sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Bel Ami - O Sedutor


(Bel Ami, Ing., Fran., Ita., 2012) Direção: Declan Donnellan e Nick Ormerod. Com Robert Pattinson, Uma Thurman, Christina Ricci, Kristin Scott Thomas, Colm Meaney, Philip Glenister.

Por João Paulo Barreto

Assistir Bel Ami em tempos nos quais a vida pessoal de um casal como Robert Pattinson e Kristen Stewart está tão em evidência é, de fato, um esforço para fugir das piadas prontas por trás do subtítulo nacional que o filme estrelado pelo Edward de Crepúsculo possui. Deixando-as de lado, o que temos é uma história interessante e uma atuação do rapaz que, apesar de claramente limitado, se esforça bem para passar os dramas de um alpinista social na Paris do final do século XIX. E consegue. 

Adaptado da obra de Guy de Maupassant, lançada em 1885 (e já levada ao cinema por Willi Forst, em 1939), Bel Ami conta a história de George Duroy (Pattinson), um ex-combatente que guerreava na África servindo o exército francês. Após ser dispensado das forças armadas, passa a viver na boêmia parisiense em busca de uma chance para conseguir trabalho ou dinheiro fácil. O que vier primeiro. Quando reencontra Charles Forestier (Glenister), seu antigo companheiro de forças armadas, recebe um convite para jantar na casa do bem sucedido homem. A partir desse reencontro e inserção na vida burguesa, George é chamado para escrever uma coluna sobre a guerra no jornal onde Forestier trabalha. Com essa oportunidade, ele pretende usar seu único talento, a sedução, para galgar espaço na cadeia social onde foi inserido.

George antes do começo de sua escalada social 
Dono de uma personalidade que consegue cativar desde crianças (e é justamente uma a primeira pessoa a chamá-lo de Bel Ami – ou belo amigo, um bom disfarce para sua falsidade) até as mulheres a sua volta, George tende a se encantar com o mundo pelo qual foi absorvido. Se na primeira cena já é perceptível em seu olhar a ambição ao receber o dinheiro doado pelo ex-companheiro de fronte, o modo como ele o usa corrobora a primeira impressão que se tem de sua vida sem rédeas.  

George é quase um personagem dos irmãos Coen, só que sem o lado idiota: alguém que sai de um erro para outro sem nunca perceber como vai se afundando a cada tentativa de se dar bem. Nesse contexto, sua atitude irresponsável de se envolver justamente com a esposa de seu empregador, a bela Madeleine Forestier (Uma Thurman, em um papel cujo status de mulher proibida remete direto a Pulp Fiction), já se apresenta como o primeiro passo para sua derrocada. No entanto, diferente das outras mulheres com quem o jovem se envolve, Madeleine também enxerga à frente e encara envolvimentos amorosos (incluindo casamentos) unicamente como modos de manter um padrão de vida.

Nesse ambiente repleto de traições e interesses escondidos, há ainda Clotilde (Ricci), outro caso amoroso de George e Virginie Rousset (Thomas), essa verdadeiramente vitima da manipulação do jovem. Esposa de Mousier Rousset (Colm Meaney), o dono do jornal onde, com a ajuda de Madeleine, George finge escrever suas crônicas de guerra, Virginie se vê apaixonada pelo rapaz, que a enxerga somente como um modo de manter seu trabalho.

Madeleine e George: relação baseada em interesses mútuos e no sexo como moeda
Criando um ambiente de interesses políticos cujos textos escritos por George visam influenciar na manutenção do exército francês em solo africano, o roteiro de Rachel Bennette é eficiente ao permitir que exista um equilíbrio entre a trama política do longa e seus aspectos psicológicos na vida do rapaz. É interessante perceber como a mescla das duas tramas, a do sedutor do título, e a que aborda toda a conspiração na qual George se envolveu, é trazida de modo natural pela história. Não há uma exploração gratuita da beleza do personagem em prol do sexo. Nesse sentido, o filme acerta a tornar até mesmo suas aventuras sexuais como algo puramente material e de interesses secundários. E uma sequência envolvendo Pattinson e Thurman ilustra isso de forma ideal.

Assim, quando gradativamente o desespero passa a fazer parte da expressão de George, o espectador nota como o trabalho dos diretores Declan Donnellan e Nick Ormerod acerta ao enquadrá-lo em constantes closes, onde o suor e os olhares desconfiados são destacados. É no olhar de aflição do jovem que se nota a sua percepção tardia: a de que o mundo material que ele sempre almejou pode não ser o mais indicado para sua felicidade.

E o modo como o filme se encerra em mais um ciclo que se repete na vida de enganos de George (e em mais um close da sua expressão nervosa que, sem sucesso, tenta esconder o desespero), deixa para o espectador a previsão de que, muito em breve, aquela sequência de tentativas e erros chegará ao fim. 

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