terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Brooklyn

(EUA, 2015) Direção: John Crowley. Com Saoirse Ronan, Emory Cohen, Domhnall Gleeson, Jim Broadbent.


Por João Paulo Barreto

Escrito por Nick Hornby (autor de livros como Alta Fidelidade, Um Grande Garoto e Febre de Bola) e baseado na obra de Colm Tóibin, Brooklyn apresenta uma história simples, mas que consegue construir uma relação direta com o espectador através de sua capacidade de criar situações que muitos se identificariam. Dentre elas, a saudade de casa, ou, no bom inglês, homesickness. Em determinado momento, um personagem define bem o sentimento: “Assim como qualquer doença (sickness), ela passa com o tempo”. E é disso que a obra trata. Mas, claro, nada tão simplório. O que o roteiro de Hornby aborda com maior fluidez é o processo de readaptação das pessoas perante a mudança de horizontes.

Aqui, a jovem Eilis (Ronan) deixa a Irlanda no começo dos anos 1950 para tentar a vida em Nova York, mais precisamente no popular bairro do Brooklin, onde uma grande comunidade de imigrantes, sobretudo irlandeses, vive. Deixando uma irmã e sua mãe no velho continente, ela parte em uma extenuante viagem a navio para a América, durante a qual as primeiras provações daquela mudança de ares se apresentam.

Eilis segue viagem para a América a bordo da sua primeira provação 
É uma obra estritamente feminina, que consegue abordar bem não somente as dificuldades de um imigrante em um país estrangeiro que, apesar de compartilhar a mesma língua, tem em seus hábitos e costumes toda uma diferença cultural. O roteiro de Hornby apresenta bem essas dificuldades de gênero encontradas pela personagem. Seja na adaptação a um mercado de trabalho restrito (a cena em que vemos Eilis como a única mulher em um curso para escriturários, por exemplo) ou no ambiente de sua pensão voltada para garotas, o longa se coloca de modo pertinente em tais questões, apesar de simplificar algumas das ambições das personagens secundárias ao colocá-las apenas como mulheres em busca de um marido, tornando-as, assim, bidimensionais de uma maneira gritante.

Outro ponto, inclusive, está no fato do roteiro preferir se ater a uma idealização de mundo no qual o mal parece não fazer parte. As boas intenções de todos ao redor da protagonista incomoda um pouco, diferente de Educação, filme de 2009 também escrito por Hornby e que aborda o universo feminino de modo mais realista, amargo e menos poético.

Eilis: processo de transição ao deixar o mundo que conhece em prol de uma nova vida
Mas há outros fatores que validam essa visão preferida em Brooklyn. Dentre elas, o fato de que a história se passa em uma época de grande prosperidade para os Estados Unidos. Na década em questão, após o fim da Segunda Guerra, um boom econômico e industrial se deu no país americano, tornando aquele período extremamente prolífico. Uma era de ouro, por assim dizer. Algo que é muito bem inserido através dos tons na fotografia de Yves Bélanger, que salientam a ambientação nostálgica pretendida pelo longa.

Saoirse Ronan, com seus olhos de safira, cativa o espectador com uma tristeza que gradativamente vai se transformando em segurança, mostrando justamente a premissa do filme como um conto sobre adaptação e fuga da inércia.


Tirando a ingenuidade idealizada, está tudo em seu lugar.

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