quinta-feira, 14 de abril de 2016

Mais Forte que Bombas

(Louder Than Bombs, França, Dinamarca, 2015) Direção: Joachim Trier. Com Gabriel Byrne, Jesse Eisenberg, Isabelle Huppert, Devin Druid.


Por João Paulo Barreto

Mais Forte que Bombas tem um inicio precioso, trazendo na imagem frágil de um recém-nascido a segurar com sua pequenina mão a gigantesca ponta do dedo de seu pai. Essa fragilidade física daquele novo ser humano a habitar o mundo encontra paralelo justamente na fragilidade emocional de seu progenitor, Jonah (Eisenberg), alguém cujo sucesso intelectual e acadêmico vai de encontro à insegurança que parece dominar sua atual fase.

Na vida do rapaz, uma família em pedaços por conta da morte precoce de sua mãe, Isabelle, uma conceituada fotógrafa em um brutal acidente de carro. A perda desestabiliza de modo mais evidente não ele, mas seu irmão adolescente, Conrad, e seu pai, o professor secundarista Gene (Byrne), que tenta se aproximar do caçula, cada vez mais distante em seu próprio mundo, mesmo passados alguns anos desde a tragédia.

Mais Forte que Bombas é uma brilhante análise acerca do processo de luto e como essa convalescência afeta de modo diferente cada individuo. Em seu filme, o diretor e co-roteirista Joachim Trier traz para o espectador uma análise não somente de algo trágico e que muitos podem não ter presenciado em suas vidas, mas, sim, um modo de nos fazer refletir sobre o envelhecer, sobre as fases de nossas trajetórias que parecemos não conseguir enfrentar, mas que, ainda assim, teremos. 

Jonah e Conrad: diferentes modos de passar pelo luto
Em seus personagens, pessoas que, mesmo em faixas etárias distintas, encontram-se perdidas em suas próprias autocobranças, inseguranças e dores particulares. Curioso observar Jonah, tão seguro de si, doutor, professor universitário, aconselhando seu pai acerca de questões familiares, mas sem ao menos conseguir estar ao lado da esposa e do filho com semanas de vida. Entrega-se a casinhos mal resolvidos do passado e empurra seus problemas para um futuro que ele espera não chegar, mas que, obviamente, é inevitável. 

Seu pai, Gene, um ex-ator que desistiu da carreira artística a pedido da falecida esposa e que, agora, se dedica a ensinar adolescentes, parece não conseguir se desvencilhar do próprio luto por saber de segredos escusos de sua mulher. Seu relacionamento atual é mantido em segredo, uma vez que namora a professora do seu próprio filho. Na realidade, sua dependência perene à morta recai diretamente em sua preocupação perante seu filho mais jovem, Conrad, o mais afetado pela perda.

Em um período terrível como a puberdade, o garoto segue em sua introspecção e autoisolamento. Seu arco é o mais significativo de todo o longa. Abordando situações identificáveis por todos que passaram por tal fase, vemos o rapaz se apaixonar pela garota popular; o vemos conseguir extravasar algum traço do que parece sufocá-lo em textos um tanto desconexos, mas elogiados por seu irmão mais velho; o vemos encontrar-se mais presente em um mundo virtual de vídeo game do que na sua própria dolorosa realidade. No entanto, mesmo tendo todos esses clichês do período, seu modo de encará-lo acaba sendo distinto por conta de toda dor sufocada em sua perda.

Gene e sua tentativa de decifrar e se aproximar do filho caçula 
O longa tem no uso das imagens captadas por Isabelle em suas passagens por conflitos bélicos, uma comparação da fragilidade da vida em aspectos e realidades diferentes. Se no olhar atento de profissional ela conseguia enxergar momentos que poucos seriam capazes, sua atenção pessoal para o próprio cotidiano familiar se perdia confusa e desesperançosa. 

O diretor Joachim Trier consegue construir um trabalho que, apesar de certo tom melancólico, torna-se um exercício de reflexão acerca não somente da perda e do luto, como já disse antes, mas do modo como isso invariavelmente ficará para traz. Nos diversos simbolismos de suas cenas, há uma mensagem acerca da aceitação, da calma e da necessidade do tempo ao tempo.

Não há finais felizes. Ao menos, não sempre. As cicatrizes surgem e ficarão ali para serem observadas diante do espelho. Como um lembrete de nossas trajetórias. Do mesmo modo que Isabelle fazia observando suas marcas de ferimentos pelo corpo ao perseguir as melhores fotos.



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