quinta-feira, 2 de abril de 2015

Golpe Duplo

(Focus, EUA, 2015) Direção: Glen Ficarra, John Requa. Com Will Smith, Margot Robbie, Rodrigo Santoro. 



Por João Paulo Barreto

Já é bem conhecida a simpatia que o público nutre por anti-heróis. Ladrões charmosos que tiram a grana de ricaços inescrupulosos ou de instituições que enxergam apenas o próprio lucro enquanto castigam o povo ao seu redor. Já vimos isso em diversos filmes. Seja nas versões de Robin Hood em live action ou animações, seja no grupo de malandros charmosos chefiado por George Clooney e por Frank Sinatra nas versões para o cinema de Onze homens e um segredo. Torcíamos pelo bando de pilantras mesmo sabendo que o que eles faziam era contra a lei. A simpatia chegava a ser irrestrita.

Por que, então, fui incapaz de sentir o mesmo pelo grupo liderado por Will Smith em Golpe Duplo? Talvez porque, dessa vez, o aspecto honra fique um pouco distante desses meliantes. Ok, ok, temos Margot Robbie ainda abusando da beleza apresentada em O Lobo de Wall Street; temos o membro engraçado e surreal da gangue, aqui representado por Farhad (Adrian Martinez) e suas indiretas deslocadas que, uma pena, não encontram resultado positivo na total falta de timing cômico de Robbie. E, claro, o próprio Will Smith, que tenta ao máximo emular o charme vigarista de Clooney, mas sem sucesso.

A linda Jess (Margot Robbie) e o sem-noção Farhad (Adrian Martinez)
Não que a culpa esteja na interpretação dele. Will Smith até convence como chefe do bando e organizador dos golpes. Mas o problema está justamente nestes golpes. Qual a simpatia que o público pode ter quando a identificação do mesmo está nas pobres vitimas daquelas pessoas? Como torcer por um grupo de ladrões que rouba lentes de câmeras de turistas, relógios, carteiras, clona cartões de crédito, adultera caixas eletrônicos em busca de dados de correntistas? Como gostar de um bando de personagens que não se importam em destruir economias de trabalhadores ou lesar bens materiais de pessoas que se esforçaram, suaram e ralaram muito para conseguir itens de seu conforto?

Diferente de outros filmes desse tipo, cujo roteiro fazia questão de salientar o quão mau caráter eram as supostas vitimas do bando (Andy Garcia e Pacino na trilogia Ocean, por exemplo), em Golpe Duplo, a suposta vitima a seguir esse conceito surge com um certo atraso. Já do meio para o fim é que o tal “vilão” interpretado por Rodrigo Santoro aparece na trama, que sai inexplicavelmente de Nova Orleans para Buenos Aires, deixando de lado os pequenos golpes e partindo para algo mais ambicioso envolvendo combustível de carros de Fórmula 1. Agora, no entanto, já é um pouco tarde demais. Qualquer simpatia que poderíamos começar a nutrir pelo protagonista, dessa vez apaixonado e com ciuminhos, já caiu por terra ao nos colocarmos sempre no lugar das vítimas de seus golpes. Eu, por exemplo, imaginei a dor de cabeça de ter que procurar refazer documentos, pedir estorno em financeiras e bancos e lutar para ter meu nome limpo na praça novamente.

Santoro esbanjando charme como o suposto vilão, Garriga
Curioso. Durante o filme, uma cena que não parava de surgir em minha mente era uma em que John Dillinger, em Inimigos Público, no momento em que assalta um banco, permite que um idoso que deu azar de estar na agência naquele momento guarde o dinheiro que acabara de receber.

Viram? Não é tão difícil assim conseguir a simpatia do espectador, caros. 

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