalhos voltados para o público infantojuvenil, além de outros longas recentes, como os documentários A Loucura entre Nós, de Fernanda Fontes Vareille e Faz-se Filmes, de Violeta Martinez.

Outro ponto alto do evento será a mesa “A Linha de Fronteira se Rompeu” (Wally Salomão) que, nas três cidades, contará com a presença de diversos representantes do audiovisual nacional.

O Película Virtual conversou com o idealizador do festival, produtor e um dos seus curadores, Edson Bastos, acerca do projeto, do desafio de realizá-lo em três cidades, além da política de editais atualmente realizada na Bahia e no Brasil. Confira a continuação do papo logo abaixo. 

O diretor, produtor, curador e um dos idealizadores do FECIBA, Edson Bastos
Passando por três cidades do interior da Bahia, o FECIBA ganha um alcance bem maior de publico, podendo ir até onde está o espectador. Esse é um formato que você acredita que deveria ser adotado por outros festivais? A logística dificulta muito?

Edson Bastos -
Ainda não sabemos o resultado. Só no final para avaliarmos. Mas já percebemos dificuldades e limitações em realizar o projeto, agora em 03 cidades, com o mesmo orçamento dos outros anos. Acredito que a itinerância é algo importante para possibilitar acesso, sobretudo em lugares carentes de recursos e o FECIBA, por ter o papel de apresentar o que o nosso estado produz, precisa estar cada vez mais próximo dos espectadores, da população.

Juntamente com o Panorama Internacional Coisa de Cinema, o FECIBA tem conseguindo manter uma regularidade das suas edições, principalmente por conta do incentivo de editais. No entanto, outros importantes eventos, como a tradicional Jornada de Cinema da Bahia e o Festival Cinco Minutos, não aconteceram em 2015. Qual sua opinião em relação à política de editais oriunda tanto do governo da Bahia quanto do MinC?

Edson Bastos - É uma política importante, na medida em que antes, precisávamos ir ao balcão, pedir ao secretário, ou ter amizade com deputado para conseguir realizar um projeto. Os editais possibilitam a concorrência entre os produtores, que precisam cada vez mais se aperfeiçoar. Mas ao mesmo tempo, é uma política ainda excludente pois, aprova 50 projetos e exclui 250. Sem contar a concentração de recursos na Capital e Região Metropolitana (85%), uma vez que no último Edital Setorial de Audiovisual de 2013, o último aberto pelo Fundo de Cultura, apenas 15% foi direcionado para projetos do interior da Bahia. A SECULT-BA não lança editais setoriais desde 2013 (o resultado do edital saiu em 2014), estamos há dois anos sem os Editais Setoriais. Não fosse pelo Fundo Setorial do Audiovisual, do Governo Federal, as produtoras estariam paradas. Mas hoje temos, aproximadamente, 15 a 20 longas e séries de ficção, documentais e de animação, sendo produzidos nos próximos meses. É preciso haver uma continuidade, os editais precisam ser garantidos anualmente, pois são eles que têm possibilitado a realização de diversos projetos em nosso estado, têm gerado emprego, renda, além de estar mostrando uma diversidade de imagens nunca antes vista. Em contraponto é preciso pensar em outras políticas que agreguem mais, que diminuam as diferenças territoriais, que descentralizem mais recursos.

Outros eventos, como o itinerante Cine Avuadora, do CUAL, o Cineclube Walter da Silveira, em Salvador, o Cine Odé, em Ilhéus, têm conseguido manter viva a importante questão do “discutir cinema”. Você acredita na possibilidade de haver incentivos para que mais importantes eventos como estes possam acontecer?

Edson Bastos -
Sim, existem incentivos em diversas instâncias, privado, público, sobretudo para o debate, a formação, muito mais que a produção. Todos esses eventos, assim como o FECIBA, foram fruto do Edital de Agitação Cultural, promovido pela SECULT-BA. Eles pegaram todo o recurso de caixa do Fundo, 15 milhões, e investiram exclusivamente nesse edital. Esperamos que neste ano de 2016, além de serem abertos os editais Setoriais de Audiovisual, que seja aberto novamente o Edital de Agitação Cultural, com o dobro do valor investido.

Qual sua expectativa para o FECIBA 2016?

Edson Bastos
- Que as fronteiras sejam rompidas em todos os aspectos. Desde a perspectiva de público, à formação de mão-de-obra, aos temas dialogados, nas reflexões proporcionadas e nas ações a serem tomadas após essa edição.

Mais informações sobre o FECIBA 2016 você encontra no site do festival: www.feciba.com.br

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